sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Para ser discípulo

Levar a nossa própria cruz implica dizer: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Não existe caminho de discipulado sem perdão ao mundo, à vida, a todos. A marca do discípulo é perdão, porque o discípulo é aquele que diz: “eu fui perdoado de tudo para sempre”. Por isso ele não é um credor incompassivo do próximo. Como foi perdoado de tudo, ele perdoa tudo.
Para ser discípulo, o indivíduo tem de ter o mesmo olhar de Jesus, que consegue ver o potencial da Graça onde ninguém consegue enxergar. No moribundo e no sentenciado ao lado existe um filho do paraíso. Ninguém é discípulo se não tiver um olhar da expectativa eterna projetada como bem sobre todo homem, em qualquer lugar, e ainda que seja na mais inconcebível de todas as circunstancias, se os olhos dele se abrirem, a Graça nele está instalada e o discípulo confessa como o Mestre: Hoje mesmo você estará no paraíso, meu irmão. Discípulo tem essa mania de Jesus de sair condenando às pessoas à Salvação e à Graça.
Para ser discípulo, o indivíduo tem de carregar dentro de si a consciência da sua própria humanidade. Ele tem sede, ele tem fragilidades, ele não pode brincar com os elementos das necessidades essenciais, do mesmo modo que ele não aceita falsificações. Jesus disse: “Tenho sede”. Quando deram o que não era água. Ele não quis beber, ainda que fosse um entorpecente para diminuir a dor. Isso é consciência da humanidade; ao mesmo tempo em que existe o desejo de não fazer fugas e nem rotas evasivas do que seja a realidade da vida e da condição humana.
Discípulo é aquele que consegue ver o potencial de amor, de familiaridade, de aproximação, de solidariedade, de conciliação que transcende a toda consanguinidade.
Ser discípulo é saber que na experiência com Deus ele pode atravessar o vale do sentimento mais agudo de abandono e desesperança e mesmo assim sua consciência tem de crescer e evoluir, a ponto dele dizer: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Ou seja, é a possibilidade de tratar do seu desamparo com total intimidade com Deus, porque é desamparo mais acolhido. Porque o “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” é a fé que cresce para servir a Deus por nada, para ser de Deus no desamparo. O discípulo carrega no coração esse desejo de ser de Deus. Tem de crescer dentro dele essa capacidade de adorar a Deus ante o absurdo.
Ao olhar para a Cruz de Jesus, aprendemos que ser discípulo é crer que “Está consumado!” ´. É declarar que está consumado e viver para o que já está consumado em nosso favor.

O brado foi: Está pago. Tetelestai. Está pago. Está consumado.

Então Paulo diz que o motor dessa disposição é a consciência produzida por essa gratidão em fé. Está pago. Eu podia ser o criminoso ao lado. Não tenho de ir ao purgatório, não preciso passar por um vestibular introdutório, nem fazer um concurso público celestial. Nada disso. O homem da cruz do lado de lá disse; “Tu nem ao menos temes a Deus estando sob igual sentença?”. Aquele que não blasfema contra Jesus passou da cruz de cá para a cruz do meio: crucificado com Cristo instantaneamente.
O Pai já não o via ali. O Pai já o via crucificado com Seu Filho. Quando Jesus disse: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”, é óbvio, Jesus está indo para o paraíso. Quem está em Jesus está indo com Ele. Está consumado. Tudo o que é de Jesus agora é meu. Jesus morreu por tudo o que me matava. E o que me matava não era a morte física. O que me matava e mata a qualquer um é a morte espiritual, que decorre da alienação com Deus e de um espírito que nunca é emulado pelo Espírito de Deus, porque nunca se abre para o Espírito de Deus, e muitas vezes nunca se abre quando o Espírito de Deus o esbofeteia. Está consumado. O discípulo sabe que, porque está tudo pago, ele é um produto do Amor de Deus; e se isso não gerar em nós a motivação para O seguir, nada mais gerará. Porque qualquer outra motivação não gerará. Sem amor, nada aproveitará.

É desse “Está consumado” que nasce a gratidão absoluta que nos coloca na motivação do amor que obedece ao mandamento.
Caio Fábio. O Caminho do discípulo I.

Nenhum comentário: