segunda-feira, 30 de julho de 2012

A escolha entre o clube e o caminho

Há dois modelos básicos de igreja. Há os chamados para fora... e os chamados para dentro. Igreja, de acordo com Jesus, é comunhão de dois ou três... em Seu Nome... e em qualquer lugar... E mais: podem ser quaisquer dois ou três... e não apenas um certo tipo de dois ou três... conforme os manequins da religião.
Igreja, de acordo com Jesus, é algo que acontece como encontro com Deus, com o próximo e com a vida... no ‘caminho’ do Caminho. Prova disso é que o tema igreja aparece no Evangelho quando Jesus e Seus discípulos estavam no ‘caminho’ para Cesareia de Filipe: um lugar ‘pagão’ naqueles dias. Assim, tem-se o tema igreja tratado no ‘caminho’ e em direção à ‘paganidade’ do mundo.
Para Jesus o lugar onde melhor e mais propriamente se deve buscar o discípulo é nas portas do inferno, no meio do mundo! Não posso conceber, lendo o Evangelho, que Jesus sonhasse com aquilo que depois nós chamamos de ‘igreja’. Digo isto porque tanto não vejo Jesus tentando criar uma comunidade fixa e fechada, como também não percebo em Seu espírito qualquer interesse nesse tipo de reclusão comunitária.
No Evangelho o que existe em supremacia é a Palavra, que tanto estava encarnada em Jesus como era o centro de Sua ação. No Evangelho nenhuma igreja teria espaço, posto que não acompanharia o ritmo do reino e de seu caminhar hebreu e dinâmico. Jesus escolhe doze para ensinar... não para que eles fiquem juntos. Ao contrário, a ordem final é para ir... Enfim... são treinado a espalhar sementes, a salgar, a levar amor, a caminhar em bondade, e a sobreviver com dignidade no caminho, com todos os seus perigos e possibilidade (Lc 10).
No caminho há de tudo. Jesus é o Caminho em movimento nos caminhos da existência. E Seus discípulos são acompanhantes sem hierarquia entre eles. No mais... as multidões..., às quais Jesus organiza apenas uma vez, e isto a fim de multiplicar pães. De resto... elas vem e vão... ficam ou não... voltam ou nunca mais aparecem... gostam ou se escandalizam... maravilham-se ou acham duro o discurso... Mas Jesus nada faz para mudar isto. Ele apenas segue e ensina a Palavra, enquanto cura os que encontra.
Ao contrário..., vemos Jesus dificultando as coisas muitas vezes, outras mandando o cara para casa, outras dizendo que era preciso deixar tudo, outras convidando a quem não quer ir...; ou mesmo perguntando: Vocês querem ir embora?
Não! Jesus não pretendia que Seus discípulos fossem mais irmãos uns dos outros do que de todos os homens. Não! Jesus não esperava que o sal da terra se confinasse a quatro dignas e geladas paredes de maldade. Não! Jesus não deseja tirar ninguém do mundo, da vida, da sociedade, da terra... mas apenas deseja que sejamos livres do mal. Não! Jesus não disse “Eu sou o Clube, a Doutrina e a Igreja; e ninguém vem ao Pai se não por Mim”.
Assim, na igreja dos chamados para fora, caminha-se e encontra-se com o irmão de fé e também com o próximo que não tem fé... e a todos se trata com amor e simplicidade. Em Jesus não há qualquer tentativa de criar um ambiente protegido e de reclusão; e nem tampouco a intenção de criar uma democracia espiritual, na qual a média dos pensamentos seja a lei relacional.
Em Jesus o discípulo é apenas um homem que ganhou o entendimento do Reino e vive como seu cidadão, não numa ‘comunidade paralela’, mas no mundo real. Na igreja de Jesus cada um diz se é ou não é...; e ninguém tem o poder de dizer diferente... Afinal, por que a parábola do Joio e do Trigo não teria valor na ‘igreja’? Na igreja de Jesus... pode-se ir e vir... entrar e sair... e sempre encontrar pastagem.
O outro modo de ser igreja é, todavia, aquele que prevaleceu na história. Nele as pessoas são chamadas para dentro, para deixar o mundo, para só considerarem ‘irmãos’ os membros do ‘clube santo’, e a não buscarem relacionamentos fora de tal ambiente. A comunidade de Jerusalém tentou viver assim e adoeceu! Claro! Quem fica sadio vivendo num mundo tão uniforme e clonado? Quem fica sadio não conhecendo a variedade da condição humana? Quem fica sadio se apenas existe numa pequena câmara de repetições humanas viciadas? Sim, quem pode preservar um mínimo de identidade vivendo em tais circunstâncias? Nesse sapatinho de japonesa?
É obvio que os discípulos precisam se reunir..., e juntos devem ter prazer em aprender a Palavra e crescer em fé e ajuda mutua. Todavia, tal ajuntamento é apenas uma estação do caminho, não o seu projeto; é um oásis, não o objetivo da jornada; é um tempo, não é o tempo todo; é uma ajuda, não é a vida.
De minha parte quero apenas ver os discípulos de Jesus crescendo em entendimento e vida com Deus, em amizade e respeito uns para com os outros, em saúde relacional na vida, e com liberdade de escolha, conforme a consciência de cada um. O ‘ajuntamento’ que chamamos igreja deve ser apenas esse encontro, essa estação, esse lugar de bom animo e adoração.
O ideal é que tais encontros gerem amizade clara e livre, e que pela amizade as pessoas se ajudem; mas não apenas em razão de um certo espírito maçônico-comunitário, conforme se vê... ou porque se deu alguma contribuição financeira no lugar. A verdadeira igreja não tem sócios... Tem apenas gente boa de Deus... e que se reúne e ajuda a manter a tudo aquilo que promove a Palavra na Terra.

A escolha que se tem que fazer é essa: ou se quer uma ‘comunidade’ que existe em função de si mesma, e para dentro; ou se tem um ‘caminho de discípulos’, e que se encontram, mas que não fazem do encontro a razão de ser da vida. A meu ver, no dia em que prevalecer o modelo do ‘caminho’, conforme Jesus no Evangelho, a vida vai arrebentar em flores e frutos entre nós e no mundo à nossa volta; e as pessoas serão sempre muito mais humanas, descomplicadas e sadias...
Caio Fábio

terça-feira, 24 de julho de 2012

Toda a graça é concedida pela fé

Se fôssemos entrar num acordo a respeito da palavra “fé”, descobriríamos que toda a graça que Deus dá aos homens é concedida pela fé. A fé é tão essencial, que
Deus não concederá graça por nenhum outro motivo. Por que muitas pessoas parecem ser muito obedientes e dispostas a fazer o bem, mas não recebem muito da graça divina? Precisamos observar que, no plano de redenção traçado por Deus, existem quatro princípios básicos:

1 – A obra de Cristo. O primeiro passo é termos a redenção consumada por Cristo. Por meio da morte e da ressurreição, Jesus efetuou a obra de redenção por nós.

2 – A Palavra de Deus. Por Sua Palavra, Deus nos diz o que fez por nós, homens. A Palavra de Deus divulga as boas novas concernentes à obra consumada por Cristo.

3 – Os homens crêem na Palavra de Deus. Cremos na Palavra de Deus e não na de Cristo. A obra de Jesus satisfez o coração de Deus, pois Ele realizou o que Deus havia planejado. Confiamos na obra de Cristo, mas cremos na Palavra de Deus, porquanto, sem ela, não podemos colocar nossa confiança na obra de Cristo. Sem a Palavra de Deus, não temos conhecimento da obra de Cristo. Por isso, crer na Palavra de Deus é confiar na obra de Cristo.

4 – O Espírito Santo opera, nos crentes, a obra consumada de Cristo. Quando a Bíblia menciona o Espírito Santo, enfatiza a comunhão do Espírito, pois é Ele quem canaliza a obra consumada por Cristo até nós e nos conduz à verdade divina. Verdade é a realidade, ou seja, realidade espiritual. A concepção bíblica de verdade é dividida em duas partes:
 (a) a verdade aponta para Cristo e para o que Ele realizou, pois diz Ele: “Eu Sou a Verdade”, (Jo14:6);
(b) a verdade aponta para a palavra de Deus, pois Cristo também declara: “a Tua (de Deus) Palavra é a Verdade”, (17:17).
O Espírito Santo é o Espírito da Verdade. É Ele quem faz com que entremos na presença de Cristo e participemos de tudo que Cristo realizou por nós. Além disso, é Ele quem torna a Palavra de Deus verdadeira em nossa vida.

Sendo este o plano de redenção traçado por Deus, ninguém pode receber nada sem fé. Embora Cristo tenha consumado todas as coisas, e a Palavra de Deus tenha testificado disso, o Espírito Santo nada poderá fazer, e nós não receberemos nada se não crermos.

Watchman. Nee

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O som da tentativa

C.S. Lewis escreveu certa vez que “Parece que Deus não faz por Ele mesmo nada que pode delegar às suas criaturas. Ele nos ordena a fazer devagar e desajeitadamente aquilo que poderia fazer perfeitamente num piscar de olhos”. Não existe ilustração maior deste princípio do que a igreja de Jesus Cristo, à qual Deus delegou a tarefa de encarnar a presença de Deus no mundo. Todos os nossos esforços são exemplos dessa delegação divina.
Todo pai e mãe conhece um pouco o risco de delegar, com sua alegria e sofrimento. A criança que toma seus primeiros passos segura, solta a mão, em seguida cai, depois luta para levantar-se e tenta outra vez. Ninguém descobriu outra maneira de aprender a andar.
Sim, a igreja falha em sua missão e comete sérios erros exatamente porque é composta de seres humanos que sempre carecem da glória de Deus. É o risco que Deus correu. Aquele que vem à igreja esperando encontrar perfeição não entende que o casamento é o início, não o fim, da luta por fazer o amor funcionar, todo cristão precisa aprender que a igreja é apenas um começo.
Certa vez o compositor igor Stravinski escreveu uma peça musical que continha um trecho muito difícil para violino. Depois de diversas semanas de ensaio o solista procurou Stravinski e disse que não conseguia tocar. Tinha se esforçado ao máximo mas era um trecho difícil demais, até mesmo impossível de tocar. Stravinski respondeu: “Eu entendo isso. Mas o que procuro é o som de alguém que esteja tentando tocá-lo”. quem sabe algo semelhante é o que Deus tinha em mente com a igreja.
Lembro-me de uma ilustração de Eric Palmer, um pastor que defendia a igreja contra os críticos que diziam ser ela cheia de hipócritas, de fracassos e incapazes de viver conforme os altos padrões do Novo Testamento. Palmer, que naquela época vivia na Califórnia, escolheu deliberadamente uma comunidade por sua falta de sofisticação cultural.
“Quando a orquestra do Colégio de Milpitas tenta tocar a Nona sinfonia de Beethoven o resultado é horroroso”, disse Palmer. “Eu não me surpreenderia se a apresentação o velho Ludwig virar no seu túmulo apesar de ser surdo”. Pode ser que você pergunte: Por que então tentar? Por que infligir sobre aqueles pobres jovens o terrível fardo de tentar produzir o que tinha em mente o imortal Beethoven? Nem a grande orquestra sinfônica de Chicago consegue atingir tal perfeição.
Minha resposta é a seguinte: quando a orquestra do Colégio de Milpitas tocar, dará a algumas pessoas no auditório o seu único encontro com a grande Nona Sinfonia de Beethoven. Longe da perfeição, contudo será a única forma em que ouvirão a mensagem de Beethoven”.
Penso na analogia de Eric Palmer sempre que começo a me encolher de vergonha num culto. Embora, talvez, nunca alcancemos o que o compositor tinha em mente, não existe outra maneira de se ouvir sons sobre a Terra.


Philip Yancey

Oração

As cinco orações que marcam o começo da vida de Jesus no evangelho de Lucas e as três histórias de oração que instam nossa participação ativa nessas orações encontram ligações narrativas no livro de Atos, no qual lemos a história da formação da comunidade de Jesus. Da mesma forma como foi instituída como linguagem básica para os participantes da obra do Espírito na concepção, gestação e nascimento de Jesus, a oração é instituída aqui como linguagem básica da comunidade que vem a existir pelo Espírito e, depois, continua a orar com naturalidade, ousadia e honestidade como aprendeu a fazer por meio das histórias de Jesus.

E está orando. A linguagem comum da comunidade é a oração (At2:42). Na história da comunidade de Jesus que Lucas continua a contar, a oração aparece tanto de forma implícita quanto explícita: quando Pedro e João foram libertos da prisão e voltaram para relatar o que lhes havia ocorrido, os irmãos da comunidade, “unânimes, levantaram a voz a Deus”, (At4:24-31); quando o trabalho de atender às necessidades das pessoas tornou-se excessivo, os doze reuniram a comunidade e nomearam diáconos para esse trabalho, de modo que eles próprios pudessem se “(consagrar) à oração”, cuidando para que ela não fosse diluída ou dissipada, (6:1-6).
Enquanto era apedrejado até a morte, Estevão orou – a oração era a linguagem mais natural e profunda em seu interior (7:59); em Damasco, cego e sem comer a três dias, Paulo orou pedindo ajuda, que lhe foi dada por meio de Ananias e do Espírito Santo (9:36-43); toda ação na história magnífica e decisiva de Cornélio deu-se no contexto da oração (10:2,9,30-31); a primeira linha de defesa da comunidade contra as tramas assassinas do rei Herodes Agripa I foi a oração (14:23); quando a decisão do Concílio de Jerusalém foi transmitida, o seu conteúdo – fruto de muitas orações – foi descrito na expressão maravilhosa: “Pareceu bem ao Espírito e a nós” (15:28).
Quando Paulo e Silas chegaram a Filipos, procuraram “um lugar de oração” (16:13,16); quando foram presos, os dois missionários transformaram o cárcere filipense imediatamente numa capela de oração, onde “oravam e cantavam louvores a Deus” (16:25); a despedida triste de Paulo dos presbíteros efésios terminou quando, “ajoelhando-se, (Paulo) orou com todos eles” (20:36); depois de passar sete dias em Tiro, Lucas, que na época estava viajando com Paulo, relata que, “ajoelhados na praia, oramos” (21:5); quando Paulo contou, mais uma vez, a história de sua conversão a uma multidão de judeus hostis em Jerusalém, mencionou que Jesus lhe falou “enquanto orava no templo” (22:17).
Em sua última ida a Roma, uma viagem repleta de tempestades, pouco antes de o navio naufragar, Paulo dirigiu-se à tripulação dizendo-lhes o que havia acontecido enquanto ele orava na noite anterior – uma mensagem de consolo e segurança divinos (27:23-26); na manhã do naufrágio, Paulo, falando aos passageiros e à tripulação, 276 pessoas ao todo, rogou que comessem e “deu graças a Deus” (27:35-36); e, em Malta, a ilha do naufrágio, quando ficou sabendo que o pai de um homem que fez amizade com eles estava enfermo e à beira da morte, Paulo, “orando, impôs-lhe as mãos, e curou” (28:8).
A freqüência e a persistência da linguagem da oração na comunidade de Jesus ficam evidentes ao longo de toda a narrativa; no entanto, não é inoportuna. Não somos instados a orar nem recebemos exemplos de oração. Trata-se apenas do modo como a comunidade usa a linguagem. Lucas não comenta esse fato como incomum ou forçado. Pelo contrário: a oração é a linguagem natural e espontânea da comunidade.
Eugene H. Peterson.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O cristianismo é difícil ou fácil?

A vida cristã é diferente: é mais difícil e é mais fácil. Cristo diz: “Quero tudo o que é seu. Não quero uma parte do seu tempo, uma parte de seu dinheiro e uma parte do seu trabalho: quero você. Não vim para atormentar o seu ser natural, vim para matá-lo. as meias-medidas não Me bastam. Não quero cortar o ramo aqui e ali; quero abater a árvore inteira. Não quero raspar, revestir ou obturar o dente; quero arrancá-lo. Entregue-me todo o seu ser natural, não só os desejos que lhe parecem maus, mas também os que se afiguram inocentes – o aparato inteiro. Em lugar dele, dar-lhe-ei um ser novo. Na verdade, dar-lhe-ei a Mim mesmo: o que é Meu se tornará seu”.
Isso é mais difícil e mais fácil do que aquilo que todos nós tentamos fazer. Acho que você já percebeu o próprio Cristo às vezes descreve a via cristã como algo muito difícil. Diz: “Tome a sua cruz” – em outras palavras, prepare-se para ser espancado num campo de concentração. Mas, um minuto depois, diz: “Meu jugo é suave e Meu fardo é leve”. Ele de fato quis dizer as duas coisas, e, se fizermos um pouquinho de esforço, veremos porque as duas são verdadeiras.
Qualquer professor lhe dirá que o aluno mais preguiçoso da classe é aquele que, no fim, tem de trabalhar mais. O que eles querem dizer é o seguinte: se você der a dois meninos um exercício de geometria para resolver, por exemplo, o menino mais bem disposto procurará entendê-lo. O preguiçoso tentará aprendê-lo de cor, pois é isso que, naquele momento, exige menos esforço. Seis meses depois, porém, quando estiverem ambos se preparando para um exame, o menino preguiçoso estará penando horas a fio para estudar coisas que o outro compreende em poucos minutos, e das quais até gosta. Com o tempo, o preguiçoso tem de trabalhar mais. Vamos dar outro exemplo. Numa batalha ou numa escalada de montanha, muitas vezes há uma manobra que exige coragem; mas é ela também que, no final, constitui o movimento mais seguro. Se você optar por outro curso de ação, ver-se-á horas depois num perigo muito maior. O caminho do covarde é também o caminho mais perigoso.
Assim é a nossa vida aqui. A coisa que lhe dá horror, que lhe parece quase impossível, é entregar todo o seu ser – todos os seus desejos e precauções – a Cristo. Mas isso é muito mais fácil que aquilo que todos nós tentamos fazer. Pois o que cada um tenta fazer é continuar sendo aquilo que chama de “ele mesmo”, é continuar tendo a felicidade pessoal como grande objetivo na vida e ao mesmo tempo ser “bom”.
As Palavras d’Ele nunca foram vagas e idealistas. Quando disse “Sede perfeitos”, Ele estava falando sério. Queria dizer que temos de fazer o tratamento completo. Não é fácil: mas a solução de meio-termo pela qual ansiamos é muito mais difícil – na verdade, impossível. Pode ser difícil para um ovo transformar-se numa ave; mas seria muitíssimo mais difícil aprender a voar sem deixar de ser ovo. Atualmente, nós somos como ovos. O problema é que ninguém pode continuar sendo um simples ovo para sempre. Ou o pássaro quebra a casca ou o ovo gora.

 C.S. Lewis, “Cristianismo puro e simples”

sábado, 7 de julho de 2012

Eu não trocaria de lugar com os discípulos...

“(A Deus) aprouve revelar Seu Filho em mim”, Gl 1:16.

Ainda que pudesse, eu não trocaria de lugar com os discípulos, nem com aqueles que estavam no Monte da Transfiguração. O Cristo com quem conviveram estava limitado pelo tempo e espaço. Ele estava na Galiléia? Portanto, não poderia ser encontrado em Jerusalém. Estava em Jerusalém? Logo os homens O procuravam em vão na Galiléia. Hoje Cristo não se limita pelo tempo nem pelo espaço, pois vive segundo o Poder da Vida Eterna, e aprove ao Pai revelá-Lo em meu coração. Ele esteve com eles por vezes; porém, está comigo sempre. Eles O conheceram segundo a carne, viram-no, tocaram-no, conviveram com Ele no mais íntimo contato. “E, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não O conhecemos deste modo”, (2Co5:16) e, não obstante, eu O conheço em verdade, pois O conheço segundo aprouve a Deus que Ele fosse conhecido. Deus não me concedeu o espírito de sabedoria e revelação no conhecimento de Cristo?

Watchaman Nee

domingo, 1 de julho de 2012

O sinal...

Jesus nos deixou de sobreaviso enumerando vários sinais pelos quais discerniremos o tempo como sendo o tempo do fim. Quando certas coisas acontecem, de um modo geral, as pessoas pensam nos sinais do fim como “os sinais do fim do mundo”.
É interessante perceber que esse pensamento é breve e logo, engolido pelos afazeres e pelos prazeres temporais e temporários dessa vida.  Nem percebem que o ‘fim do mundo’ está sendo patrocinado e gerenciado pelos homens, sua ganância, sua ciência e evolução tecnológica.
Quando se fala ‘nos sinais’ o entendimento bíblico que salta a mente e faz o coração se alegrar é outro: a eminente volta de Jesus.  Foi exatamente para esse acontecimento que Ele nos deixou em alerta.
Ele disse, que quando os sinais se tornassem notórios, (infelizmente muitos nem se quer o percebem), que levantássemos a cabeça em regozijo, pois nossa redenção estará próxima.
A volta de Jesus não significa o ‘fim do mundo’ em sua materialidade como, em geral, se comenta. A destruição do mundo e a extinção todas as formas de vida é fruto das intervenções humanas na natureza no decorrer da história.
A volta de Jesus será a derrocada final do império das trevas, o fim daquele que cega o entendimento das pessoas e as ilude com enganos e filosofias vãs. Será o fim do medo. Significa o Reino de Paz e Amor. É o Reinado de Jesus. 
No entanto, quero falar sobre os sinais que antecedem e anunciam a volta de Jesus. Ou melhor, um dos sinais. De todos os sinais enumerados por Jesus, os que já se cumpriram e os que estão se cumprindo, há um sinal que me salta aos olhos. E este sim, para mim, é ‘o sinal’.
“O amor se esfriará de quase todos”.
Nunca se viu tanto caos e desordem. Barbárie e violência gratuita em todos os setores e em todas as relações sociais. A ponto de, estar se tornando comum, mães abandonarem seus filhos ainda com o cordão umbilical e sujos do sangue do parto, os jogam numa lixeira, num lago, por cima de um muro, ou deixam dentro de um sanitário público. Os espancamentos, a exploração infantil e a pedofilia são práticas rotineiras. ‘Honrar pai e mãe’ não tem nenhum significado numa sociedade que mal trata, tortura e explora seus velhinhos. Assaltantes não se ‘contentam’ mais em roubar; espancam, violentam, matam... e dão entrevistas em que defendem a legitimidade de seus atos: “ele não devia ter tentado reagir...”. “São as regras do ofício”, disse um advogado.  A corrupção, inerente ao homem e, portanto, existente desde sempre, tomou proporções indizíveis de descaramento e falta de princípios. Isso citando apenas alguns fatos de âmbito local-nacional.
Desrespeito à vida, falta de amor ao próximo, falta de amor-temor a Deus... “O amor se esfriará de quase todos”.
No entanto a abrangência desse texto vai muito além. Refere-se a uma situação maior, pior e mais triste do que a brevemente descrita. O amor se esfriará naqueles que estão dentro das ‘igrejas’.
Pessoas que fazem parte da religião, que dizem amar a Deus, usam o nome de Jesus para legitimar seus atos e suas crenças, mas que, na verdade, não conhecem Jesus nem a dimensão do Amor de Deus. Desconhecem que foram comprados por preço de Sangue, não sabem que não têm mérito algum para alcançar tamanho favor de Deus: a Salvação. Vêem tantas atrocidades, descasos e violências, tantas vítimas do caos espiritual deste mundo e não se sentem compelidos a amar como foram amados. Não expressam a Graça pela qual foram alcançados e libertos. Negligenciam a busca de intimidade com o Pai.
Estão dispensando a Presença de Deus pela prosperidade temporal. Trocando a Vontade de Deus pela vontade pessoal. Valorizando personalismos, títulos e reconhecimentos. Buscando poderes políticos e favorecimentos econômicos.
Em suma, o amor se esfriará naqueles que, mesmo freqüentando a ‘igreja’, mantêm seus corações com pouco óleo enquanto esperam o Noivo.
“O amor se esfriará de quase todos”.
Para mim esse é o sinal. A ‘igreja’ que não ama a Deus com todo o seu entendimento e com todo o seu coração. A ‘igreja’ que não ama a seu próximo como a si mesmo. A ‘igreja’ que não abre o seu coração a ação do Amor de Deus. A ‘igreja’ que não se importa com a Vontade do Pai, mas apenas com seu ventre, a satisfação de seus ego, desejos, necessidades e “justiças’’.
E o amor se esfriará a tal ponto que Jesus mesmo pergunta se achará fé na terra quando voltar. Achará quem O ame e creia n’Ele?
Sim, achará! Há o outro lado desse sinal. O amor não se esfriará em alguns poucos.
Estejamos entre a minoria fazendo parte dos poucos em que o Amor de Deus se manterá vivo e avivado. Entre os que desejam e buscam intimidade com Deus expondo-se a ação da Palavra e manifestando o fluir da Presença de Deus em amor pelo próximo... tanto mais quanto esse não o mereça. Entre os que experimentam as maravilhas do Perdão. Entre os que desejam conhecer e viver a Vontade de Deus para cada um de nós.
Estejamos entre aqueles que ouvirão: Vinde, bendito de Meu Pai!

Denise Gaspar - maio, 2011