quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Crédito onde crédito não é dívida

Lembra dos bons e velhos tempos, quando o cartão de crédito era marcado manualmente? O balconista podia pegar seu cartão, colocá-lo numa máquina para imprimir, e rrac-rrac, os números eram registrados e a compra feita. Quando tinha quatorze anos, aprendi a operar o tal invento, num posto de gasolina, na esquina da Broadway com a Quarta Avenida. Limpava pára-brisas, bombeava gasolina e checava o óleo.
Minha tarefa preferida, entretanto era carimbar cartões de crédito. Não há nada como a sensação do poder que invade, quando você faz correr o impressor sobre o cartão. Eu sempre relanceava as vistas ao freguês para vê-lo estremecer quando eu rrac-rraqueava o seu cartão.
Comprar com cartão de crédito hoje em dia já não é tão dramático. Agora, a tarja magnética introduzida na fenda, ou os números digitados num teclado. Nenhum ruído. Nenhum drama. Nenhum esforço.
Traga de volta os dias do rrac-rrac, quando a compra era enunciada a todos os ouvidos.
Você compra gasolina, rrac-rrac.
Você debita algumas roupas, rrac-rrac.
Você paga o jantar, rrac-rrac.
Se o ruído não alcança você, o demonstrativo do final do mês o fará. Trinta dias é um tempo razoável para se rrac-rraquear compras suficientes para rrac-rraquear seu orçamento.
E uma existência é suficiente para se rrac-rraquear alguns débitos no céu.
Você grita com seus filhos, rrac-rrac.
Você cobiça o caro de um amigo, rrac-rrac.
Você inveja o sucesso de seu visinho, rrac-rrac.
Você quebra uma promessa, rrac-rrac.
Você mente, rrac-rrac.
Você perde o controle, rrac-rrac.
Você cochila lendo este livro, rrac-rrac, rrac-rrac, rrac-rrac.
Débito e mais débito.
Inicialmente, tentamos compensar a dívida. Cada oração é um cheque preenchido; cada boa ação, um pagamento feito. Se pudéssemos ter um bom ato para cada mau ato, não estaria nossa conta balanceada no final? Se eu posso compensar minha maldição com elogios, minha luxúria com lealdade, minhas queixas com contribuições, meus vícios com vitórias – não estará minha conta justificada?
Estaria, exceto por dois problemas.
Primeiro, não sei o custo de cada pecado. O preço da gasolina é fácil de achar. Pudesse o do pecado ser tão evidente. Mas não é. O que se cobra, por exemplo, por se conduzir loucamente no tráfego? Eu marco o motorista que corta à minha frente. O que faço para pagar este crime? Dirijo a 70 por hora, numa zona de 80? Aceno e sorrio para dez carros consecutivos? Quem sabe? Ou, se eu acordo de mau humor? O que se paga por um par de horas lamurientas? Poderia o culto do próximo domingo compensar a manhã irritável de hoje? E o que equivaleria a um mau humor? Será que se cobra menos pela irritabilidade num dia nublado que num dia claro? Ou, me é permitido ficar aborrecido um certo número de dias por ano?
Isto pode tornar-se confuso, você sabe. E não é apenas o custo de meu pecado que ignoro; a ocasião deles, também. Algumas vezes peco, e nem fico sabendo! Eu tinha 12 anos quando compreendi que era pecado odiar meu inimigo. Minha bicicleta fora roubada quando eu tinha 8. Odiei o ladrão por 4 anos! Como faço para pagar aquele pecado? Eu ganharia uma isenção baseada na ignorância?

E quanto aos pecados que cometo agora, sem saber? E quanto aos nossos pecados secretos? E você? Alguns pecados de omissão no demonstrativo deste mês? Você deixou passar alguma chance de fazer o bem? Deixou escapar a oportunidade de perdoar? Negligenciou uma porta aberta para servir? Você aproveitou cada oportunidade de encorajar seus amigos?
Rrac-rrac, rrac-rrac, rrac-rrac.
Existem outros pontos importantes. O tempo da Graça, por exemplo. Meu cartão de crédito permite um pagamento mínimo, e então arrola a dívida pro mês seguinte. E Deus o faz? Ele deixaria eu pagar a ganância de hoje no próximo ano? E quanto aos juros? Se eu deixo meu pecado em meu demonstrativo por vários meses. Isso incorrerá em mais pecado? E falando em demonstrativo. Onde está ele? Posso vê-lo? Com quem está? Como pago os estragos?
É isso aí. Essa é a questão. Como lidar com as dívidas que tenho para com Deus?
Nego-as? Minha consciência não deixaria.
Acho pecados piores nos outros? Deus não cairia nessa.
Reivindico isenção por linhagem? Orgulho familiar não ajudaria.
Tento compensar? Poderia, mas isso nos leva de volta ao problema: desconhecemos o custo do pecado. Nem mesmo sabemos o quanto devemos.
Então o que fazemos? Ouça a resposta de Paulo.
“Sendo justificados gratuitamente pela Sua Graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no Seu Sangue”, (Rm3:24-25).
Simplesmente por: o custo de seus pecados é mais do que você pode pagar. O presente do seu Deus é maior do que você imagina. “O homem é justificado pela fé”, conclui Paulo, “sem as obras da lei”, (v. 28). Esta pode muito bem ser a verdade espiritual mais difícil de se compreender. Por alguma razão, as pessoas aceitam a Jesus como Senhor, antes de aceitá-lo como Salvador. É mais fácil compreender Seu Poder que a Sua Misericórdia. Celebramos o túmulo vazio bem antes de nos ajoelharmos perante a Cruz.


Max Lucado. Nas garras da Graça. Ed. CPAD.

2 comentários:

Miguel Junior disse...

Diz a Palavra:
"...Ora, a Fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem."
- Carta aos Hebreus 11:1.
Ela nos afirma que o Preço que a Justiça exige já foi pago...e minha Fé o confirma...portanto não devo mais nada... além da gratidão, o amor e o tremor diante de tal Magnitude que me nasceram no coração...
Miguel Junior

Miguel Junior disse...

Ia me esquecendo... nesse Sistema do Amor ao Dinheiro, mais especificamente no Monetarismo, a simples emissão de uma Declaração de Dívida do Governo ao Banco Central/Casa da Moeda, gera a emissão, em espécie (debitado já os juros), da quantia declarada...
É muita loucura para mim... cada banco que emita novos sub-emprétimos pagará novos juros e cobrará a quem concretamente produz riqueza por meio do trabalho...
Miguel Junior.