terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ovelhas precisam de pastores

Os líderes estão mais ocupados e preocupados com estruturas eclesiásticas, crescimento estatístico, ferramentas tecnológicas, funcionalidade. São realidades que não podemos negar, mas que não se constituem na vocação...


Nossas igrejas hoje refletem mais as estruturas eficientes do mercado e menos a glória da imagem de Deus em Cristo. No entanto, as ovelhas de Jesus clamam cada vez mais por pastores, pastores com tempo e compaixão para ouvir o clamor de suas almas cansadas, aflitas, confusas em busca de orientação, maturidade, transformação.


Outra mudança na vocação pastoral é a introdução da figura do terapeuta, que ganhou popularidade na segunda metade do século XX, depois que Freud a introduziu no final do século XIX...


O que precisa ficar claro é que pastor e psicólogo são realidades completamente diferentes...


Quando alguém vai até o pastor, não está procurando um psicólogo, mas um pastor. É grande a frustração quando, em vez de penetrar nos labirintos da alma humana e conduzir ovelhas a Cristo no caminho da comunhão e da reconciliação, o pastor envereda por conversas, perguntas e preocupações que nenhuma relação têm com a oração, com Deus e com a vida outorgada por Ele.




Ricardo Barbosa de Sousa no Prefácio de Eugene Peterson. 'A Vocação espiritual do pastor'.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Oração

As cinco orações que marcam o começo da vida de Jesus no evangelho de Lucas e as três histórias de oração que instam nossa participação ativa nessas orações encontram ligações narrativas no livro de Atos, no qual lemos a história da formação da comunidade de Jesus. Da mesma forma como foi instituída como linguagem básica para os participantes da obra do Espírito na concepção, gestação e nascimento de Jesus, a oração é instituída aqui como linguagem básica da comunidade que vem a existir pelo Espírito e, depois, continua a orar com naturalidade, ousadia e honestidade como aprendeu a fazer por meio das histórias de Jesus.



E está orando. A linguagem comum da comunidade é a oração (At2:42). Na história da comunidade de Jesus que Lucas continua a contar, a oração aparece tanto de forma implícita quanto explícita: quando Pedro e João foram libertos da prisão e voltaram para relatar o que lhes havia ocorrido, os irmãos da comunidade, “unânimes, levantaram a voz a Deus”, (At4:24-31); quando o trabalho de atender às necessidades das pessoas tornou-se excessivo, os doze reuniram a comunidade e nomearam diáconos para esse trabalho, de modo que eles próprios pudessem se “(consagrar) à oração”, cuidando para que ela não fosse diluída ou dissipada, (6:1-6).


Enquanto era apedrejado até a morte, Estevão orou – a oração era a linguagem mais natural e profunda em seu interior (7:59); em Damasco, cego e sem comer a três dias, Paulo orou pedindo ajuda, que lhe foi dada por meio de Ananias e do Espírito Santo (9:36-43); toda ação na história magnífica e decisiva de Cornélio deu-se no contexto da oração (10:2,9,30-31); a primeira linha de defesa da comunidade contra as tramas assassinas do rei Herodes Agripa I foi a oração (14:23); quando a decisão do Concílio de Jerusalém foi transmitida, o seu conteúdo – fruto de muitas orações – foi descrito na expressão maravilhosa: “Pareceu bem ao Espírito e a nós” (15:28).


Quando Paulo e Silas chegaram a Filipos, procuraram “um lugar de oração” (16:13,16); quando foram presos, os dois missionários transformaram o cárcere filipense imediatamente numa capela de oração, onde “oravam e cantavam louvores a Deus” (16:25); a despedida triste de Paulo dos presbíteros efésios terminou quando, “ajoelhando-se, (Paulo) orou com todos eles” (20:36); depois de passar sete dias em Tiro, Lucas, que na época estava viajando com Paulo, relata que, “ajoelhados na praia, oramos” (21:5); quando Paulo contou, mais uma vez, a história de sua conversão a uma multidão de judeus hostis em Jerusalém, mencionou que Jesus lhe falou “enquanto orava no templo” (22:17).


Em sua última ida a Roma, uma viagem repleta de tempestades, pouco antes de o navio naufragar, Paulo dirigiu-se à tripulação dizendo-lhes o que havia acontecido enquanto ele orava na noite anterior – uma mensagem de consolo e segurança divinos (27:23-26); na manhã do naufrágio, Paulo, falando aos passageiros e à tripulação, 276 pessoas ao todo, rogou que comessem e “deu graças a Deus” (27:35-36); e, em Malta, a ilha do naufrágio, quando ficou sabendo que o pai de um homem que fez amizade com eles estava enfermo e à beira da morte, Paulo, “orando, impôs-lhe as mãos, e curou” (28:8).


A freqüência e a persistência da linguagem da oração na comunidade de Jesus ficam evidentes ao longo de toda a narrativa; no entanto, não é inoportuna. Não somos instados a orar nem recebemos exemplos de oração. Trata-se apenas do modo como a comunidade usa a linguagem. Lucas não comenta esse fato como incomum ou forçado. Pelo contrário: a oração é a linguagem natural e espontânea da comunidade.

Eugene H. Peterson. A maldição do Cristo genérico.