sábado, 23 de janeiro de 2010

Ame o próximo como a si mesmo

Pois bem, quanto exatamente eu amo a mim mesmo?
Agora que eu estou pensando sobre isso, não posso dizer com precisão que sinto alguma ternura ou afeto por mim mesmo. Nem mesmo aprecio sempre a minha própria companhia.
Então, tudo indica que “amar o próximo” não quer dizer que me sinta interessado por ele” ou que o “ache atraente”. Eu já devia ter percebido isso antes, pois é claro que eu não posso me interessar por uma pessoa só tentando.

Será que eu me considero bom ou me acho um cara legal? Bem, temo que às vezes eu me veja assim mesmo (e esses, sem dúvida, são os meus piores momentos). Mas esse não é o motivo, porque eu me amo.

Na verdade, o que acontece é exatamente o contrário: meu amor-próprio é o que faz achar-me legal, mas achar-me legal não é uma boa razão para eu me amar. Semelhantemente, amar os meus inimigos também não significa que tenho que achá-los legais.

Isso é um grande alívio, pois grande parte das pessoas imagina que perdoar os inimigos significa fazer de conta que eles não são caras tão ruins, mesmo quando a evidência dos fatos mostra que eles o são. Dê um passo além.

Nos meus momentos de maior lucidez eu não só não me acho uma pessoa legal, como tenho plena consciência de que na verdade sou um ser bastante asqueroso. Sou capaz de olhar para algumas coisas que eu já cometi com horror e asco. Então, parto do pressuposto de que também me é permitido ter asco e ódio de alguns atos cometidos pelos meus inimigos.
Pensando bem, agora me lembro de ter tido professores de educação cristã há muito tempo que me ensinaram que devo odiar as coisas más que as pessoas praticam, sem odiar as pessoas más; ou como eles o teriam dito: odiar o pecado, em vez de odiar o pecador.
Essa distinção me parecia bastante tola e sem sentido: como seria possível odiar o que a pessoa fez, sem odiá-la? Mas anos depois ocorreu-me que havia um homem com o qual eu estive fazendo isso a vida toda – comigo mesmo.

Não importa o quanto eu possa desgostar de minha própria covardia, presunção ou ambição, não deixarei de me amar por isso. Nunca tive a menor dificuldade quanto a isso.

Na verdade, a razão por que eu odiava o que fazia era que eu me amava. Era exatamente o fato de amar a mim mesmo que me fazia lamentar a descoberta de que eu era o tipo de cara que fazia aquelas coisas.

Conseqüentemente, o cristianismo não espera que reduzamos em um só milímetro o ódio que sentimos pela crueldade e traição. Temos mais é que odiar essas coisas. Nenhuma palavra do que dissermos sobre elas precisa ser desdita. Por ouro lado, temos que odiar essas coisas nos outros, da mesma forma que as odiamos em nós mesmos: lamentando e, esperando que, se possível, de alguma forma, algum dia e em algum lugar, ele possa ser curado, voltando a se tornar humano.


C.S. Lewis. Cristianismo puro e simples.

Um comentário:

Miguel Junior disse...

Bem, eu creio que o que o Senhor espera de nós é que, de fato e verdade, isto é, na prática, percebamos todos os desagrados que cometemos e se cometem contra Ele, o Único que Ama...
Ele nos pede que o mesmo peso que usamos para pesar o próximo, imediatamente, reflitamos sobre nosso argueiro, nossa trave nos olhos... nos pede, também, que sejamos sóbrios e vigilantes, mas acima de tudo que amemos...como Ele !...
Tenho certeza que Ele não ficava lembrando dos pecados de seus discípulos, mas os santificava por Suas Palavras, portanto devemos agir como Ele nos esquecendo do que somos em nós mesmos...mas mantendo viva lembrança de quem somos n'Ele que nos Amou primeiro: se Ele nos Ama, nos amemos também, honrando-o pela Escolha que fez ao nos Amar.
Devemos lembrar que nossos pecados/erros/descaminhos/tropeços precisam ser esquecidos tão logo sejamos perdoados, pois Seu Amor nos constrange a amar mais, perdoar mais, sermos mais generosos, mais aformoseados, mais sóbrios, mais atenciosos, mais hospitaleiros, mas dadivosos, mais graciosos, mais amorosos, porque essas são práticas contrárias às nossas tendências carnais e mundanas (lembro:Esforça-te!)...
Deus tem Socorro para nossas misérias, mazelas herdadas e ainda cultivadas em meio aos enganos, sofismas e maldades !
Deus seja louvado por nós, os alcanaçados e rendidos às Suas Misericórdias!
Miguel Junior