segunda-feira, 23 de julho de 2012

O som da tentativa

C.S. Lewis escreveu certa vez que “Parece que Deus não faz por Ele mesmo nada que pode delegar às suas criaturas. Ele nos ordena a fazer devagar e desajeitadamente aquilo que poderia fazer perfeitamente num piscar de olhos”. Não existe ilustração maior deste princípio do que a igreja de Jesus Cristo, à qual Deus delegou a tarefa de encarnar a presença de Deus no mundo. Todos os nossos esforços são exemplos dessa delegação divina.
Todo pai e mãe conhece um pouco o risco de delegar, com sua alegria e sofrimento. A criança que toma seus primeiros passos segura, solta a mão, em seguida cai, depois luta para levantar-se e tenta outra vez. Ninguém descobriu outra maneira de aprender a andar.
Sim, a igreja falha em sua missão e comete sérios erros exatamente porque é composta de seres humanos que sempre carecem da glória de Deus. É o risco que Deus correu. Aquele que vem à igreja esperando encontrar perfeição não entende que o casamento é o início, não o fim, da luta por fazer o amor funcionar, todo cristão precisa aprender que a igreja é apenas um começo.
Certa vez o compositor igor Stravinski escreveu uma peça musical que continha um trecho muito difícil para violino. Depois de diversas semanas de ensaio o solista procurou Stravinski e disse que não conseguia tocar. Tinha se esforçado ao máximo mas era um trecho difícil demais, até mesmo impossível de tocar. Stravinski respondeu: “Eu entendo isso. Mas o que procuro é o som de alguém que esteja tentando tocá-lo”. quem sabe algo semelhante é o que Deus tinha em mente com a igreja.
Lembro-me de uma ilustração de Eric Palmer, um pastor que defendia a igreja contra os críticos que diziam ser ela cheia de hipócritas, de fracassos e incapazes de viver conforme os altos padrões do Novo Testamento. Palmer, que naquela época vivia na Califórnia, escolheu deliberadamente uma comunidade por sua falta de sofisticação cultural.
“Quando a orquestra do Colégio de Milpitas tenta tocar a Nona sinfonia de Beethoven o resultado é horroroso”, disse Palmer. “Eu não me surpreenderia se a apresentação o velho Ludwig virar no seu túmulo apesar de ser surdo”. Pode ser que você pergunte: Por que então tentar? Por que infligir sobre aqueles pobres jovens o terrível fardo de tentar produzir o que tinha em mente o imortal Beethoven? Nem a grande orquestra sinfônica de Chicago consegue atingir tal perfeição.
Minha resposta é a seguinte: quando a orquestra do Colégio de Milpitas tocar, dará a algumas pessoas no auditório o seu único encontro com a grande Nona Sinfonia de Beethoven. Longe da perfeição, contudo será a única forma em que ouvirão a mensagem de Beethoven”.
Penso na analogia de Eric Palmer sempre que começo a me encolher de vergonha num culto. Embora, talvez, nunca alcancemos o que o compositor tinha em mente, não existe outra maneira de se ouvir sons sobre a Terra.


Philip Yancey

Um comentário:

Miguel Junior disse...

Que bom ler um artigo como esse...
Que alívio nos traz uma mensagem que nos pôe no exato lugar onde Deus (e alguns no exercício de examinar-se a si mesmo) sabe que estamos...e nos olha com Compaixão...
Justo e Compassivo é o Senhor Deus, Cristo Jesus é o nosso Advogado, nosso Mediador, nosso Intercessor...e o que que dizer isso?! Que Ele Tem uma Justiça e que por Ele somos reprovados...mas a Sua Compaixão é ainda maior diante do sincero arrependido: Justo...Compassivo é o Senhor Deus Todo Poderoso!
A Ele toda Honra, Glória, Louvor e Gratidão!!
Fraternos abraços.
Miguel Junior.