segunda-feira, 23 de julho de 2012

Oração

As cinco orações que marcam o começo da vida de Jesus no evangelho de Lucas e as três histórias de oração que instam nossa participação ativa nessas orações encontram ligações narrativas no livro de Atos, no qual lemos a história da formação da comunidade de Jesus. Da mesma forma como foi instituída como linguagem básica para os participantes da obra do Espírito na concepção, gestação e nascimento de Jesus, a oração é instituída aqui como linguagem básica da comunidade que vem a existir pelo Espírito e, depois, continua a orar com naturalidade, ousadia e honestidade como aprendeu a fazer por meio das histórias de Jesus.

E está orando. A linguagem comum da comunidade é a oração (At2:42). Na história da comunidade de Jesus que Lucas continua a contar, a oração aparece tanto de forma implícita quanto explícita: quando Pedro e João foram libertos da prisão e voltaram para relatar o que lhes havia ocorrido, os irmãos da comunidade, “unânimes, levantaram a voz a Deus”, (At4:24-31); quando o trabalho de atender às necessidades das pessoas tornou-se excessivo, os doze reuniram a comunidade e nomearam diáconos para esse trabalho, de modo que eles próprios pudessem se “(consagrar) à oração”, cuidando para que ela não fosse diluída ou dissipada, (6:1-6).
Enquanto era apedrejado até a morte, Estevão orou – a oração era a linguagem mais natural e profunda em seu interior (7:59); em Damasco, cego e sem comer a três dias, Paulo orou pedindo ajuda, que lhe foi dada por meio de Ananias e do Espírito Santo (9:36-43); toda ação na história magnífica e decisiva de Cornélio deu-se no contexto da oração (10:2,9,30-31); a primeira linha de defesa da comunidade contra as tramas assassinas do rei Herodes Agripa I foi a oração (14:23); quando a decisão do Concílio de Jerusalém foi transmitida, o seu conteúdo – fruto de muitas orações – foi descrito na expressão maravilhosa: “Pareceu bem ao Espírito e a nós” (15:28).
Quando Paulo e Silas chegaram a Filipos, procuraram “um lugar de oração” (16:13,16); quando foram presos, os dois missionários transformaram o cárcere filipense imediatamente numa capela de oração, onde “oravam e cantavam louvores a Deus” (16:25); a despedida triste de Paulo dos presbíteros efésios terminou quando, “ajoelhando-se, (Paulo) orou com todos eles” (20:36); depois de passar sete dias em Tiro, Lucas, que na época estava viajando com Paulo, relata que, “ajoelhados na praia, oramos” (21:5); quando Paulo contou, mais uma vez, a história de sua conversão a uma multidão de judeus hostis em Jerusalém, mencionou que Jesus lhe falou “enquanto orava no templo” (22:17).
Em sua última ida a Roma, uma viagem repleta de tempestades, pouco antes de o navio naufragar, Paulo dirigiu-se à tripulação dizendo-lhes o que havia acontecido enquanto ele orava na noite anterior – uma mensagem de consolo e segurança divinos (27:23-26); na manhã do naufrágio, Paulo, falando aos passageiros e à tripulação, 276 pessoas ao todo, rogou que comessem e “deu graças a Deus” (27:35-36); e, em Malta, a ilha do naufrágio, quando ficou sabendo que o pai de um homem que fez amizade com eles estava enfermo e à beira da morte, Paulo, “orando, impôs-lhe as mãos, e curou” (28:8).
A freqüência e a persistência da linguagem da oração na comunidade de Jesus ficam evidentes ao longo de toda a narrativa; no entanto, não é inoportuna. Não somos instados a orar nem recebemos exemplos de oração. Trata-se apenas do modo como a comunidade usa a linguagem. Lucas não comenta esse fato como incomum ou forçado. Pelo contrário: a oração é a linguagem natural e espontânea da comunidade.
Eugene H. Peterson.

Nenhum comentário: