sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O mau de dentro e o diabo de fora

O pecado nasce das cobiças do coração, por isso Jesus disse que o que sai do homem é o que contamina. Não há diabo que possa tocar ou entrar numa pessoa se essa, pela comunhão e na dependência total de Deus, não der lugar aos maus desígnios do coração.

O que alimenta o diabo é o que está dentro do homem. E o homem não tem condições de se livrar ou domesticar o mau que está dentro dele. Mas, se, ao contrário, alimentar sua mente e seu espírito com o que é bom, puro e verdadeiro: a Palavra de Deus e der liberdade ao Espírito de Deus para agir em sua vida do seu interior fluirão rios de águas vivas.

“Então, Jesus lhes disse: assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, considerou puro todos os alimentos.
E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem”, Mc7: 18 a 23.

Denise Gaspar – 25-01-2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

Ame o próximo como a si mesmo

Pois bem, quanto exatamente eu amo a mim mesmo?
Agora que eu estou pensando sobre isso, não posso dizer com precisão que sinto alguma ternura ou afeto por mim mesmo. Nem mesmo aprecio sempre a minha própria companhia.
Então, tudo indica que “amar o próximo” não quer dizer que me sinta interessado por ele” ou que o “ache atraente”. Eu já devia ter percebido isso antes, pois é claro que eu não posso me interessar por uma pessoa só tentando.

Será que eu me considero bom ou me acho um cara legal? Bem, temo que às vezes eu me veja assim mesmo (e esses, sem dúvida, são os meus piores momentos). Mas esse não é o motivo, porque eu me amo.

Na verdade, o que acontece é exatamente o contrário: meu amor-próprio é o que faz achar-me legal, mas achar-me legal não é uma boa razão para eu me amar. Semelhantemente, amar os meus inimigos também não significa que tenho que achá-los legais.

Isso é um grande alívio, pois grande parte das pessoas imagina que perdoar os inimigos significa fazer de conta que eles não são caras tão ruins, mesmo quando a evidência dos fatos mostra que eles o são. Dê um passo além.

Nos meus momentos de maior lucidez eu não só não me acho uma pessoa legal, como tenho plena consciência de que na verdade sou um ser bastante asqueroso. Sou capaz de olhar para algumas coisas que eu já cometi com horror e asco. Então, parto do pressuposto de que também me é permitido ter asco e ódio de alguns atos cometidos pelos meus inimigos.
Pensando bem, agora me lembro de ter tido professores de educação cristã há muito tempo que me ensinaram que devo odiar as coisas más que as pessoas praticam, sem odiar as pessoas más; ou como eles o teriam dito: odiar o pecado, em vez de odiar o pecador.
Essa distinção me parecia bastante tola e sem sentido: como seria possível odiar o que a pessoa fez, sem odiá-la? Mas anos depois ocorreu-me que havia um homem com o qual eu estive fazendo isso a vida toda – comigo mesmo.

Não importa o quanto eu possa desgostar de minha própria covardia, presunção ou ambição, não deixarei de me amar por isso. Nunca tive a menor dificuldade quanto a isso.

Na verdade, a razão por que eu odiava o que fazia era que eu me amava. Era exatamente o fato de amar a mim mesmo que me fazia lamentar a descoberta de que eu era o tipo de cara que fazia aquelas coisas.

Conseqüentemente, o cristianismo não espera que reduzamos em um só milímetro o ódio que sentimos pela crueldade e traição. Temos mais é que odiar essas coisas. Nenhuma palavra do que dissermos sobre elas precisa ser desdita. Por ouro lado, temos que odiar essas coisas nos outros, da mesma forma que as odiamos em nós mesmos: lamentando e, esperando que, se possível, de alguma forma, algum dia e em algum lugar, ele possa ser curado, voltando a se tornar humano.


C.S. Lewis. Cristianismo puro e simples.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Quais as nossas obras?

“sendo justificados gratuitamente, por sua Graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”, (Rm 3:24).


Sabemos que a salvação de nossas almas é alcançada única e exclusivamente pela fé em Jesus. Por Seu Amor somos atraídos e pela Sua Graça alcançados. Não há nada, absolutamente nada, que nos faça merecedores de tamanho Amor. O Amor de Deus é incompreensível e inabalável. Não há nada que possamos fazer para que Ele nos Ame mais e nos tenha em favoritismo. E, igualmente é impossível fazermos alguma coisa que diminua o Seu Amor por nós. Deus não tem raiva ou ressentimento, nem mesmo daqueles que morreram negando o Seu Amor. A Sua Palavra nos diz que Ele não tem prazer na morte do ímpio, e que a Sua vontade é que todos cheguem ao arrependimento e sejam salvos.
“Tão certo como Eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta de seu caminho e viva”, (Ez 33:11).
E, através de Paulo: “Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da Verdade”, (1Tm 2: 3 e 4).
Muitos cristãos, no entanto, usam o seu tempo pré-ocupados com afazeres e desgastam-se com preocupações infundadas. Pensando em resolver o que Deus já providenciou. Transcrevo aqui parte de um texto, de Charles L. Allen, através do qual Deus ministrou ao meu coração.
“A maior parte das nossas preocupações é com o dia de amanhã, como aconteceu àquelas mulheres que se encaminhavam para o túmulo de Cristo. Elas não puderam apreciar as belezas daquele sol matinal e das flores que ladeavam a estrada. Estavam preocupadas com a questão de quem removeria a pedra da porta do sepulcro. Ao chegarem lá, viram que ela já estava removida.”
Quando Lázaro morreu, suas irmãs, Marta e Maria, ocuparam-se em chorar e ao encontrarem-se com Jesus ocuparam-se em lamentar: “Senhor, se Tu estiveras aqui, não teria morrido meu irmão”.
No entanto, diante da verdade inegável de que Ele tudo já realizou e providenciou para nós, muitos crentes acham que não há nada a ser feito. Estes enganam-se tanto quanto aqueles que vivem perturbados por suas pré-ocupações com o dia de amanhã.
Deus é Soberano sobre todas as coisas. É Soberano sobre a natureza e a história. E uma vez tendo entregue nossas vidas em Suas mãos nada nos acontecerá sem Sua permissão e controle. Ainda que não entendamos. Tenho aprendido que quando as circunstâncias nos chegam... as aflições da vida, as quais Jesus se referiu... temos de buscar saber qual o seu propósito. O que Ele quer que aprendamos através desta situação.
Jesus já havia dito às irmãs: “Se credes verás a Glória de Deus”. Portanto, naquela situação elas tinham de firmar sua fé nas Palavras de Jesus: “Eu Sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, ainda que morra, viverá.” Elas fraquejaram diante da morte de seu querido e abateram-se no primeiro momento, mas recobraram-se e creram. Creram e viram a Glória de Deus na ressurreição de seu irmão Lázarro.
Assim como fez Abraão quando entregou Isaque. Ele sabia, quando subiu ao monte com o rapaz para o sacrificar, que ambos voltariam. Ainda que fosse sacrificado, ele sabia que o Senhor o levantaria do pó.
Assim como o centurião que creu na Palavra de Jesus quanto a cura de seu servo.
Na hora da aflição olhemos para o alto buscando o comando de Jesus. “Senhor, o que devo fazer nesta situação?”
Jesus tinha dito aos discípulos que após Sua morte O esperassem na Galiléia, pois Ele ressuscitaria e iria para lá encontrar com eles, Ele não disse para se trancarem em casa ou para embalsamá-lO.
Disse para tirarem a pedra do túmulo de Lázaro e para desatá-lo.
O que Ele diz para você hoje? Ouça, creia e obedeça!!!


Denise Gaspar - 2000

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Crédito onde crédito não é dívida

Lembra dos bons e velhos tempos, quando o cartão de crédito era marcado manualmente? O balconista podia pegar seu cartão, colocá-lo numa máquina para imprimir, e rrac-rrac, os números eram registrados e a compra feita. Quando tinha quatorze anos, aprendi a operar o tal invento, num posto de gasolina, na esquina da Broadway com a Quarta Avenida. Limpava pára-brisas, bombeava gasolina e checava o óleo.
Minha tarefa preferida, entretanto era carimbar cartões de crédito. Não há nada como a sensação do poder que invade, quando você faz correr o impressor sobre o cartão. Eu sempre relanceava as vistas ao freguês para vê-lo estremecer quando eu rrac-rraqueava o seu cartão.
Comprar com cartão de crédito hoje em dia já não é tão dramático. Agora, a tarja magnética introduzida na fenda, ou os números digitados num teclado. Nenhum ruído. Nenhum drama. Nenhum esforço.
Traga de volta os dias do rrac-rrac, quando a compra era enunciada a todos os ouvidos.
Você compra gasolina, rrac-rrac.
Você debita algumas roupas, rrac-rrac.
Você paga o jantar, rrac-rrac.
Se o ruído não alcança você, o demonstrativo do final do mês o fará. Trinta dias é um tempo razoável para se rrac-rraquear compras suficientes para rrac-rraquear seu orçamento.
E uma existência é suficiente para se rrac-rraquear alguns débitos no céu.
Você grita com seus filhos, rrac-rrac.
Você cobiça o caro de um amigo, rrac-rrac.
Você inveja o sucesso de seu visinho, rrac-rrac.
Você quebra uma promessa, rrac-rrac.
Você mente, rrac-rrac.
Você perde o controle, rrac-rrac.
Você cochila lendo este livro, rrac-rrac, rrac-rrac, rrac-rrac.
Débito e mais débito.
Inicialmente, tentamos compensar a dívida. Cada oração é um cheque preenchido; cada boa ação, um pagamento feito. Se pudéssemos ter um bom ato para cada mau ato, não estaria nossa conta balanceada no final? Se eu posso compensar minha maldição com elogios, minha luxúria com lealdade, minhas queixas com contribuições, meus vícios com vitórias – não estará minha conta justificada?
Estaria, exceto por dois problemas.
Primeiro, não sei o custo de cada pecado. O preço da gasolina é fácil de achar. Pudesse o do pecado ser tão evidente. Mas não é. O que se cobra, por exemplo, por se conduzir loucamente no tráfego? Eu marco o motorista que corta à minha frente. O que faço para pagar este crime? Dirijo a 70 por hora, numa zona de 80? Aceno e sorrio para dez carros consecutivos? Quem sabe? Ou, se eu acordo de mau humor? O que se paga por um par de horas lamurientas? Poderia o culto do próximo domingo compensar a manhã irritável de hoje? E o que equivaleria a um mau humor? Será que se cobra menos pela irritabilidade num dia nublado que num dia claro? Ou, me é permitido ficar aborrecido um certo número de dias por ano?
Isto pode tornar-se confuso, você sabe. E não é apenas o custo de meu pecado que ignoro; a ocasião deles, também. Algumas vezes peco, e nem fico sabendo! Eu tinha 12 anos quando compreendi que era pecado odiar meu inimigo. Minha bicicleta fora roubada quando eu tinha 8. Odiei o ladrão por 4 anos! Como faço para pagar aquele pecado? Eu ganharia uma isenção baseada na ignorância?

E quanto aos pecados que cometo agora, sem saber? E quanto aos nossos pecados secretos? E você? Alguns pecados de omissão no demonstrativo deste mês? Você deixou passar alguma chance de fazer o bem? Deixou escapar a oportunidade de perdoar? Negligenciou uma porta aberta para servir? Você aproveitou cada oportunidade de encorajar seus amigos?
Rrac-rrac, rrac-rrac, rrac-rrac.
Existem outros pontos importantes. O tempo da Graça, por exemplo. Meu cartão de crédito permite um pagamento mínimo, e então arrola a dívida pro mês seguinte. E Deus o faz? Ele deixaria eu pagar a ganância de hoje no próximo ano? E quanto aos juros? Se eu deixo meu pecado em meu demonstrativo por vários meses. Isso incorrerá em mais pecado? E falando em demonstrativo. Onde está ele? Posso vê-lo? Com quem está? Como pago os estragos?
É isso aí. Essa é a questão. Como lidar com as dívidas que tenho para com Deus?
Nego-as? Minha consciência não deixaria.
Acho pecados piores nos outros? Deus não cairia nessa.
Reivindico isenção por linhagem? Orgulho familiar não ajudaria.
Tento compensar? Poderia, mas isso nos leva de volta ao problema: desconhecemos o custo do pecado. Nem mesmo sabemos o quanto devemos.
Então o que fazemos? Ouça a resposta de Paulo.
“Sendo justificados gratuitamente pela Sua Graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no Seu Sangue”, (Rm3:24-25).
Simplesmente por: o custo de seus pecados é mais do que você pode pagar. O presente do seu Deus é maior do que você imagina. “O homem é justificado pela fé”, conclui Paulo, “sem as obras da lei”, (v. 28). Esta pode muito bem ser a verdade espiritual mais difícil de se compreender. Por alguma razão, as pessoas aceitam a Jesus como Senhor, antes de aceitá-lo como Salvador. É mais fácil compreender Seu Poder que a Sua Misericórdia. Celebramos o túmulo vazio bem antes de nos ajoelharmos perante a Cruz.


Max Lucado. Nas garras da Graça. Ed. CPAD.

sábado, 9 de janeiro de 2010

O enxerto

Disse Jesus:
“Eu Sou a Videira Verdadeira, e Meu Pai é o Agricultor.
Todo ramo que estando em Mim, não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda.
Vocês já estão limpos pela Palavra que tenho lhes falado; permaneçam em Mim, e Eu permanecerei em vocês.
Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo se não permanecer na videira, assim, nem vocês o podem dar, se não permanecerem em Mim.
Eu Sou a Videira, vocês, os ramos.
Quem permanece me Mim, e Eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer.”
João 15: 1 a 5

Nessa passagem Jesus revela a relação de total dependência entre nós e Ele para que nossa comunhão com o Pai seja salutar e produtiva.
Ele usa a imagem do enxerto feito na agricultura. Nós somos a oliveira brava enxertada na Videira Verdadeira e, tal como na botânica, o enxerto passa a depender inteiramente da planta em que foi enxertado. Ele vive porque a Videira vive, ele se alimenta porque Ela o alimenta.
Alimentando-se da seiva que vem da Videira o enxerto vai tendo sua natureza transformada. Alimentados do Amor de Deus temos nossa natureza transformada.
Começamos a produzir novo tipo de fruto. Agora, conforme o Amor. Sem Jesus, somos incapazes de produzir tais frutos. Porque Ele é o próprio Amor.
Não estamos falando de ser bonzinhos, de ter uma vida politicamente correta e nem de justiça social. É muito mais. É Amar, é viver uma vida de Perdão, de Graça, de Paz, de Alegria, apesar do que nos cerca.
Estamos falando de uma nova perspectiva de vida. Nossos olhos serão limpos pelo colírio de Deus e nosso enfoque frente à vida será transformado.
Estamos falando de uma vida em comunhão com Deus e com o Seu Propósito. Estamos falando de uma vida de Triunfo Eterno. Algo muito maior que as vitórias temporais e seculares.
Receba a bênção da Revelação do Amor de Deus por você em Cristo Jesus.

Denise Gaspar -16-01-2007.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O Oleiro e o barro


“Desci à casa do oleiro, e eis que estava à sua obra sobre as rodas”. Jeremias observou o oleiro em sua labuta. O oleiro estava na roda, trabalhando em uma massa de barro ainda disforme. Ele girava o torno e seus habilidosos dedos davam forma ao barro. Uma leve pressão aqui, outra intensa ali, e um vaso começava a surgir do barro disforme.
Você tem idéia da importância da cerâmica? A invenção do trabalho em barro deu início a uma verdadeira revolução. Antes do surgimento dessa atividade havia somente tribos nômades, conduzindo rebanhos de animais, deslocando-se de um lado para outro, movidas pela falta de água e alimento. Não havia tempo para desenvolver coisa alguma, nem descanso para dedicar-se à reflexão. Era uma cultura de subsistência, de busca diária de sobrevivência. Porém, a invenção da cerâmica tornou possível armazenar e transportar víveres. Agora era possível permanecer mais tempo num lugar, pois havia como guardar a água e os grãos para o inverno seguinte. Era possível cozinhar e transportar mercadorias. A cerâmica assinalou uma revolução que resultou no que chamamos de civilização – a Era Neolítica.
Tente imaginar como a vida seria diferente se não houvesse recipientes nos quais pudéssemos armazenar as coisas: nada de potes e panelas, tigelas e pratos, baldes e jarras, canecas e barris, nada de caixas de papelão e envelopes de papel pardo, nada de sacos de grãos e tanques para armazenar líquidos. A administração dos mantimentos seria reduzida ao que se usa num único dia, ao que se pode levar nas mãos. O advento da cerâmica possibilitou o desenvolvimento das comunidades. A vida estendeu-se para além do imediato.
O impacto da invenção da cerâmica foi imenso. Porém, existiu algo mais nisso tudo que foi igualmente importante. Ninguém jamais foi capaz de fazer um pote de barro que fosse apenas um pote de barro.
Cada um deles é uma pequena obra de arte. Os oleiros estão sempre inovando, criando novos contornos, tamanhos e processos de modelação para dar forma e acabamento finais que resultem numa combinação agradável de curvas. Não existe uma peça de cerâmica que, além de ser útil, não seja ao mesmo tempo bela. Ela é modelada, desenhada, lavada ao forno e pintada. É um dos utensílios mais funcionais que existem, e também um dos mais bonitos.
Na época em que Jeremias viveu, ninguém colocava uma peça de cerâmica na prateleira apenas para admirá-la, usando-a somente como item decorativo, a fim de dar um toque de estética ao ambiente. Porém, o contrário também era verdade. Ninguém usava a peça de cerâmica apenas por causa de sua utilidade – sempre havia no objeto os sinais das mãos de um artista.
É difícil compreendermos perfeitamente a importância dessa associação, pois vivemos num mundo diferente. Geralmente, fazemos distinção entre o que é útil e o que é belo, entre o necessário e o decorativo. Usamos sacos de papel pardo para guardar mantimentos, sem nenhuma preocupação estética. Afinal, tudo o que queremos é algo para guardar os produtos de casa. Se quisermos embelezar as paredes de nossos lares compramos quadros. Construímos prédios de escritórios sem nenhuma originalidade e feias fábricas.
Penas visando à funcionalidade dos trabalhos que serão desempenhados. Em contrapartida, construímos lindos museus para abrigar objetos de arte. Houve, porém, períodos na história em que as coisas eram melhores, quando o necessário e o belo estavam interligados, quando, na verdade, era inimaginável separar essas duas características. Com certeza era assim para Jeremias: não havia sacos de papel e museus, mas havia a cerâmica. Por toda parte. Útil e bela. Funcionalmente necessária e artisticamente bonita. Duas características presentes numa mesma peça que, de forma nenhuma, podiam ser vistas em separado.
A imaginação criadora de Jeremias começou a trabalhar quando ele viu aquele oleiro moldando o barro disforme na roda. É provável que Jeremias já tivesse visto muitos oleiros trabalhando antes, mas, naquela ocasião, ele viu algo mais – ele vislumbrou Deus modelando um povo para sua glória. Um povo de Deus. Homens e mulheres criados à imagem divina. Necessários, mas não só isso – belos também. Formosos mas não apenas isso – úteis também. Cada ser humano é um misto de necessidade e liberdade. Não há pessoa que não seja útil, que não tenha seu papel dentro do que Deus está realizando. E não há ninguém que não seja único, dotado de linhas, cores e formas totalmente distintas das que há em qualquer outro. Todas essas verdades tornaram-se cristalinas na mente de Jeremias na casa do oleiro: o aspecto bruto do barro, úmido e sem vida, ia sendo modelado para um propósito específico pelas mãos habilidosas do oleiro e, enquanto o barro ia adquirindo forma, o profeta compreendeu a singular individualidade e a ampla utilidade que aquele barro teria quando todo o processo, da modelagem ao acabamento final, passando pela pintura e pelo cozimento, fosse concluído. Deus nos molda de acordo com Seus eternos propósitos e inicia esse processo aqui mesmo. O pó de onde viemos e a imagem de Deus à qual fomos feitos são um e os mesmos.

Eugene H. Peterson. Ânimo. Ed. Mundo cristão.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Pense nisso

O que é de fato importante acerca de Deus
e Sua criação é apenas o que Jesus disse que era;
ou seja: amor a Deus e amor ao próximo;
e tudo isto de modo simples e prático,
sem nenhuma converseira ou dissertação.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Evangelho Maltrapilho 2

Os primeiros no Reino de Deus

E o que parece a vocês? Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao primeiro, disse: Filho, vai hoje trabalhar na vinha. Ele respondeu: Sim, senhor; porém não foi. Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma coisa. Mas este respondeu: Não quero; depois, arrependido, foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?
Disseram-Lhe: O segundo.
Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes precedem vocês no Reino de Deus. Porque João veio a vocês no caminho da justiça, e vocês não acreditaram nele; ao passo que publicanos e metretrizes creram. Vocês, porém, mesmo vendo isso, não se arrependeram, afinal para acreditarem nele. Mt21:28 a 32.

Se queremos captar em toda a sua força o ensino de Jesus aqui, é importante que lembremos a atitude judaica com relação às crianças na Palestina do primeiro século. Hoje em dia, nossa tendência é idealizar a infância como a feliz idade da inocência, da despreocupação e da fé singela, mas no tempo do Novo Testamento as crianças não eram consideradas de qualquer importância e mereciam pouca atenção ou favor. Crianças naquela sociedade não tinham status algum – simplesmente não contavam. A criança era encarada com escárnio.
Para o discípulo de Jesus, “tornar-se como criancinha” significava a disposição de aceitar-se como sendo de pouca monta e ser considerado sem importância. A criancinha que é a imagem do reino é símbolo daqueles que ocupam as posições mais inferiores na sociedade, os pobres e oprimidos, os mendigos, as prostitutas e os cobradores de impostos – as pessoas que Jesus com freqüência chamava de “pequeninos” e de “últimos”. A preocupação de Jesus era que esses pequeninos não deveriam ser desprezados ou tratados como inferiores. “Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos”. (Mt 18:10). Ele estava muito consciente dos sentimentos de vergonha e inferioridade deles, e por causa da sua compaixão eles eram, a seus olhos, de valor extraordinariamente grande. No que Lhe dizia respeito, eles não tinham nada a temer. O reino era deles. “Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai Se agradou em dar-vos o Seu Reino”. (Lc12:32).
Os bebês de colo (napioi) estão na mesma condição das crianças (paidia). A Graça de Deus recai sobre elas porque são criaturas insignificantes, não por causa de suas boas qualidades. Embora possam conscientizar-se de sua irrelevância, isso não significa que lhes serão concedidas revelações. Jesus atribui expressamente a felicidade deles ao bom prazer do Pai, a eudokia divina. As dádivas não são determinadas pela menor qualidade ou virtude pessoal. São pura liberalidade. De uma vez por todas, Jesus desfere um golpe mortal em qualquer distinção entre a elite e o povo comum na comunidade cristã.
O evangelho declara que, não importa quão dedicados e devotos sejamos, não somos capazes de salvar a nós mesmos. O que Jesus fez foi suficiente. À medida que nos mantemos santos pelos nossos próprios esforços como os fariseus ou neutros como Pilatos, (não damos o salto de confiança), deixamos que as prostitutas e os publicanos entrem primeiro no reino enquanto nós ficamos atrás tendo nossas supostas virtudes dissipadas de nós. As meretrizes e vigaristas entram antes de nós porque sabem que não podem salvar a si mesmos; que não têm como tornarem-se apresentáveis ou amáveis. Eles arriscaram tudo em Jesus; sabendo que estavam muito aquém dos requisitos, não foram orgulhosos demais para aceitar a esmola da Graça admirável.
Esses pecadores, essa gente desprezada, estão mais perto de Deus do que não se vêem pecadores. Não são as meretrizes e os ladrões que acham mais difícil de se arrepender: são vocês, tão seguros da sua devoção e da sua farsa que não têm qualquer necessidade de conversão. Eles podem ter desobedecido ao chamado de Deus, podem ter sido degredados pelas suas profissões, mas demonstram tristeza e arrependimento. Mais do que tudo isso, porém, essas são pessoas que dão valor à bondade de Deus: são um paradigma do reino diante de vocês, pois elas têm o que lhes falta – uma profunda gratidão pelo amor de Deus e um profundo assombro diante da sua misericórdia.
Oremos como o rabino, Joshua Abraham Heschel:
“Querido Deus, dê-me a graça do assombro. Surpreenda-me, maravilhe-me, encha-me de assombro em cada fenda do Seu universo. Conceda-me o deleite de ver como Jesus Cristo age em dez mil lugares, adorável em mãos e pernas, adorável ao Pai em olhos que não os dele, nas feições dos rostos dos homens. Arrebata-me a cada dia com suas incontáveis maravilhas. Não peço conhecer a razão de todas; peço apenas compartilhar da maravilha de todas”.
Adaptado de Brennan Manning “O Evangelho Maltrapilho”, ed. Textus.