Espiritualidade Subversiva

R e v i s t a  P I T A D A  D E  S A L

Uma pitada do Evangelho da Graça em sua vida!!!

Ano VII - Nº 48 Mar/Abr 2015. Proibida a venda; distribuição gratuita.



EDITORIAL 
Essa é uma das mensagens mais fortes que o Senhor já nos deu através de PS. Há mais de ano, talvez dois, estou com essa mensagem guardada para compartilhar com os irmãos. Nesse tempo o computador pifou, perdi muito material, inclusive essa revista, que já estava pronta. E agora ela ressurge, novo editorial, nova capa, mas com a mesma força.
A força do Evangelho: Amor! Força que, para facilitar nosso entendimento, se desdobra em perdão, graça, reconciliação, santidade, compartilhar, caminhar, viver em união. Tudo isso faz parte do amor, são dissociáveis. Não há como ter uma parte e não ter a outra. Deus não nos dá de Seu Espírito em porções. O Evangelho é inteiro. O Evangelho é uma Pessoa. O Evangelho é Jesus. Ele é Deus, é o Verbo, é a reconciliação, é o Caminho, é a Paz, é o Amor. Não dá para selecionar o que você quer dEle. Ou você O conhece e se rende ao Seu Senhorio ou não. Não é possível servir a dois senhores: a Deus e aos desejos da carne.
Hoje, se você ouve a voz de Deus não endureça o seu coração. O dia do Senhor é hoje. Ontem já passou, não tem como mudar; o amanhã não sabemos se viveremos.
Hoje é o dia do encontro, da vitória, da entrega.

Minha dica é que você não leia essa revista apenas uma vez. Leia, guarde, daqui há algum tempo releia, e guarde e... Essa mensagem contém pérolas que Deus está entregando em suas mãos. É alimento sólido para ser digerido com muita calma. Vez por outra volte a essa reflexão, ela tem sido alimento, vitaminas para minha caminhada.

Pense nisto,
Boa leitura,
                                                                              Denise Gaspar



O que significa ligar e desligar

Em verdade vos digo que tudo o que ligares na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus. Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por Meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu Nome, ali estou no meio deles. Mateus 18:18-20

Nós examinamos o texto de Mt18:15 -35 e eu disse que o problema está nos versos 18 e 19, onde, após Jesus nos mostrar como se deve proceder com a pessoa que nos ofendeu, Ele diz: “Em verdade vos digo que tudo o que ligares na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Esse texto é um texto que entra em contradição com todo o ensino do Evangelho se sua interpretação for aquela que a igreja chamou para si.
A igreja chamou para si uma interpretação clerical, que dá aos líderes, aos pastores, aos apóstolos, aos bispos, e outros, o suposto poder de determinar quem está ligado a Deus e quem não está ligado a Deus. A igreja arrogou para si o poder de dizer quem é e quem não é de Deus, quem está e quem não está em comunhão. O que contradiz inteiramente com o espírito do NT.
Em Mateus vemos que tais surtos nos remetem imediatamente à questão da relacionalidade com nosso ofensor. E Jesus diz como proceder: vai sozinho; se ele te ouvir, ganhaste teu irmão... Mas se ele não te ouvir, declara-o publicano e pecador. O conceito de publicano e pecador para os judeus era totalmente diferente do conceito de publicano e pecador para Jesus.
Para os judeus, os publicanos e pecadores eram os outros, os párias; para Jesus, eram aqueles que Ele mais acolhia, com quem mais comia, em cujas casas mais entrava, a quem mais estendia misericórdia. De modo que se eu tomar os judeus como chave hermenêutica, (chave para meu entendimento), para interpretar a expressão “considera-o publicano e pecador” eu terei de pensar com as categorias do farisaísmo que exila, que bane, que diz: com esse aqui eu não falo mais. E isso também contraria o espírito de Jesus, que tinha acabado de dizer a João (que queria fazer descer fogo dos céus sobre os samaritanos): você não sabe de que espírito é, porque o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens e, sim, para salvá-las. É nesse contexto que aparece essa história de que “o que ligares na Terra terá sido ligado nos céus, e o que desligares na Terra terá sido desligado nos céus”. Esse é o texto usado de maneira absolutamente áurea, desgraçadamente áurea, pela igreja, pelo cristianismo, nesses mil e setecentos anos, para a usurpação de poder que criou essa exacerbação de tiranias, de despotismos, de perversidades, de ações contra o próximo; baseado em caprichos papais, ou bispais, ou cardinais, ou supostamente apostolares.
Então, nós percebemos que o sentido não poderia ser o considerar desprezível o publicano e pecador que não fez a viagem da consciência até o fim, se a nossa chave hermenêutica é Jesus, se Ele é o Verbo encarnado e se é a partir dEle que eu entendo o Evangelho. Ora, se o meu eixo não é a interpretação dos judeus sobre os publicano e pecadores, e, sim, a interpretação de Jesus em relação a eles, o que Jesus estaria dizendo é: se esse indivíduo que o ofendeu, e que você já tem de perdoar de saída, não fizer a viagem da graça em favor dele mesmo, trate-o, daí para frente, com aquela misericórdia e com aquele carinho que vocês Me viram tratando a todos aqueles que eram considerados párias pelos judeus, ou todos aqueles que se fazem párias pelo distanciamento, pelo desvinculamento. Ou seja, qual é o tratamento? É de mais amor, mais graça, mais misericórdia; a menos que esse indivíduo seja alguém que queira perverter o Evangelho para a comunidade, desviar a consciência das pessoas do bom e reto caminho do Evangelho. Aí, nesse caso, anunciar-se-ia isso à comunidade apenas dizendo: Olhem, já não é mais uma questão de ofensa pessoal – isso está tudo resolvido e perdoado -, é o ensino que se tornou corruptível; por isso, cabe a nós, como vigilantes e guias das vossas almas, dizer que essa pessoa não está ensinando aquilo que fará bem. É o máximo a que se pode chegar. Mas isso não exclui o amor, a misericórdia, a graça.
O cristianismo entendeu que esse seria um texto que faria Jesus entrar em contradição consigo mesmo, o tempo todo, pois foi ele quem disse: não julgueis para que não sejais julgados.
Foi Ele quem disse para que ninguém tentasse separar o joio do trigo, porque ninguém tem o discernimento das naturezas essenciais. Chegaria a hora em que o Pai mesmo providenciaria essa separação; Jesus não delegou isso a ninguém. Será trabalho de anjos em um determinado tempo, jamais de homens.

Jesus foi claro; não arranquem o joio, não separem, não façam assim, porque ninguém conhece as naturezas, e as aparências enganam. Às vezes, é um trigo que está vivendo um momento de joio, e então podem arrancar uma boa natureza.  E nós vimos que seria uma contradição ainda maior também porque Pedro, entendendo isso como sendo algo que tinha a ver com uma responsabilidade que Jesus dava – de ligar sempre, de manter o coração sempre vinculado ao amor, à graça, ao perdão, à misericórdia -, não entendeu como uma prerrogativa de superioridade. Pedro entendeu como um mandamento de perdão. Ele entendeu que se andasse no caminho conforme o Evangelho que fosse falar com o irmão que o havia ofendido já no espírito da cruz, dizendo: Pai, perdoa-lhe, porque ele não sabe o que faz. Numa tentativa de ganhar a alma, o coração, a consciência de um irmão, mas não para decidir se perdoaria ou não perdoaria aquele indivíduo. Pedro já havia aprendido com Jesus que o indivíduo, convertido ou não, teria de ser perdoado.
Então, nós vimos o que esse texto não é. Ele não é um texto que concede a alguém – a nenhum grupo de dois, de três, de dez, seja lá de quantos forem o poder, na Terra, de determinar quem está ligado a Deus e quem não está ligado a Deus. Seria uma contradição com o ensino inteiro do Novo Testamento, que diz que há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, o Homem. Seria uma contradição com o espírito do Evangelho, que diz que ainda que um grupo humano inteiro resolva demonizar alguém e nunca perdoar, por qualquer que seja a veneta religiosa que neles dê, isso não alterará em absolutamente nada a sua relação com Deus; porque é Deus quem o justifica.
Vamos tratar do que o texto de fato significa, quando diz: “Aquilo que ligares na Terra terá sido ligado nos céus, e aquilo que desligares na Terra terá sido desligado nos céus”. O contexto antecedente tem a ver com reconciliação com o irmão, e o contexto que o sucede afirma a necessidade do perdão em razão da graça descomunal que recebemos. Porque, como diz Paulo: “Fiel é a Palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo morrer pelos pecadores, dos quais eu sou o principal”. Quem se sabe dos pecadores o principal, sabe-se também dos pecadores o que mais tem que perdoar. Para sempre. Aquele que se sabe dos pecadores o principal não é porque entrou num concurso de pecaminosidade; é porque ganhou a consciência da sua própria natureza e chama para si as implicações de dizer; eu me incluo entre todos os que igualmente pecaram e carecem da Glória de Deus; e careço mais que todos, porque dos pecadores eu sou o principal. Nesse pecado superabunda a graça dessa consciência sincera, de quem já está justificado para todo o sempre. Paulo diz que não há poder no céu, na Terra, nem em dimensão alguma que possa se opor e se interpor a esse Amor de Deus, que se vincula a nós pela fidelidade dele conosco. E uma vez que isso está estabelecido, nós vimos que a vocação do discípulo é para declarar o mundo inteiro perdoado.
Toma a tua cruz e segue-me significa dar o primeiro passo da cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. A vida do discípulo é vida de perdão; do contrário, Jesus não diria para amar até o inimigo, para orar por quem o persegue. A vocação do discípulo é esta. Ele não deve ter nenhuma caixa para guardar amarguras ungidas; não deve ter dentro de si qualquer reservatório para aconchegar as ranzinzices, as feiuras, os ódios, as vinganças, mesmo que o outro seja um recalcitrante.
O Evangelho não criou esse lugar no coração do discípulo e jamais criará. A religião, sim. A religião tomou para si o direito de dizer que, de uma determinada hora em diante, não devemos mais orar pelo inimigo; não devemos mais amar aquele que nos persegue; que de uma determinada hora em diante, nós viramos judeu, e devemos declarar o outro publicano e pecador e o expulsar de nosso meio. De uma determinada hora em diante, ganhamos permissão para deixar o Evangelho de lado e praticar as nossas processualísticas de rito, de disciplina romana. Mas tudo isso é contradição total com o espírito do Evangelho.
Então, o que Jesus está querendo dizer com “o que ligares na Terra terá sido ligado nos céus, e o que desligares na Terra terá sido desligado nos céus”? Tem a ver comigo em relação ao outro? Ou será que, antes de qualquer coisa, isso tem a ver comigo em relação a mim?
Note que, logo depois, Jesus falou: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles”. E Ele prossegue, dizendo que o que dois ou três concordarem a respeito do que pedirem ser-lhes-á concedido pelo Pai que está nos céus. A palavra usada por Ele, “concordarem”, é a mesma palavra para designar uma sinfonia; para designar algo harmonioso, que está sob a batuta do maestro do Evangelho: Jesus. Está tudo muito harmonioso – amor, graça, perdão, os tenores da misericórdia, os baixos da gravidade do amor de Deus.
A sinfonia: Onde dois ou três estiverem reunidos de fato em Meu Nome... E “Em Meu Nome” não significa apenas dizer: estamos aqui em nome de Jesus. Em muitos lugares leem o Evangelho – estão reunidos em nome de Jesus e o nome que está sendo invocado lá é o de Jesus. Mas ali está um antijesus, que não tem nada a ver com Jesus. Então, quando diz “reunidos em Meu Nome” significa dizer: reunidos no Espírito de Jesus, reunidos conforme o ensino de Jesus, conforme a compreensão da graça, da misericórdia e conforme a atitude de discípulo que todos devemos ter – que não é diferente da atitude de Jesus. Os discípulos estão sendo chamados é para seguir a Jesus. E estar reunido em Nome de Jesus é dar razão ao Evangelho – não contra alguém; é dar razão ao Evangelho em favor da vida. Estar reunido em Nome de Jesus é aquela atitude comunal, que pode ser de dois, de três, de tantos quantos sejam, mas tem o acordo com o mandamento do Evangelho. E Jesus disse: O meu mandamento é amor, é amem-se uns aos outros como eu vos amei – esse é o mandamento que Eu dou.
Então, ninguém tem de fazer mais nenhuma viagem bruxa. O que Jesus está dizendo é: se o acordo do amor estiver prevalecendo, se a sinfonia da graça estiver tocando entre vocês, se o mestre da regência dessa harmonia for o espírito do Evangelho, então, qualquer coisa que vocês pedirem, irão pedir com amor, como graça, e nunca como maldição. Ninguém jamais deverá se reunir para pedir uma providência súbita e rápida para destruir a vida de alguém, porque essa pessoa estaria tentando acabar com a vida dele. Nunca! O espírito do Evangelho tem de ser o de Jesus, o estímulo é para seguir os seus passos. Em Jesus não vemos nada disso, nem na hora de sua morte. Quando Pedro corta a orelha de um inimigo, Ele cura. Ele trai a fidelidade de Pedro, para não trair o Evangelho. A fidelidade de Pedro era instintual, animal, leonina. Jesus cura Malco e afirma o Evangelho sobre Pedro. Imagine se fosse dado a Pedro esse poder de ligar e de desligar: ele desceria a espada; não iria nem deligar. Cortaria ao meio. Faria o que o cristianismo fez. Isso é óbvio e simples de entender, quando olhamos para Jesus, quando Ele é a nossa chave interpretativa de todas as coisas, quando tudo tem de fazer sentido com Jesus e com o Evangelho!
Então, o que Jesus está dizendo é que se entre nós prevalecer o espírito do amor e da graça do Evangelho, se houver essa sinfonia de comunhão no amor de Deus, “tudo o que pedirem ser-lhes-á concedido”. Inclusive podemos orar por esse indivíduo que disse não à oferta do amor e crer no molestamento da graça de Deus com ele. Não para destruí-lo, mas para trazê-lo à consciência. Se mesmo aquele que está desligado da graça de Deus for objeto das nossas orações pedindo graça de Deus sobre ele, a graça de Deus sobre ele estará. Não é o mesmo princípio que Paulo usa em relação à mulher casada com o marido incrédulo, ou totalmente pagão, ou hostil, e vice-versa? Quando Ele diz: por causa do crente, daquele que se santifica na vontade de Deus, o outro é santificado. O princípio espiritual enunciado é esse.
Portanto, esse exercício de ligar é o exercício do perdão contínuo. Toda vez que perdoamos aquele que nos ofende, nós o religamos. E sempre que não perdoamos aquele que nos ofende, nós nos desligamos. Temos o poder de nos desligar, mas não temos o poder de desligar ninguém. Temos o poder é de nos religar aos outros, perdoando-os, mesmo que os outros não queiram se religar a nós. “Eles não sabem o que fazem” é o primeiro mandamento do discípulo levando a cruz. Além disso, qualquer outra perspectiva que sugira desligar alguém, apagar o nome de alguém do Livro da Vida, é antievangelho, é blasfêmia, é pecado.

O Evangelho não segue a lógica dos direitos humanos; a lógica do Evangelho é a Graça de Deus!!!

Então, o que significa “o que ligares na Terra terá sido ligado nos céus, e o que desligares na Terra terá sido desligado nos céus” senão que, de fato, recebemos a missão de viver ligando na Terra até aqueles que a Deus não querem se ligar? A nossa vocação sacerdotal no amor, segundo o Evangelho, é ligar os desligados, é praticar a violência do amor que liga até o alienado; é fazer o que João disse: mesmo que ele tenha pecado, rogue por ele. Rogue por ele, porque o amor cobre multidão de pecados. Paulo disse: cada um tem um Pai, tem um Senhor. Se fica em pé, para o Senhor está em pé; se cai, para o Senhor, caiu. A nossa vocação na Terra é para ligar. Quando achamos que temos o poder de desligar, Jesus diz: você não sabe de que espírito é. O Filho do Homem não veio para destruir, veio para salvar. Somente quem pode dizer “quem não é por Mim é contra Mim, que comigo não ajunta, espalha” é Jesus. A nós outros Ele nos deu o poder da relatividade de dizer: quem não é contra nós já está a nosso favor.

O Evangelho é outro departamento. Por ele, só vence quem perdoa. O vencedor é o que sai perdoando tudo; é um trator do perdão, na Graça de Deus, na Terra. Esse é o espírito do Evangelho.








R e v i s t a  P I T A D A  D E  S A L


Uma pitada do Evangelho da Graça em sua vida!!!

Ano VII - Nº 43 Mai/Jun 2014. Proibida a venda; distribuição gratuita.


PITADA DE SAL 7ª ANO!!!



Finalmente, irmãos,


tudo o que é verdadeiro,

tudo o que é respeitável,

tudo o que é justo,

tudo o que é puro,

tudo o que é amável,

tudo o que é de boa fama,

se alguma virtude há e se algum louvor existe,

seja isso o que ocupe o vosso pensamento.

O que também aprendeste,

e recebeste,

e ouviste,

e viste em mim,

isso praticai;

e o Deus da Paz será convosco.

Fp4:8 e 9


Editorial

 Olá, amigos,

PS nos traz como tema para reflexão a santidade. Um tema tão abrangente e profundo quanto distorcido.  A santidade é estraçalhada quando reduzida a manuais de conduta e rigores assépticos. Costumes pelos quais se norteiam e, principalmente, se controlam vidas.


A santidade, no entanto, é algo extremamente simples de se entender e alcançar e, por causa de sua simplicidade, torna-se complicada, desconhecida, indesejada e repudiada. Mais fácil é tentar seguir preceitos que falsamente nos dão méritos e ‘bônus’ de barganha com Deus e, o que é melhor para uma visão desfocada, manuais e reconhecimentos que garantem meios de comparação. ‘Quem é o maior entre nós?’.
Saindo dessa “visão cega”, porque cegada pelo príncipe deste século, PS nos propõe meditar de forma simples na simplicidade da santidade. Afinal, sem santidade ninguém verá a Deus.
A santidade para ser “santa”, segundo Deus, tem que está pavimentada em Sua Palavra. A Palavra de Deus nos santifica porque Ela é a Verdade que nos liberta de toda miopia, hipermetropia, astigmatismo, catarata... e até mesmo da cegueira.
A santidade não depende de homens, não se alia a ‘líderes’ fabricados como chamarizes para determinado fim, normalmente econômico. Nem vive em patotas que se acham superiores e proprietárias de Deus. A auto-titulada “igreja dentro da igreja”...
A santidade é fruto natural da intimidade com Deus. É consequência inerente de aliança e compromisso de um coração que tem fome e sede de Deus. A santidade faz com que nos associemos a outros que também buscam o Caráter de Deus.
A santidade é o Caráter de Deus expresso em nós. Deus não Se associa ao que não é puro, digno, real. Deus é Amor e só Se associa àquele que deseja com toda a força de seu ser viver o amor.
 Pense nisso com carinho,

Boa leitura,       
                                                                            Denise Gaspar

Palavra de Deus


 Disse Jesus em oração por nós:
 “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal.
Eles não são do mundo, como também Eu não sou.
Santifica-os na Verdade; a Tua Palavra é a Verdade.
Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo.
E a favor deles Eu me santifico a Mim mesmo, para que eles também sejam santificados na Verdade.” Jo 17: 17 a 19.


Eugene Peterson


Espiritualidade subversiva


1 - Foco, precisão e raízes


         A espiritualidade contemporânea carece desesperadamente de foco, precisão e raízes: foco em Cristo, precisão nas Escrituras e enraizamento numa tradição saudável. Nestes nossos dias de desvios e diletantismos, os cristãos evangélicos, ou seja, arraigados no Verdadeiro Evangelho, devem mais uma vez servir à Igreja fornecendo exatamente esse foco, essa precisão e esse enraizamento.
Tenho cinco conselhos sobre as questões da espiritualidade para todos os que têm fome e sede de intimidade e transcendência. Cada um desses conselhos oferece foco, precisão e enraizamento evangélicos à espiritualidade. Se nós mesmos conseguirmos captar isso bem, estaremos munidos dos elementos necessários para conduzir outras pessoas, uma condução verdadeiramente evangélica tão inegavelmente ausente em nossos dias.
1. Descubra o que a Escritura diz sobre a espiritualidade e mergulhe nisso.
Não se trata aqui de uma caçada por um punhado de textos, mas da aquisição de um imaginário bíblico – adentrar o vasto mundo da Bíblia e sentir o território, desenvolvendo um instinto a respeito da realidade. A revelação escriturística não é somente abalizada para ditar o que devemos crer acerca de Deus e determinar a maneira em que devemos nos comportar uns com os outros, mas também para formar e amadurecer nossa própria alma, nosso ser, em resposta a Deus. As Escrituras fornecem precisão não apenas às questões ligadas ao nosso ser, mas também às relacionadas ao nosso pensamento e às nossas ações. A espiritualidade que não esteja continuamente imbuída da revelação bíblica, e sempre em atitude de oração, em pouco tempo ou se enrijece em justiça própria, ou se dissipa em psicologia.
2. Evite a espiritualidade que não exija compromisso.

O compromisso pessoal com o Deus revelado em Jesus está no âmago da nossa espiritualidade. As espiritualidades passageiras da moda, dentro e fora da igreja, desconsideram ou negam o compromisso. O conselho evangélico situa as ordens do Senhor – creia, siga, persevere – no âmago de toda espiritualidade. O compromisso vitalício de fé para com Deus conforme revelado em Jesus Cristo é essencial para qualquer espiritualidade verdadeira.
“O êxtase não perdura”, escreveu o romancista E.M. Forster, “mas abre um canal para algo duradouro”. A fidelidade perseverante, focada e sem desvios confirma a autenticidade de nossa espiritualidade. Os predecessores para os quais nos voltamos em busca de ânimo nessas questões – Agostinho de Hipona e Juliana de Norwich, João Calvino e Amy Carmichael, John Bunyan e Teresa de Ávila – não desistiram. Permaneceram.
A espiritualidade sem compromisso é semelhante à sexualidade sem compromisso – rápida e circunstancial, superficial e impessoal, egoísta e desamorada -, no fim uma paródia da promessa inicial. Desprovida de compromisso, a espiritualidade, independentemente de quão sábia ou alvissareira, tem um curto prazo de validade.
3. Abrace os amigos na fé onde quer que os encontre.

Pode significar amigos em outra igreja, do outro lado da Cidade, em outro continente ou por meio de livros de outro século. A espiritualidade cava poços fundos em nossas tradições, e, em algum ponto, descobrimos que perfuramos o mesmo lençol freático.
Fui criado numa atmosfera de acirrado anticatolicismo. Ser católico romano era muito pior que ser descrente, pois os católicos eram os inimigos, soldados obedientes do anticristo, prontos para, do Vaticano, nos erradicar completamente, só aguardando as ordens. E então, um dia para minha grande surpresa, minha mãe, uma ministra pentecostal, retornou para casa de um retiro que havia dirigido, e falava com um tom caloroso e de gratidão sobre várias freiras que ela havia conhecido. Não demorou muito e logo ela estava se referindo a elas como “minhas” freiras. As “irmãs” tinham se tornado suas irmãs.
Essa é uma experiência comum em nossos dias de restauração da espiritualidade. Encontramo-nos orando com quackers e ortodoxos, freiras carmelitas e menonitas pacifistas. Batistas casam-se com presbiterianos, e anglicanos jogam com metodistas.

4. Mas depois volte para casa e examine sua própria tradição.

A sede por uma espiritualidade mais profunda, uma vida cristã em que Deus recebe credibilidade nas circunstâncias do cotidiano e nos relacionamentos travados, é quase sempre acompanhada de um senso de privação; desconfiamos de que nossa igreja, nosso pastor, nossa família não nos legaram o que era nosso direito, e que não fomos guiados e nutridos nos caminhos da santidade saudável. Essa sensação de privação muitas vezes se transforma em ira: “Por que você não me falou sobre isso? Por que você usou minha fome de Deus para me recrutar para seus projetos religiosos? Por que você achatou meu desejo por Deus transformando-o em explicações que me fariam ficar quietinho em meu lugar?”.
Irados diante do nosso empobrecimento, não podemos deixar de notar as igrejas e os movimentos que parecem melhores. Vemos lugares e pessoas que estão se arriscando em amor e em Deus, e sabemos que prosperaríamos se apenas pudéssemos viver entre eles. Eles já nos estimularam e nos nutriram de forma maravilhosa. Preparamo-nos para abandonar o barco.
Nossos conselheiros mais sábios normalmente nos mandam ficar onde estamos. Cada lugar, cada congregação, cada denominação tem uma rica tradição espiritual a ser descoberta e explorada.
O evangelicalismo é também uma tradição – representando séculos de oração e vida santa, testemunho e sabedoria, bem como tesouros para nosso alimento. Recupere o que é seu por direito aprofundando-se, não se afastando. A grama não é mais verde do outro lado da cerca. Cada comunidade religiosa tem seus pontos de insensibilidade; sua tarefa é cavar poços em seu deserto.
O barão Friedrich von Hugel, um leigo católico romano, foi um dos diretores mais respeitados da Inglaterra nos primeiros anos do século XX. À medida que homens e mulheres eram por ele influenciados e buscavam orientação, não poucas vezes queriam tornar-se católicos. Ele jamais incentivou que isso acontecesse. Insistiu em que permanecessem onde estavam, como presbiterianos, anglicanos e batistas. Constantemente enviava as pessoas de volta à igreja deles. Há muita perfuração de poços a ser realizada em nosso próprio quintal.
Há, sem sombra de dúvida, casos excepcionais. Mas a espiritualidade normalmente não prospera por transplante. Aqueles dentre nós que repentinamente se despertam para a rica herança que todos nós perdemos todos esses anos, os quais querem agora tornar-se ortodoxos, católicos ou carismáticos, precisam perguntar se Jesus não está falando consigo na ordem que deu ao endemoninhado de Gerasa por Ele curado, o qual, tendo implorado para retornar com Jesus para a Galiléia, foi enviado de volta à “igreja” onde havia crescido: “Vá para casa, para sua família e anuncie-lhes quanto o Senhor fez por você e como teve misericórdia de você”, (Mc5:19).

5. Procure guias maduros; dê honra aos líderes sábios.
Há muitos amigos e pastores, professores e sacerdotes, irmãos e irmãs santos entre nós. Mas eles não fazem propaganda de si mesmos. Procure identificá-los. Busque a companhia deles em pessoa, ou por meio de livros.
Uma vez que o apetite por Deus é facilmente manipulado e assim transformado numa atividade consumista, necessitamos desses amigos sábios e sensatos como guias e companheiros. Há empresários que veem a fome generalizada pela espiritualidade como um mercado e estão vendendo alimento de baixo valor nutritivo, embora fácil e atraente. A ingenuidade dos incautos que compravam relíquias de monges itinerantes na Idade Média – lascas de madeira da cruz original, ossos de dedos dos santos, alguns pedaços de fios do manto sem costura de Jesus – encontra seu correspondente mais que perfeito nos americanos no que se refere às questões da espiritualidade.
Desde o berço, somos instruídos a ser bons consumidores. É compreensível que procuremos satisfazer nossa sede por Deus da maneira que fomos criados. Mas não é escutável, pois temos nos evangelhos um claro conselho que nos afasta desse mundo consumista: “Bem-aventurados os pobres... negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me... Não amem o mundo nem o que nele há”. E o conselho do nosso Senhor é confirmado e expandido de inúmeras maneiras por nossos sábios predecessores evangélicos na fé.
A espiritualidade não é a última moda, mas a verdade mais antiga. A espiritualidade, a cuidadosa atenção que dispensamos ao Deus vivo e a nossa resposta fiel que Lhe damos na comunidade, está no cerne de nossas Escrituras e está à mostra por todos os séculos de Israel e da Igreja. Já estamos nisso há muito tempo. Temos quase quatro milênios de experiência para o qual nos voltarmos. Quando alguém lhe passa um novo livro, estenda a mão e pegue o velho. Isaías tem muito mais para nos ensinar sobre a espiritualidade do que Carl Jung.


2 - A santidade é a revolução


 A santidade é a qualidade mais atraente, a experiência mais intensa que podemos ter na vida – uma vida autêntica, recebida da fonte original, não uma vida observada e desfrutada de longe. Vemo-nos participantes das operações do próprio Deus, não conversando sobre elas, nem lendo sobre elas. Mas, no exato momento em que nos encontramos inseridos em algo muito maior que nós, percebemos que é muito possível que cheguemos a nos perder.
 A santidade é uma fornalha que transforma os homens e as mulheres que se aproximam muito. Santo, santo, santo não é tapeçaria cristã – é a bandeira de uma revolução, a revolução.
Foi assim que aconteceu com Isaías; preste bem atenção, pois é como também acontece conosco.
Em primeiro lugar, existe um senso esmagador de precariedade, de pecado, de falta de merecimento: “... Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de impuros lábios”, (Is6:5).
Medir nossa vida pelos padrões estabelecidos por nossos cães, gatos e vizinhos é lamentável. Preciso do Santo para perceber minha impiedade. Esse excesso de vida me leva a perceber meu déficit de vida. Estamos perdidos desde que saímos do Éden, vagueando pelo mundo, procurando nosso lar e, enquanto essa busca se desenrola, sujando-nos muito.
Em segundo lugar, há misericórdia e perdão. Há purificação. Nossos lábios são tocados com fogo purificador (6:6,7). É nossa necessidade básica, fundamental. Sem o Santo, achamos que podemos melhorar nossa vida simplesmente avançando. Mas, depois, quanto mais longe seguimos, mais erramos o alvo. O pecado e a impureza se manifestam assim que abrimos a boca, sempre que abrimos a boca, mesmo em nossas conversas mais polidas e decorosas. Mas o primeiro interesse de Deus por nós é para consertar exatamente isso: o anjo, a testemunha flamejante da Santidade de Deus, queima as impurezas, o pecado em nossos lábios. O interesse primordial de Deus em nós não é para nos condenar, mas para nos perdoar. “Pois Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dEle” (Jo3:17). Aceitação, não rejeição. A santidade não mais fora de nós, mas dentro de nós. Se não permanecermos perto do Santo tempo o bastante para primeiro perceber e depois experimentar aquela brasa viva em nossos lábios, passaremos a vida em trágica ignorância a respeito de Deus e de Seus caminhos.
Em terceiro lugar, a palavra de Deus é proferida: “Quem enviarei?”, (6:8). Deus fala em contornos vocacionais; há uma obra a realizar. Santidade sempre envolve essa palavra de Deus: Deus falou a Moisés na sarça em chamas; Deus falou a João na visão de Patmos; Deus falou a Isaías no templo de Jerusalém. A ebulição, o transbordar da vida presente na santidade não é algo para ser açambarcado, mas algo para ser entregue, espalhado ao redor, comunicado e posto em funcionamento. A santidade nunca pode ser limitada a uma experiência emocional, devocional, que cultivamos a fim de “nos sentirmos espirituais”. Ela traz em si um conteúdo de comando. A santidade não é uma experiência de sublimação que nos abstrai do mundo do trabalho; é um convite para entrarmos naquilo que Deus está fazendo e pretende que se realize no mundo. E é para todos, pois esse não é um texto voltado para uma elite ou uma aristocracia ministerial.
Em quarto lugar, a palavra de Deus obtém resposta: “Eis-me aqui. Envia-me a mim!”, (6:8). Aceitamos o convite de Deus, preparando-nos para obedecer a tudo que Ele ordene. Arregaçamos as mangas e nos aprontamos para o trabalho. Mas não é um trabalho imposto; o chamado é proferido em forma de pergunta, convidando a uma resposta; e temos a liberdade de dizer “sim” ou “não”. Por mais que essa palavra seja impulsionadora para alguns de nós, nunca é coercitiva. Somos convidados a ingressar.
A questão é esta: o menor traço de santidade tem o poder de desencadear em qualquer um de nós essa reação em cadeia de um viver santo. Embora perigoso, pois certamente perderemos nossa vida do jeito que imaginamos que seria (“... nosso Deus é fogo consumidor!”, Hb12:29), o Santo nos impulsiona, em geral somente nas extremidades distantes de nossa consciência, em cada fibra de nosso ser criado por Deus. Deus, o Deus Vivo, é aquilo de que nós homens e mulheres mais profundamente temos fome e sede, e o Santo, passando (ou explodindo!) pelos compartimentos em que habitualmente confinamos e depois etiquetamos a vida, abre nosso apetite.
Esse contexto e esses quatro elementos são normativos, algo a que todos precisamos acolher e ficar atentos. Mas há mais uma coisa na experiência de Isaías que não é necessariamente normativa, mas acontece com tamanha frequência, que precisa ser mencionada.
Quando Isaías é propelido para um viver santo e se acha engajado num trabalho santo, ao mesmo tempo é informado de que não terá grandes resultados. Será um pregador, mas um pregador que chama a atenção somente para o fracasso. Pregará com incrível poder e eloquência, e as pessoas dormirão no meio de seus sermões. Como se verá, terá acesso direto ao rei Acaz, penetrará os meandros das operações políticas, e seu conselho sábio e religioso será desprezado. O resultado final de uma vida inteira de pregação ordenada por Deus e abençoada por Deus é que o país será destruído – “totalmente devastados”, (6:11). Os assírios atacarão e devastarão o local. Parecerá uma floresta que foi dilapidada por lenhadores vorazes – feia, desfigurada, estéril -, com todas as árvores abatidas e levadas embora, não sobrando nada senão troncos, um país todo de troncos. Esse foi o sermão que Deus entregou a ele no dia de sua ordenação: “Isso é o que acontecerá, Isaías, depois de uma vida inteira de serviço. Este é o resultado de sua imersão em santidade, sua confissão sincera e fala purificada, sua vocação nas santas ordens. Troncos. Uma nação de troncos”, (cf6:9-13).
O embrião da história encontra-se nos capítulos 7 a 9 de Isaías, os quais precisam ser estudados muito mais do que são, especialmente por cristãos intoxicados por histórias de sucesso e deslumbrados pela conversa fiada e pela escamoteação dita evangélica.
No fim do texto está a frase pungente: “... a santa semente será o seu tronco”, (6:13).
É mesmo? A palavra “santo” mais uma vez, mas desta vez aplicada a um substantivo totalmente pouco apropriado. Não os hinos santos dos anjos enchendo o templo com música magistral, transformando o mundo de Isaías e transformando o próprio Isaías em seu mundo. Não a santidade que flameja de uma sarça no deserto, ou que explode numa visão diante de um prisioneiro em árduo exílio. Não a santidade que fica evidente nas palavras e nos atos de Jesus, os quais revelam a vida abrangente, cheia de energia e graça da Trindade em direção a nós.
Nada disso agora. Em vez disso, um tronco acachapado. Um tronco num campo de troncos. Mas o tronco traz em si mais de que qualquer pessoa possa supor: “... a santa semente será o seu tronco”. O tronco, por mais improvável que pareça e contra tudo o que representa, é a semente santa de onde a salvação crescerá. Cinco capítulos depois, chegamos a esse tronco mais uma vez, mas agora com certo refinamento:

“Um ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo. O Espírito do Senhor repousará sobre Ele, o Espírito que dá sabedoria e entendimento, o Espírito que traz conselho e poder, o Espírito que dá conhecimento e temor do Senhor”. Is11:1-2.
Todos nós sabemos como isso depois se cumpriu: Jesus. E assim cantamos com alegria e gratidão os louvores de nosso Senhor Santo. Por mais que cantemos esses louvores em alto e bom som, cheios de júbilo, jamais será o suficiente, mas ao fazê-lo não podemos perder o contato com aquele tronco. Pois com muita frequência aquele tronco caracterizará e dominará a nossa vida. Foi o que aconteceu a Isaías.
Nunca, nunca se esqueça daquele tronco santo.
O mundo, a carne e o diabo estão todos trabalhando em tempo integral para encher nossa mente e emoções com imagens e desejos de uma vida “melhor”, uma vida abundante que em nada se relaciona com Deus e, portanto, desconsidera o Santo. Eles não somente controlam os meios de comunicação que propagam suas mentiras e lhes conferem todo o encanto, mas também se infiltram em grandes partes da igreja, interpretando a vida cristã para nós de tal forma que somos treinados a evitar ou a desprezar tudo o que não nos prometa gratificação. Quero fazer frente a essas mentiras fascinantes junto com Isaías e seu tronco santo. Parece uma contradição? Santo... tronco? Mas tudo nas Escrituras e no evangelho nos diz que isso é verdade, a realidade de Jesus e de nossa vida em Jesus e com Ele.
Vida que brota da morte. Beleza que começa na feiura. Uma santa revolução.
O viver santo – que implica sermos agentes da revolução do Santo – requer que sejamos obedientes no lugar em que nos encontramos, fiéis no trabalho e na adoração. Muitas vezes, as circunstâncias são de deserto. Mas, se há algo de que possamos estar plenamente seguros é que o Santo, a vida inadministrável, mas irreprimível de Deus, está sempre presente e oculto dentro de nós e ao nosso redor. Imprevisivelmente, mas com toda a certeza, de tempos em tempos irrompe em nossa percepção: a sarça arde, os céus se abrem, o templo estremece, o tronco dá um rebento verde. Santo, Santo, Santo. Mas não espere que seja notificado pelo jornal da cidade.
Amém.

Eugene Peterson. Espiritualidade subversiva. Ed. Mundo Cristão.


Coluna Denise Gaspar
Santidade: Agente da revolução
 Peterson diz que “a espiritualidade não é a última moda, mas a verdade mais antiga”.
Não é somente a verdade mais antiga, mas ainda o verdadeiro agente de transformação na vida de alguém. 
Santidade é o agente da verdadeira revolução.
Quando nos ligamos a Deus as coisas velhas, os valores antigos, os interesses que dirigiam nossas ações e escolhas, passam a não ser mais o centro de nossa vida. Na verdade, morrem, porque morre o velho homem e tudo se faz novo. Somos, então, nova criatura. É a “segunda chance” que muitos dizem querer na vida; a oportunidade de recomeçar com a certeza de se andar pelo Novo e Vivo Caminho.
Quando nos rendemos ao Senhorio de Cristo de coração sincero, ou seja, quando Ele passa a Reinar em nós, nosso espírito se faz um com o Espírito dEle.
Nesse momento somos santificados, feitos santos porque unidos a Ele. No entanto, santidade também é um processo. A cada passo no convívio com Cristo, cada dia, cada aprendizado vai nos santificando,  vai nos dando um novo sentido, um novo rumo. E o que era importante, imprescindível vai se apagando, esmaecendo como a chama de uma vela.
Assim, tudo se faz novo. É a Nova Vida!
A partir daí não existe mais a separação entre o secular e o espiritual. Tudo é espiritual. Ele Reina em todas as áreas de nossa vida. Nosso alvo agora é o céu.
(Como tenho meditado sobre isso. As pessoas, de uma forma geral vão pensando e agindo como se nosso alvo em Cristo fossem conquistas humanas. Nosso alvo agora é a Nova Canaã, é a Vida Eterna, é a Companhia do Todo Poderoso que, por Amor, criou o Caminho de Reconciliação para nós. É incrível como se troca algo tão maravilhoso, por benefícios temporais. Quanto tempo vamos viver? Aquele que foi curado, um dia vai morrer de qualquer jeito. Deus cura! Ressuscitou a Lázaro, só que este não está vivo para contar a história. Um dia, como todos os outros de sua geração, ele morreu. Sabemos do milagre porque ficou registrado. Maior milagre ele viveu, sendo amigo de Jesus.).
Por isso, a espiritualidade verdadeira ou subversiva, como a chama nosso irmão Peterson, é a que tem Jesus como seu Senhor.
A espiritualidade subversiva é o verdadeiro agente da revolução porque movida à santidade.
Santidade é a Presença de Deus em nós. Sua Presença subverte a ordem constituída nesse mundo tenebroso e estabelece a comunhão do ser humano com o Pai.
Santidade é resultado de nossa proximidade e rendição a Deus. Santidade é fruto do novo nascimento. Santidade é a consequência da Presença de Jesus em nós, de Seu Senhorio.
Jesus é o Verbo que Se fez homem. Jesus é a Palavra.
A Presença de Deus nos santifica pela ação de Sua Palavra em nosso coração e nos constrange a amar e a anunciar a Graça que nos alcançou. É o prazer de Sua Presença que nos transforma e tudo porque nos concede a nova vida.
Ao desfrutar a presença de alguém que amamos abrimos mão de várias outras coisas e até de outras companhias. Lembra de quando você se apaixonou pela primeira vez? Só sentia prazer na companhia da ‘pessoa amada’, deixava de fazer muitas coisas só para estar junto e compartilhando uma conversa boba, uma piada sem graça, um filminho qualquer.
A comparação é bem limitada porque muito maior é o prazer que temos com a companhia de Deus. Queremos estar todo o tempo com Ele, conversar, compartilhar as experiências, ouvir Seu ensino, aprender, obedecer, vivenciar todos os momentos juntos.
Isso é santidade! É querer só Jesus, só o que vem dEle. Nada mais nos interessa, nada mais nos chama atenção, nada mais nos envolve.
Queremos falar dEle, queremos que outros O conheçam, queremos que nossos amigos e amados O conheçam e O amem como nós O amamos. Esse amor nos impulsiona a anunciar o Abençoador.
A Presença de Deus e a santidade não nos garantem, de forma alguma, as vitórias e ganhos anunciados pela teologia da prosperidade. Suas Verdadeiras Promessas são maravilhosas.
A santidade é sustentada pela certeza do Caráter do Pai. Sabemos Quem Ele É. Deus é Amor, Paz, Justiça, Alegria. Essa certeza dissipa todo e qualquer interesse por algo que não seja Ele, nem dEle e, mais ainda, desfaz todo interesse pelo que desagrada a Jesus.
A santidade é a característica de quem ocupa sua vida com a Vida de Jesus. Não há espaço, não há tempo para mais nada que não seja Ele, para o que não seja Amor, Perdão, Graça, Justiça, Alegria, Reconciliação, Misericórdia, Paz... VIDA!
Quanto ao desejo de compartilharmos as Boas Novas quero certificar de que uma vez anunciada a Palavra de Deus, Ela não volta para Ele vazia. Ou seja, Ela cumprirá o propósito para o qual foi designada. Então, embora, algumas vezes, pareça não florescer; embora nossa santidade e prazer em amar e anunciar o Amor possam parecer infrutíferos e, de alguma maneira, pareça nos trazer danos, perdas ou dores, uma coisa é certa, (e eu, particularmente, creio com todo o meu ser nessa verdade), Ela cumprirá o desígnio para o qual foi mandada. Deus tem prazer na salvação dos homens. Por isso, nasceu, viveu e morreu como homem para pagar o preço de nosso resgate. Ele quer que todos sejam salvos. E ninguém, ninguém mesmo, poderá chegar diante dEle e dizer que não soube ou não teve oportunidades. Elas estão sempre aí. Deus faz questão de Se revelar a quem O busca com sinceridade de coração. Não importa onde esteja, nem em qual tempo tem vivido. Ele Se faz anunciar, Se apresenta com Amor tamanho.

Coluna Paulo de Tarso 


“O mesmo Deus da Paz vos santifique em tudo;
e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros
e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.
Fiel é o que vos chama, o qual também o fará.
A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco”. 1Ts5: 23  e 24.









R e v i s t a  P I T A D A  D E  S A L

Uma pitada do Evangelho da Graça em sua vida!!!

Ano V - Nº 36 Mar/Abr 2013. Proibida a venda; distribuição gratuita.





Editorial

 Na edição passada, Pitada de Sal nos trouxe uma reflexão extremamente madura e profunda do significado do convite de Jesus sobre o ‘negar-se a si mesmo’. Através dos lábios do pr Caio Fábio, Deus nos deu algo muito maior do que um manual de sims e nãos, um conjunto de  regras sobre o que abandonar e o que adotar como prática de vida.  Ele ministrou a importância da Presença dEle, sem O quel nada somos nem nada podemos fazer.
Nessa edição, Ele continua a nos ministrar em cima do mesmo versículo: “Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me”. Mt 16:24. Só que agora tratando sobre o ‘tomar a sua cruz’.
Convido você a ler com calma, o tema não é fácil, e para dizer a verdade, não é muito palatável comparado ao amontoado de coisas que têm sido ditas por aí. No entanto, é a Palavra de Deus. Leia em oração pedindo a Deus que abra nossos entendimentos para receber dEle aquilo que Ele verdadeiramente quer nos ministrar.
Que o Senhor Jesus abençoe sua vida e seu lar e que você tome a decisão certa: a de querer.
Pense nisto,
                                                          Denise Gaspar

Coluna Caio Fábio

Tomar a cruz – Ele levou sobre Si o pecado de todos nós

Ele simplesmente disse: Se alguém quiser, se for decisão sua... você tem que querer.
Então, quando Ele diz se alguém quer, a primeira coisa que Ele faz é mandar negar o self. Esta decisão é a mesma que diz: Agora eu entendo a diferença entre o que seja eu e o que seja meu falso eu, meu self, meu si mesmo, como todos os valores a ele agregados, formando esse produto fantasioso, esse fetiche de ego, que é o meu eu. Então, já sei o que Deus chama de eu e sei também que existe a chance do eu sadio. O eu sadio não é sinônimo de egoísmo. O egoísmo é uma doença do self. O eu nem existe, praticamente, até que ele seja energizado pela Palavra de Deus em nós.
Foi exatamente isso que Paulo diz em Efésios2. “Ele nos deu vida estando nós mortos em nossos delitos e pecados”. Ou seja, estávamos vivamente mortos, animadamente mortos, intensamente mortos, construindo impérios, e mortos, devorando pessoas, e mortos. Jesus é que nos deu o que Ele chama de Vida. Nós tínhamos existência. Uma existência almática, psíquica, espiritualmente falida e morta com um eu sem pulsão eterna, sem vontade da eternidade dentro de nós. Apenas animados pelos elementos circunstanciais que formam essa miragem de eu, que Jesus chama de si mesmo, que precisa ser negado para que possamos aparecer. Mas enquanto essas outras coisas determinam quem supostamente somos, nunca vamos aparecer.
Por isso Jesus diz que tem de negar a si mesmo. É o lado negativo disso, discernir o self e negá-lo. Mas, de outro lado, Ele diz que tem de tomar a sua cruz e segui-Lo. De um lado negamos; do outro, tomamos. Aí vem a ação de tomar a cruz. No último capítulo, vimos algumas dimensões desse tomar a cruz. Eu disse que a nossa cruz não é diferente do significado de tomar a cruz de Jesus, exceto por uma razão. A Cruz dEle salva o mundo inteiro; a nossa não salva nem a nós mesmos. A nossa é um exercício de tomar a cruz para a construção do ser que já está salvo em Cristo e que somente será moldado se fizermos o caminho dEle nesta via, nesta existência. Do contrário, neste mundo caído, somente cresce joio em nós, somente cresce self. Não cresce, espontaneamente, em nós, o eu, segundo Jesus. Esse tem de ser energizado pela Palavra da Vida dentro do nosso coração.
Agora que começamos a ser discípulos de Jesus, que aceitamos a morte do si mesmo, o tomar a cruz vai ter de significar um dilatamento interior, espiritual, existencial, para deixar seguir uma consciência nova, que é a mesma que brota das declarações que Jesus faz na cruz.
A primeira delas foi o grupo de soldados romanos e a turba alvoroçada que estavam ali fincando os pregos, fazendo-O sofrer, impondo humilhações ou coisas do gênero, e Ele, posto na cruz, olhou em volta e disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Se alguém quiser tomar a cruz de Jesus, a Cruz é essa. É essa a Cruz que Ele nos chama a tomar: perdoar o mundo, a humanidade inteira.
Um eu dentro de nós surge somente quando o si mesmo perdeu o poder de odiar o mundo, de brigar ou de se comparar com ele; Ah, não me entenderam, não me perceberam. Essas coisas todas das quais nos achamos vítimas. Tudo isso é doença do si mesmo. Jesus, na cruz, sem self nenhum dando ordens, sem nenhuma autoindulgência, olha a ignorância humana, e simplesmente diz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
O primeiro passo prático, a primeira mudança e alteração mental de significado e de valor a se instalar em nós deve ser essa disposição de perdoar.
Foi isso que Jesus disse. Esse é um princípio que está instalado para sempre: quem quer perdão, perdoa; quem não perdoa, não tem perdão; simples assim.
Veja quem são aqueles sobre quem você não consegue dizer: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Se você não puder passar por essa pessoa não tem discipulado. É melhor parar por aqui e pensar sobre o assunto. Minha vontade é ver nascerem alguns discípulos antes de prosseguirmos...
A decisão é em Jesus. Porque fomos perdoados do imperdoável, perdoamos tudo e todos os imperdoáveis.
Você quer ser discípulo? Então olhe agora no seu coração, veja quem são os ícones dos seus ressentimentos, antipatias, raivas, das suas impossibilidades de perdão. Você tem impossibilidade de perdão? Veja se há pessoas acerca das quais você diz: Senhor, eu perdoo o mundo inteiro, mas esse não! E se quiser saber a razão do não, é porque a pessoa fez mal ao seu self. Significando dizer que o self nem foi negado ainda, porque o eu não diria isso. O eu, segundo Deus, quer paz, amor, harmonia, sossego, silêncio interior, quer voz suave, brisa. Quer alegria que não seja o grito do agito, mas o gozo do ser. É isso que o eu verdadeiro quer. Por isso, eu pergunto de novo: Você quer ser discípulo?
Quando Paulo disse: “Fiel é esta Palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”, ele não estava com um argumentozinho retórico de piedade falaciosa. Ele sabia o que dizia. Ele somente estava olhando para ele mesmo e dizendo: Eu sei que, dos pecadores, eu sou o principal, até por causa de tudo o que eu sei. Porque alguns fazem o que não sabem, mas eu sou o principal porque todas as vezes que eu faço eu sei. Justamente por isso é que eu tenho de andar todos os dias da minha vida perdoando a todo mundo e dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
O discipulado começa quando nos dispomos a perdoar tudo, todos, por causa de tudo e de todas as coisas que em nós já estão perdoados. E o discipulado continua mantendo o coração certo de que o grande prêmio desta vida não é ser salvo de nenhuma calamidade humana. Não é ser arrancado de uma cruz, e não ser pregado em nada; não é ser poupado de nada, nem eximido de nada. Para o discípulo, depois que ele viu Jesus, discerniu Jesus, enxergou Jesus e compreendeu a glória e o ganho que é estar em Jesus, qualquer coisa que a ele aconteça é, na verdade, com justiça. Não tem demandas ou questões. Ele sabe que está aquém e nunca vai se encontrar além da referência porque é sempre um ser aquém dela. Por isso, seu descanso não está em si mesmo, nem na sua autoconstrução. Ao contrário, ele sabe que, nem que seja nos estertores, nos momentos finais da sua consciência, em qualquer que seja o tempo, a lucidez de Deus a ele chega e a ele visita. Se seus olhos abrirem e ele discernir Jesus, já o faz sabendo que já está tudo pago e consumado, está feito. O discípulo sabe que tem lugar no paraíso, não por causa dele, mas por causa de Jesus. O paraíso é o destino dele, não por causa dele, mas por causa dAquele que levou sobre Si as iniquidades de nós todos e é por isso ele anda pacificado. E é por isso que ele nunca une a sua voz aos clamores blasfemos desta vida, às vozes que aviltam a Deus, que trazem acinte a Deus, às vozes que trazem demandas a Deus – “se tu és, faze por ti e por nós”.
Para o discípulo, Deus É, Jesus É, o que importa é que Ele É. E o discípulo nEle  é lembrado no paraíso. E mais que isso, o discípulo vai descobrindo, à medida que caminha, que o paraíso não é só um lugar transcendente, mas é também um lugar existencial. Onde se está com Jesus, aí vai virando o paraíso. O paraíso é em nós também. Jesus em nós não é a esperança da glória? Jesus em nós é a presença antecipada e crescente das consciências do paraíso e da glória. Não se faz um discípulo sem transcendência do paraíso ou sem a imanência do paraíso.
Quem quer ter um eu verdadeiro, começa perdoando. Para receber Vida em Cristo, temos de abrir o coração para receber o Perdão que vem dEle. E quem recebe esse Perdão passa a ser servo do Perdão e da Graça. Isso é ser servo de Cristo.
Ser servo de Cristo é servo das coisas de pelas quais Ele viveu e morreu. Servo das coisas que Ele chama vida. E sem perdão, não principia vida na existência de todos nós. Não tente maquilar ou fazer uma relação diplomática com esses bichos aí dentro de você. Essa cachorrada tem de ser morta aí dentro. O que tem de nascer é essa disposição de Graça e de Perdão. E aí brota a cura.
Discípulo não é um ser que caminha sacrificialmente atrás de Jesus. Jesus não disse que a vida do discípulo seria um sacrifício. Disse que era uma Vida Abundante. Então, negando o si mesmo e tomando a cruz temos Vida Abundante. Vida Abundante é vida que não está escravizada ao ódio de ninguém. É perdoar a todo mundo, esse é o nosso chamado em Cristo.
Tomar a cruz – a humanidade do discípulo

Mais do que isso, esse si mesmo que Jesus disse que tem de ser negado, que tem de morrer, também é alimentado por principados, potestades, dominadores deste mundo tenebroso, forças espirituais do mal. É alimentado pelo príncipe da potestade do ar, que é o espírito que agora atua nos filhos da desobediência, que acabam se tornando aqueles que obedecem ao curso deste mundo. Que obedecem apenas ao fluxo da alma e que vão ficando cada vez mais encalacrados num processo escravizante, que, no fim, eles chamam de eu, de meu mundo, minha coisa, minha mente, meu futuro, meu interesse, meu orgulho, minha dignidade, minha reputação, meu nome, meu, meu, e que não é nada além de fantasia, carteira de des-classificação.
Esse é o self, que tem de morrer para então surgir o eu. Porém, esse eu, segundo Deus, somente nasce da morte do si mesmo e da decisão de tomar a cruz. E demanda uma vontade. É a coragem de tomar a cruz.
E já falamos sobre os significados desse tomar a cruz e ainda há muito que se falar. O tomar a cruz como decisão consciente de crer e de assumir que Jesus morreu não somente pelos nossos pecados, mas morreu por quem nós somos, morreu por causa da nossa psicose básica, morreu porque nós brigamos conosco e ficamos sem saber quem somos, e então gritamos: “Desgraçado homem que sou”! Quem me livrará do corpo desse engano, dessa morte, dessa conjunção de conflitos?
E quando se ouve “Graças a Deus por Jesus Cristo”, pela cruz, é aí que começa o tomar a cruz. É quando o tomamos consciência da justiça própria. Quando acaba a justiça própria e dizemos que morremos com Cristo – porque se não morrermos com Cristo não há vida para nós -, aí morre toda a presunção, toda vaidade, morrem todas as filosofias, morre tudo, para que da cruz nasça um eu conforme Deus.
Mas Ele levou sobre Si a iniquidade de nós todos. E compreender que o castigo que nos traz a Paz estava sobre Ele e pelas Suas pisaduras fomos sarados é a compreensão essencial do discípulo no tomar a cruz.
A maneira mais simples de entendermos isso seria olhando aquelas declarações que Jesus fez na cruz; porque são as declarações do Crucificado, dAquele que estava levando a cruz, que era a minha e era a dEle. Foi Ele quem levou a minha cruz e a de todos nós na dEle para nos ensinar o significado da nossa.
Vimos também que a primeira decisão de alguém que quer ser discípulo, que quer “tomar a cruz” é aprender a perdoar. “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.  Sem perdão ninguém se torna discípulo de Jesus. Não existem meios, nem malabarismos, nem batismos, nem trezentas correntes, nem qualquer que seja a tentativa ou barganha, que nos torne discípulo de Jesus sem perdão.
Podemos ser discípulos de Jesus estando culpados. Não podemos ser discípulos de Jesus estando culpados por não perdoar. Jesus tem discípulos culpados, mas nenhum que seja culpado por não perdoar, porque se não perdoar, não pode ser discípulo. Para ser discípulo tem de ser discípulo que perdoa, para que a Misericórdia venha sobre ele; para que ele, por exercer misericórdia, alcance Misericórdia, em vez de se tornar um credor incompassivo e perverso. Simplificando a história inteira.
Também vimos que quem é discípulo sabe que qualquer coisa que a ele aconteça, acontecerá com justiça. Ele já desistiu de qualquer justiça própria, filosófica ou de qualquer outra natureza. E ele sabe que também não há nenhuma relação entre catástrofe humana e o Amor de Deus. Que pode ser envolvido por uma malha de injustiça e perversidade, mas isso nada tem a ver com o Amor de Deus. Que pode morrer crucificado, mas isso não tem nada a ver com o Amor de Deus. Sabe ainda que a única coisa que tem a ver com o Amor de Deus, nesta vida, não tem nada a ver com o modo que vivemos ou com o modo aterrador com o qual possamos morrer. A única coisa que tem a ver com o Amor de Deus é que Aquele que deveria nos condenar resolveu, como Paulo disse, nos justificar. E disse: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.
O tomar a cruz não pode ser a cruz da minha invenção, mas a cruz proposta por Jesus de acordo com aquilo que Pedro diz na sua primeira carta. É a cruz que Ele tomou para que seguíssemos os Seus passos e andássemos segundo Ele. Nesse espírito, o que vem adiante é a certeza de que, para o discípulo, o tomar a cruz implica visceralidade da admissão da sua humanidade.
Vemos o tempo todo Jesus afirmando, com misericórdia, todas as necessidades, condições e circunstâncias da carência humana, encarando-as sem escândalo. O escândalo, para Ele, era o fingimento da não existência de necessidade, da vida farisaica, da vida impermeável, da vida de negação da humanidade.
Ele é Aquele de quem se diz que nos estertores daquela viagem, daquela passagem ao encontro da cruz, estava sentindo tristeza, angústia de morte. A minha alma está profundamente triste até a morte. Essas são as declarações de humanidade da cruz, com a culminância deste grito último sobre a condição do próprio corpo, da necessidade de comer, dormir, de descansar, de se alimentar, de se cuidar, de ser cuidado, de saber seus limites, de admitir a finitude, a mortalidade, a fragilidade, de dizer: Eu tenho sede. E como as mãos estavam pregadas, Ele estava pedindo que Lhe dessem de beber. Porque enquanto Suas mãos não estiveram pregadas, Ele andou na direção do poço sem se importar com as interpretações. Mas como agora Ele está pregado, Ele ensina que o discípulo não tem de ter vergonha de, na sua impotência, dizer: Ajude-me. Eu estou com sede e não tenho como me ajudar. O discípulo confessa necessidade humana, fraqueza humana, impotência, carência humana, mas não aceita qualquer coisa.
Então tomaram um caniço, nele puseram uma esponja, embeberam-na numa mistura de vinagre e fel e Lhe trouxeram à boca; Ele, porém, provando, não a quis beber. Porque não é por estar limitado, impotente, condicionado, carente e sedento que Ele vai aceitar fel e vinagre em vez de água.
O discípulo, carregando e tomando a cruz, admite a sua condição e a sua necessidade, mas não bebe o que não é verdade, o que não é vida. Não bebe. O interessante é que aquela mistura química, alguns estudiosos desses costumes antigos disseram que, à época, era utilizada na intenção de que funcionasse como anestésico, como diminuidor da dor. E Jesus não aceita esse diminuidor da dor da condição humana. Ele não quer sentir menos. Ele quer beber água; mas não sendo água, não quer não sentir a vida em troca de um paliativo, ou por causa de um factoide existencial. Então, ou é realidade, ou é água, ou não serve. Ele não quer.
O discípulo de Jesus não é assenhoreado pela carência, nem pela fuga e nem pela evasão. Ele admite a necessidade; apenas não admite a fantasia como proposta para a realidade, porque, se não for água, Ele não bebe.
É a manifestação de que ele precisa, como discípulo, saber que o tomar a cruz implicará aprender a conversar com Deus, em amor, sobre o assunto, aprender a lidar com o Pai, mesmo quando tudo parecer desamparo, absurdo, abandono. Quando tudo parecer não fazer nenhum sentido, ele terá ainda de saber, sem ser com a boca, mas com a verdade instilada no espírito, chamar a Deus de Deus meu, de Deus da minha vida, de Deus do meu ser, de Deus da minha existência; ainda que ele tenha, ao final da vida, de dizer: “Por que me desamparaste”?
Não existe a alternativa de não experimentar o mal. Jesus disse: “Pai, Eu não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”. E o melhor lugar para ser livre do mal é no mundo. O pior lugar para ser livre do mal é na evasão do mundo, no ajuntamento dos neuróticos e paranoicos sobre o mundo, formando um monastério.
Vamos sendo forçados a crescer na vida. Sendo forçados a nos gloriar nas próprias tribulações, sabendo que sem “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” acontecendo na alma humana, sem essa tribulação não se gera perseverança, não se gera experiência, não se gera esperança e nem se gera aquela segurança que já não mais se confunde, porque o Amor de Deus é derramado em nossos corações.
É no “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” que vamos aprendendo a servir a Deus por nada, por coisa nenhuma, sem nenhum espírito de recompensa, sem barganha. Servindo a Deus por Deus. Não estou entendendo o desamparo, mas o Senhor é meu Deus.
Ele está interessado em parir corações, em acolher e não ter medo de ser acolhido, em não brigar contra o Amor. Isso faz parte de tomar a cruz.
Tomar a cruz – cancelado o escrito de dívidas

A introdução do tema igreja – Eclésia, os chamados para fora -, foi feita enquanto Jesus ia pelo caminho, viajando da Galiléia para Cesaréia de Felipe, porque a igreja é uma comunidade andante, hebreia, que tem de estar sempre pisando no chão único do Evangelho, no caminho que enfrenta a realidade da vida. Se ela enfrenta as portas do inferno, por que não andará no chão da vida e do mundo? O chamado do todo para o ajuntamento dessa comunidade de consciência, aconteceu pela primeira vez também em Mateus 16. É um anúncio feito a discípulos, porque igreja somente existe se ela for feita de discípulos. Se os membros não forem discípulos, ela é um clube, uma igreja entre aspas. Se os que dela participam forem discípulos, ela é Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Propositalmente, Jesus escolheu fazer este anúncio da inserção deste corpo de sal na terra e luz do mundo justamente numa das cidades mais pagãs de Israel, pagã desde sempre – e nunca deixou de ser -, que é a região do Hermom, nas nascentes do Jordão, a Cesaréia filipal, cheia dos nichos e dos deuses. E Ele anuncia que Igreja não tem de estar separada, mas inserida no mundo. Isso acontece na direção da paganidade, porque para ser Igreja de Deus não pode ser sal no saleiro; tem de ser sal na terra, e onde a terra for mais insípida tanto mais ela deve se inserir, se fazer presente, necessária dando gosto à existência.
O convite ao discipulado explícito é claro: “Então, disse Jesus a Seus discípulos: Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me”. Se é uma condicional; precisa ser fruto de uma escolha, e o indivíduo tem a alternativa de não querer ser discípulo.
Discipulado, em João, capítulos 15 e 17, é descrito como amizade de Jesus. “Vós sois Meus amigos se fazeis o que vos mando. Se fazeis o que Eu vos mando, Eu não vos chamo servos, Eu vos chamo amigos”.
O caminho para a amizade de Deus é o caminho do discipulado, que é uma alternativa. “Quereis vós porventura também retirar-vos?”, é a pergunta que Jesus faz de vez em quando. Se o pessoal vai ficando profundamente entediado, na realidade ou por afetação, Ele começa a perguntar: Por que vocês não pensam em dar uma volta, em tirar férias, qualquer coisa? Mas se é para ser Meu discípulo, é para se engajar, porque ninguém que tenha posto a mão no arado e olha para trás é digno do Reino de Deus.
Existe a alternativa de não ser discípulo, de não segui-Lo, de não obedecê-Lo. E existe a alternativa de fazer de conta que se é alguma coisa dEle sem que se seja, que é o que a maioria acaba escolhendo.
Mas se não obedecerem a Jesus, poderiam estar em outros lugares. Para ser Igreja tem de ser discípulo, tem que obedecer ao mandamento de Jesus: “Vós sois Meus amigos, se fazeis o que Eu vos mando...”.
Então perguntamos: Qual é o mistério? E Jesus diz que, como Deus é Amor, o mandamento dEle é Amor. E esse é o segredo do universo: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Quem andar assim é Meu amigo, Meu discípulo. Existe a alternativa de não Me obedecer; e até a de fazer de conta. Mas se alguém quer, tem de querer, embora seja Deus quem efetua em nós o querer e o realizar. Isso é assunto de Deus; mas como eu não sou Deus, eu somente lido com o que me diz respeito. Deus é quem sabe o que Ele está fazendo quanto a querer e realizar. Se eu sei disso, então eu tenho de parar de ficar dizendo: Senhor, me faz querer!
Isso é transferência. Ouvimos muitas orações responsabilizando Deus por nos transformar em alguma. Paulo disse: “É Deus quem opera em nós tanto o querer como o realizar”. Ele disse também: “Desenvolvei a vossa salvação com tremor e temor”. Então, o querer e o realizar são “negócio” de Deus e eu não sou da secretaria da Santíssima Trindade. Mas de uma coisa eu sei. Eu sei quando minha consciência dói, sei quando sou convencido da Verdade, sei quando o arrependimento entra em mim; e se o arrependimento entra em mim, então aí Deus já efetuou o querer e o realizar, porque não há ninguém que se arrependa sem que antes seja movido por Deus, porque arrependimento é dom de Deus.
Então o indivíduo com a consciência pesada, com vontade de mudança, com arrependimento, já está turbinado por Deus. Não tem mais o que dizer. Tem de levantar e andar. Acabou! A parte de Deus fazer o que Ele tem de fazer é dEle; a do discípulo é querer. Se eu fui convencido de que o Evangelho é a razão e o significado da vida – e Vida é Evangelho – no meu coração, eu me dou por consciente de que uma existência sem o Evangelho é um caminho no contrafluxo da Vida.
Mas se quiser, é para querer, é para vir, o que implica a não estagnação. É uma decisão andante, caminhante, crescente, não conformada jamais, em processo de transformação; é a escolha por um estado mutante.
Então Jesus diz: Tem de andar atrás de Mim. Tem de andar por onde Eu for. Caminho que Eu não faço, discípulo não conhece. Caminho que Eu não escolho, discípulo corre risco nele. Tem de ser “após Mim”.
O brado foi: Está pago. Tetelestai. Está pago. Está consumado.
Então Paulo diz que o motor dessa disposição é a consciência produzida por essa gratidão em fé. Está pago.
É desse “Está consumado” que nasce a gratidão absoluta que nos coloca na motivação do amor que obedece ao mandamento.
Paulo, no entanto, diz que no “Está consumado” da nossa cruz o que absorvemos e aprendemos é que o escrito de dívida que era contra nós foi inteiramente reconhecido.
O escrito de dívida que constava contra nós, cheio de ordenança invariáveis e impossíveis, foi inteiramente removido, encravado na cruz. Tetelestai! Está consumado! Ele foi a todos os cárceres – no meu cárcere, no seu e o de cada um de nós, de todos. Foi lá, pegou todas as listas que estavam nas portas de todas as nossas celas, todas as nossas transgressões, todo nosso escrito de débito, de dívida, de inviabilidade humana. E quando O pregavam na cruz, tudo estava sendo pregado nEle, não com pregos, mas com a decisão dEle chamar para si a iniquidade de todos nós.
Então, quando eu tomo a minha cruz, eu sei que está pago, consumado. Isso gera em mim um motor de gratidão, ao mesmo tempo em que gera em mim uma absolvição absoluta de toda a culpa neurótica. Deixa a reserva técnica em mim apenas para a culpa sadia, que é aquela que decorre da constatação real de que se transgrediu o mandamento do amor ou do significado da vida.
Fica para nós agora a lei da Graça, que é a consciência acerca do que seja o mandamento de Deus como prática do amor, onde não há leis, porque o amor não transgride. E quanto mais alguém mergulha e se entrega ao Amor de Deus, tanto menos transgressões haverá na vida desse indivíduo.
E mais, quando o discípulo toma a cruz e segue, ele sabe que o “Está consumado” implica segurança absoluta, espiritualmente falando, porque quando Jesus tomou o escrito de dívida e cravou na cruz, despojou o poder dos principados, das potestades, do mundo espiritual, dos demônios, de todos os seres visíveis e invisíveis. Despojou esse poder, arrancou esse poder que eles tinham na mão contra nós e que era exercido sobre e contra nós em razão da nossa culpa neurótica.
É por isso que o discípulo pode andar na porta do inferno e a porta do inferno não prevalecerá contra ele porque “Está consumado” e os principados e potestades foram expostos ao desprezo. Eles não têm mais esse poder sobre o indivíduo.
Se o discípulo começa tudo dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem, Pai, está pago por eles. De modo que o discípulo é um ser que caminha fazendo afirmações vicárias, é um ser que caminha afirmando que tudo já convergiu para ele. É um libertador de almas e espíritos do mundo, porque ele declara que está consumado. Que assim como foi com Jesus, assim será com ele. Que agora o Espírito de Deus está sobre ele, pelo que o ungiu para proclamar libertação aos cativos, restauração de vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, para anunciar o ano aceitável do Senhor, porque está consumado.

Coluna Denise Gaspar
Discurso de Jesus


Duro esse discurso, não? Negar-me a mim mesmo é algo impossível. Como vou me livrar do peso do pecado e das mazelas e imposições que a vida me fez? Glória a Deus pelo Sacrifício Vicário de Jesus. Porque agora nenhuma condenação há para nós que estamos em Cristo. Porque ele nos libertou para a liberdade. Portanto, só em Cristo somos libertos de todo esse peso e podemos ser nós mesmos, ser aquele que Deus nos criou para sermos. E gosto de frisar que Ele não nos fez para que sejamos todos iguais. Usando as mesmas roupas, com a mesma cara de santarrões, com as aparências vestidas de atos forçados e cheios de mentiras e enganos. Deus, o Criador de todas as
coisas, é extremamente Criativo. Veja a natureza, o que há de monótono nela. Veja os homens, são 7bilhões de rostos, uma cabeça, dois olhos, dois ouvidos, um nariz e uma boca. Quanta variação!! Os paladares, o modo de sentir, de pensar, os gostos, os interesses. As digitais dos dedos e as oculares, nenhuma se repete. Ele fez você para ser você nEle. Eu sou eu nEle.
E o discurso da sua cruz ser o perdão? Duro, não? Você perdoa porque foi perdoado; se você nega o perdão, não será perdoado. Só podemos perdoar quando abrimos o coração para receber o perdão gratuito de Deus derramado ali na Cruz sem limites. Mas muitos de nós querem ter méritos, pensam serem bonzinhos e merecedores. Por isso não recebem. Por isso não têm o que dar. Simples assim. Abra seu coração para receber de Deus sua Graça e Seu Perdão e você terá Graça e Perdão para distribuir por aí. E garanto que oportunidades não lhe faltarão. De graça recebeste de graça dai.
Pense nisso com carinho, pense em submissão à Palavra. Não feche seu coração. O dia de Deus para você é hoje. Amanhã nem sabemos se estaremos aqui. Tome sua decisão hoje. Jesus abençoe e guarde os seus caminhos nEle.







R e v i s t a  P I T A D A  D E  S A L


Uma pitada do Evangelho da Graça em sua vida!!!


Ano V - Nº 35 Jan//Fev 2013. Proibida a venda; distribuição gratuita.


“Então disse Jesus a Seus discípulos:
 Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue,
tome a sua cruz e siga-Me”.
 Mt 16: 24

Editorial
De dois em dois meses Pitada de Sal nos convida a uma reflexão sobre o caminhar com Cristo e desta vez propõe um tema do qual normalmente não se quer nem tocar por puro medo. “Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me”. Isso, à primeira vista, é apavorante, não acha?
Sabemos que o Caminho é estreito, mas a falta de compromisso, as rotinas religiosas e as doutrinas, aliados a falta de interesse em conhecê-Lo não permite que percebamos como o Caminho É Gostoso. Bom, Perfeito e Agradável.
Assim, se é um convite feito por Jesus só pode ser algo tremendamente Bom, Saudável e que nos alegrará sobremaneira.
Por isso, nessa e na próxima edição, Pitada de Sal, trará um resumo de algumas ministrações do pr Caio Fábio sobre o tema. Não deixe de ler e de meditar, em oração, para que Deus possa derramar muito mais em nossos corações.
Pense nisto,
Boa leitura,
                                                          Denise Gaspar
Coluna Caio Fábio
Se alguém quiser
O discípulo tem que obedecer tanto a Jesus a ponto de conseguir não argumentar, mesmo que a ordem seja para se calar a respeito dele mesmo.     
 Vejam como tudo é no caminho mesmo, como o passo daqui não me garante o passo dali. Aquele que diz: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo”, no dia seguinte pode dizer: “De modo nenhum, Senhor”! E ouvir de volta: “Arreda, satanás”. Isso acontece porque não existe nenhum discípulo acabado, completo. Esse caminho termina quando termina. E somente termina quando eu me torno semelhante a Jesus. E eu me tornarei semelhante a Ele quando eu O vir como Ele É. E eu somente O verei como Ele É quando eu já não estiver mais condicionado pelas relatividades do espaço-tempo desta vida, ou como Paulo chama, deste “corpo de morte”, e tiver introduzido às coisas eternas e que são. Então estarei acabado, porque serei como Ele é.
Ele diz: “Se alguém quer ser meu discípulo...” tem de vir após Mim, tem de negar-se a si mesmo, tem de tomar a sua cruz e Me seguir. Está pensando que essa coisa toda termina com a confissão iluminada “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo”! Aleluia?
A maior parte da cristandade bem intencionada parou aí. E o indivíduo passa mais 50 anos da vida estudando sobre o Cristo, o Filho do Deus Vivo, para discutir com os outros que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus Vivo. E a vida dele para aí.
Aquilo que um dia Jesus disse acerca do que Pedro dissera – “Bem-aventurado és” -, se virar obsessão mecanicista, deixa de ser aquilo que um dia foi num instante de verdade. Porque essa declaração somente se consubstancia, se incorpora, se faz válida se, desse tempo em que entendemos isso em diante, aceitarmos que, assim como o caminho de Jesus levou à cruz, o caminho do discípulo também leva à cruz. Não à cruz de Cristo, expiatória, substitutiva, salvadora, redentora, solidária erguida antes da fundação do mundo e manifesta na história. Não. Essa é única, inigualável. Mas Ele fala da minha, que Ele simboliza chamando-a de cruz, por bondade de transferência de signo de graça, de privilégio transferível para o discípulo; mas a minha não é como a dEle. Existe a minha porque há a dEle. Se não houvesse a dEle não haveria nem cruz de graça para mim.
A minha e a sua não carregam nenhum poder meritório, salvador, redentor, não faz transferência de bem espiritual para ninguém. É apenas um privilégio meu e seu, e Ele a descreve, dizendo que cruz é essa. E não é a sogra, com certeza. Sogra é no máximo fardo, jugo, mas não é a cruz. Ele diz qual é essa cruz, a minha e a sua, descrevendo o processo inteiro do caminhar: “Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”.
O processo inteiro começa numa decisão completamente pessoal, porque existe a diferença entre o Jesus do povo e aquele que se dirige a nós com a questão: “mas vós, o que dizeis que Eu sou”? De fato, o que nós temos diante de nós é o convite, e temos de decidir se aceitamos, se queremos. Se não for alguma coisa absolutamente sua, intestinal, visceral, que habite a intimidade mais recôndita do seu ser, que seja a decisão mais arraigada dentro do seu próprio interior e daquilo que você chama de eu, se não for assim, não começa nada. Ninguém pode querer por você.
Fazer isso sem decidir no coração apenas produz indivíduos cínicos e impermeáveis. Por isso é que Jesus começa dizendo: “Se alguém quer...” E não adianta teologizar para fugir da luta e apelar para a predestinação. Será que eu fui predestinado? Isso é desculpa de quem não quer nada. Discutir sobre predestinação, a presciência, a eleição – tudo papo que não tem nada a ver com Jesus. Não sabemos nem o que está acontecendo no interior do nosso corpo neste momento, quanto mais sobre a presciência de Deus. Jesus não teologizou isso. Ele apenas disse: Essas coisas não nascem da carne, isso é revelação do Pai. “Se alguém quiser”. O que é do Pai é do Pai. O que diz respeito a cada um, diz respeito a cada um. Se o Pai revelou, Ele revelou.
A pergunta agora é: Revelado está, alguém quer? Temos de decidir se queremos. Não basta dizermos que cremos no que Deus diz. Aquilo em que se crê tem de se transformar no que se quer, senão nada do Evangelho será realizado em nós. Nada, absolutamente nada. Se alguém quiser ser Meu discípulo... Não é um grupo de privilegiados.
Ele começa tudo com um se, com uma possibilidade de liberdade aberta ao exercício da vontade, do arbítrio próprio, da consciência, da determinação que diz: Eu quero, eu sou, eu vou. “Se alguém quiser ser Meu discípulo”. Não é apenas parecer, aparentar, demonstrar, testemunhar. É a mutação de alguém para ser o discípulo. Antes, havia alguém, identificável. A viagem é do alguém para ser o discípulo. E o indivíduo tem que querer, tem de aceitar a disciplina do Mestre, o ensino do Evangelho. Nada mais está aberto à questão quando eu digo; Eu quero ser discípulo.
É obvio que isto vai acontecer no caminho. Mas tem de começar no momento em que o individuo, ainda que tropece milhares de vezes, diga hoje e diga todas as vezes, tantas quantas tropece ou acerte: Eu quero ser Teu discípulo. Quero ser. Jesus diz: Quer? Então, negue-se a si mesmo. E o individuo diz: Pelo amor de Deus! O que vai sobrar, então? Negar-me a mim mesmo?
Eu sou chamado a negar o self, o si mesmo, que não é o eu. É a decoração. É o carro alegórico. É a Sapucaí da minha vida. São as minhas máscaras, as minhas crostas, as minhas incorporações que eu passo a chamar de eu, de mim, e elas são de uma quantidade absurda que, praticamente, a maioria das pessoas não sabe qual é o seu próprio eu. Porque tudo o que elas experimentam é uma relação do si mesmo com o mundo, que é feito de outros si mesmos. Ou seja, é uma relação de fantasia, porque o si mesmo é fantasia. Si mesmos encontrando si mesmos.
Então, alguém pode perguntar: Como você tem tanta certeza de que o si mesmo é fantasia? É porque logo adiante, no texto, Jesus diz o que é ser Seu discípulo. Ele faz um arrazoado, propõe uma lógica para animar as considerações do pessoal que O ouvia.
Ele diz, no verso 25: “Porquanto, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa, achá-la-á. Pois, que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou o que dará o homem em troca de sua alma?” Ou seja, Jesus, imediatamente ao falar do si mesmo nos traz para um ambiente da relação do homem com o mundo, do homem com a fantasia. “O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma”? O que significa isso? Significa que ganhar o mundo inteiro é tarefa da qual o si mesmo se empenha. O si mesmo é produzido no curso deste mundo. O si mesmo é esse individuo turbinado, o dia inteiro, para ganhar o mundo inteiro. Ele é feito de conquistas, de traumas, de decepções; ele é feito de ilusão, de paixão, de grandes revoltas e raivas, de política, de ideologias, de gestos culturais, de razões e direitos estabelecidos num dado momento social, circunstancialmente condicionado a uma geração.
E você ouve alguém dizer: O que você conseguiu fazer com seu si mesmo? Todos adoravam o seu si mesmo, e de repente, o seu si mesmo virou essa porcaria. E você ainda pergunta o que é o si mesmo. Si mesmo é o que pensamos que se chama eu em nós. Ele é feito de traumas parentais, de desculpas psicológicas para não dizer “eu quero”. Ele é feito de todas as ilusões que alimentamos, estimulamos, colocando soro nas veias para que elas se mantenham em um estado de zumbificação alegre. O si mesmo é feito deste arcabouço. Ele é a volta da reflexão da imagem, do meu holograma construído pelo mundo, ungido pelo mundo com as categorias que dizem: assim é um homem bem sucedido; assim é uma mulher bonita; assim é uma pessoa inteligente; assim se faz, assim se veste, assim se anda, assim se visita, assim se gosta, assim se entrega, assim é. Como ser um si mesmo bom? O individuo compra essa história inteira e sai andando por aí dizendo: eu, eu, eu.
Muitos vão saber o que é eu neles somente quando não sobrar mais nada. Tudo tem de ser comido até a morte; e quando morreu tudo e foi surgindo o eu – e graças a Deus por isso -, uma velhice longa e uma morte dolorida são uma bênção. O objetivo é ver se no meio de tanto jogar de si mesmo fora, consiga, pelo menos, encontrar o eu soterrado lá dentro.
Às vezes, uma falência é uma coisa maravilhosa para sair rasgando o si mesmo para tudo o que é lado, afim de se ver se, lá no fundo, aparece o eu moribundo. Por isso desilusão é uma bênção. Muitos lamentam tanto as desilusões! O ruim é andar iludido. Quando alguém diz que sofreu uma desilusão, eu digo: Aleluia! Quanto mais desilusão, melhor. Não somos gente do Caminho, da Verdade e da Vida? Então, bem-vinda desilusão! Aleluia! Assim, vamos caindo na real.
Mas o si mesmo é feito das ilusões que são muito doloridas, difíceis de desfazer em nós, porque o si mesmo vive de mentiras, de fachada, de fantasia, de grifes diversas, psicológicas, espirituais, até daquelas que se quiser inventar, as mais básicas.
Se alguém quer ser Meu discípulo, diz Jesus, o indivíduo tem que tomar consciência de que existe uma montanha de impressões sobre si que precisa ser jogada fora. O discípulo tem de encarar os fatos e fazer a viagem “após Mim, olhando para Mim, tendo a Mim como sua única referência, dando-Me razão em tudo”. E ainda que, de forma sofrida, tenhamos de dizer: O Senhor tem razão. Mesmo não gostando das razões de Deus, como Abraão, que não achou nada gostoso, nem foi cheio de gozo, nem falando em línguas ou profetizando, andando para o monte Moriá. Não. Ele foi gemendo, mas foi. E quando viu o monte, chamou os seus servos e disse: “Ficai aqui, e eu e meu filho, tendo ido e adorado, voltaremos para junto de vós”. Mas ele não disse: Aleluia, nós somos os levitas do monte Moriá! Não era essa adoração panaca. Era adoração que se adora com dor, com perplexidade, sem entender nada, mas dizendo: Tu És Deus, e, contra tudo o que sinto, eu vou. Isto é o após Mim.
O caminho do discípulo é o caminho das abençoadas desilusões e das eternas verdades. O caminho do discípulo vai reduzindo a vida ao pouco que seja necessário, ambicionando chegar o dia em que ele diga: Basta-me uma coisa somente. Esse é o Caminho.
 Olhe para dentro de você e pergunte se, de fato, você quer esse Caminho.
No Evangelho é assim. Temos de querer. São as decisões de andar após Ele. De dizer: Eu dou razão ao Evangelho na minha vida. Não temos de fazer uma reflexão secundária de como vamos tratar o nosso inimigo. Jesus já disse como ele tem de ser tratado. Não temos de fazer reflexão secundária e nem ponderar com Deus o tamanho de nossas raivas, das nossas justiças ofendidas, dos nossos direitos aviltados, e que, portanto, temos direito a uma instância superior de vingança. Ir após Ele é simplesmente entrar em todos os buracos com Jesus, sair de todos os buracos com Jesus, visitar todos os cemitérios com Jesus; é sofrer na presença de Jesus, ver a revelação da nossa incoerência na presença dEle, enquanto somos disciplinados pelo Evangelho, dando lugar à disciplina.
Disciplina no Evangelho, é quando o Espírito Santo coloca na nossa consciência a razão do Evangelho contra todas as nossas certezas e opiniões. É quando o nosso coração diz: Eu quero para mim. Aí começa um caminho que não será perfeito, mas será perfeitamente imperfeito e gracioso até o dia em que Ele se tornar pleno e total.

Tomar a cruz – a morte do si mesmo


Jesus falou no assunto levando os discípulos na direção do mundo real, como ele é; não os levou para dentro de uma redoma, ou para o claustro de uma igreja-templo, ou para o clube dos salvos. Ao contrário, ele falou em discipulado, falou em segui-Lo, levando-os num movimento dinâmico; indo, caminhando como um hebreu – que é aquele andar desinstalado -, para a direção de Cesareia de Felipe, que era uma das cidades mais pagãs que havia dentro das fronteiras de Israel naqueles dias. Ele ensinou que, antes de qualquer coisa, o discípulo tem de não se impressionar com o que os outros dizem.
Um discípulo que anda pela cabeça dos outros jamais será discípulo de Jesus. Para ser discípulo de Jesus tem de haver a decisão no coração de que Jesus é único, exclusivo e absoluto.
O que os outros dizem é o que os outros dizem. O que os outros dizem vira religião, vira seita, vira denominação, vira doutrina, vira grupo específico, vira ênfase, vira qualquer outra coisa, mas não é Evangelho. Evangelho é a totalidade do nosso compromisso, e, em descobrindo, discernindo, percebendo o que seja a Palavra de Deus em Jesus, acolher aquilo sem discussão.
Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo”.
Esse discernimento vem por revelação do Espírito Santo, não nasce no monte Olimpo, Sócrates não o produziu, Platão não o elaborou, teologia alguma o fabrica. Para ser real e verdadeiro, tem de ser, de fato, trabalho e revelação do Espírito de Deus no coração do ser humano. Saber isso, receber essa revelação, não nos torna oráculos andantes de Deus. Porque o mesmo Pedro que disse essas coisas, em momentos posteriores, disse uma loucura imensa, pela qual veio a ser repreendido com “Arreda, Satanás”.
Jesus – tendo visto que os discípulos haviam confessado que Ele era o Cristo, o Filho do Deus Vivo – inicia, de modo decisivo, uma segunda etapa.
Então, se conhecido estava que Jesus era quem era, havia chegado o momento de ficar conhecido quem o discípulo era. Uma coisa é quando eu recebo revelação de quem Jesus É. Isso me salva, isso me ilumina. Outra é quando a revelação de quem Jesus é transforma-se no significado a respeito de quem eu sou chamado para ser. Porque na hora em que eu recebo revelação de quem Jesus É, passa a ser apenas uma questão de tempo, pois, em sequência, ato contínuo, eu vou ter de me deparar com o fato de que saber quem Jesus é demanda de mim um compromisso com que eu devo dizer, com quem eu fui chamado para ser, com quem eu sou, do ponto de vista de Deus. E esse é o chamado do discípulo.
O discípulo não é chamado para inventar ou para entrar num caminho inumano. Ao contrário, ele é chamado para mergulhar no caminho mais humano que existe. O discípulo é chamado para deixar a inumanidade e a desumanidade do caminho, que caracteriza a existência humana antes de um homem se tornar um discípulo.
O discípulo é apenas o individuo que entendeu que, se Jesus é Deus e se ele crê nisso, a implicação disso é simples.
Eu tenho de me perguntar: Sendo Jesus quem é, como é que devo ser? E a resposta é simples: Se Ele É quem É e se eu fui feito à imagem e semelhança de Deus, tudo quanto em mim não se pareça com Jesus é uma dessemelhança a ser curada. Porque o meu chamado é para a semelhança com Ele, é para a conformação com Ele, é para ir transformando a minha mente no processo da jornada do caminho da nossa existência, olhando para Ele, seguindo-O, de tal maneira que, ao contemplá-Lo todos os dias pela revelação do Evangelho, eu vá sendo transformado com a cara olhando para Ele, olhando para a Luz que Ele É; e o meu rosto vá sendo transformado na imagem do Senhor, pelo trabalho contínuo do Espírito Santo.
No entanto, no texto de Mateus 16, o individuo descobre que o caminho para se tornar ele, em Deus, é o caminho da desistência de tudo quanto ele pensa que seja ele. Que é jogar fora o self, que é jogar fora o si mesmo. Porque Jesus disse: “Se alguém quer ser Meu discípulo, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me”. Não foi isso o que Ele disse? Portanto, quem quiser salvar o seu self, perderá a vida; e quem perder o self por Minha causa, achará a Vida.
É exatamente isso que Jesus está dizendo, que é preciso pegar o si mesmo e jogar fora. Matar o si mesmo para sobrar o eu. Discernir o que é construção do self, desse eu artificial que eu vou absorvendo. E essa absorção, diz o Novo Testamento, é a partir de níveis básicos. O self vai sendo construído a partir da psicose básica. Nossa psicose básica está descrita em Romanos 7: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço”. É constatar essa rachadura essencial que existe dentro de mim, constatar que eu não sou uno, que eu não sou inteiro. Essa é a grande constatação humana que Paulo faz, aquele grito superverdadeiro, carinhoso e totalmente visceral. Carinhoso para conosco, na medida em que ele fala a verdade; e visceral, pela dor com a qual ele faz aquela confissão: “Desgraçado homem que sou, quem me livrará do corpo desta morte”? Porque eu sou contradição. Então, a primeira coisa é identificar essa pulsão essencial que vai produzindo o self, que nasce dessa divisão interior, do diabulos existencial. Paulo diz que a tendência do homem natural é para o self, é para a autogratificação, para se sentir forte por conquista. E não ser.
Outro nível que alimenta o self – diz também o Novo Testamento – é aquilo que é chamado de paixões da carne, que é essa psicose básica, treinada pelo tempo; treinada pelo desejo, treinada pelo instinto descontrolado: vai crescendo, crescendo, para se tornar viciado. A paixão da carne é o vício de desejo, com soberania e supremacia sobre a consciência. Essa é a paixão da carne. Vai alimentando o self. A paixão da carne, por seu turno, se alimenta do curso deste mundo, também.
O que é o curso deste mundo? Curso deste mundo é a média ponderada das importâncias compartilhadas na coletividade a partir da cultura familiar, da cultura de bairro, da cidade, do país e a partir da cultura global. Então, o curso deste mundo estabelece que a carne deve desejar e pelo quê ela deve se apaixonar, o que ela deve possuir. Porque a carne come vaidade, a carne come o que não é. A carne é pó, volta ao pó, adora o pó. É tudo pó com grife, pó grifado. É isso que o curso deste mundo oferece e com isso alimenta a carne.
Além disso, o si mesmo, o self, se manifesta significativamente de todas as sugestões que vêm da loucura do inferno e do diabo. Que vêm do mundo invisível – embora haja pessoas que não querem admitir nem crer – o que é mais real do que qualquer um e está aqui em volta. Outros estão querendo saber de onde vêm os extraterrestres. Eu não sei. Mas eu sei que o diabo é extraterrestre. Ele anda por aqui, mas vem de fora. Nenhum anjo nasceu no Amazonas. Gabriel não nasceu em Nazaré nem em Belém. Miguel não nasceu em Israel. Eles todos vêm de fora. Qualquer moçada que não seja você, que não seja eu, ou que não seja leão, girafa, hipopótamo ou qualquer coisa do planeta, é extraterrestre: anjo, diabo, demônio. Esses poderes estão aí, com os nomes que queiram dar a eles. Todos os dias aumentando o volume de engano, exacerbando no interior humano a fantasia, gerando, em conluio com a produção perversa dos seres humanos, os aparatos, os sistemas, os modos, as formas, as trocas, os relacionamentos mais adoecidos que se possa pensar, conceber, imaginar. É nessa direção insaciável que esse volume perverso de poder maligno anda, tentando se alimentar o dia inteiro, à nossa volta. É essa coisa aí que Jesus diz que tem de morrer. Você acha ruim? Pelo amor de Deus! É a mesma coisa que dizer: Negue o diabo e siga-Me. Se alguém quiser ser Meu discípulo, negue o diabo e siga-Me.
É difícil entender que o si mesmo termina sendo a coisa mais diabólica no processo, porque é o si mesmo que nos descola do eu real. Somente com o eu real existindo em nós, de fato, é que seremos alguém em Deus.
“Negue-se a si mesmo e dia a dia tome a sua cruz e siga-Me”. Em Marcos e Lucas, o texto dá ênfase no dia a dia. Tome a sua cruz e siga-Me: dia a dia. O processo do dia a dia é duplo: é tanto do negar-se a si mesmo como o tomar da cruz. Porque não existe hiato entre negar-se a si mesmo e o tomar da cruz. Nega-se a si mesmo à medida que vamos tomando a cruz. E quanto mais eu tome a cruz, menos o si mesmo crescerá em mim. E quanto menos eu desejo tomar a cruz, mais o si mesmo aumentará em mim. Por isso, é dia a dia, tanto uma coisa quanto outra.
Não há férias para o si mesmo. O si mesmo não pode ter sossego. O si mesmo quer renascer, ele tem um poder extraordinário, ele é um rabo de lagartixa. Mesmo cortado, fica estremecendo, e, se deixar, cresce outro no lugar. O si mesmo tem de ser podado todo dia, toda hora. O si mesmo tem de ser objeto de uma confrontação diária, porque ele existe para fazer confrontação com o mundo, com o sistema, com o espírito desse engano. O si mesmo se conecta, faz interface com isso, de modo natural; seu software foi programado lá, ele roda e fala em conectividade total. Por isso, o si mesmo tem de morrer. E somente se inicia esse processo quando, no dia a dia, tomamos a cruz. Porque se todo dia não olharmos para o self como potencial de regeneração perversa em nós, creia, ele se regenerará para o mal, em nós. Por isso, é todo dia.
Dia a dia equivale a “não vos conformeis com este século, antes, transformai-vos pela renovação da vossa mente”. É um processo cotidiano. Paulo chama de culto racional, porque é a relação da razão do Espírito, da razão produzida pelo Evangelho, da razão produzida como consciência e mente de Cristo em nós.
Foram os romanos que inventaram a cruz como instrumento de execução – pelo menos, para o nosso conhecimento ocidental. Se fosse hoje, Jesus diria o seguinte: Quem quiser vir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua cadeira elétrica e siga-Me. Tome a sua sentença!
Não tenha medo do que o mundo chama de morte! Não fuja do que o si mesmo chama de anulação, porque justamente aí, neste lugar-cruz, na dimensão existencial do seu ser, que reside você. Se não tiver a coragem de, antes de tudo, pensar que a cruz é a sentença de morte do si mesmo, que a cruz é a declaração e é o compromisso da vida com a vida que é – e não com a vida que aparenta ser -, não há nem como começar o caminho do tomar a cruz.
Então, a cruz, a nossa cruz, do ponto de vista conceitual, do significado do que Jesus estava dizendo com “tomar a cruz”, terá de ser exatamente o que a cruz significava para Ele. Com a diferença apenas de que as implicações da cruz de Jesus eram cósmicas, e as implicações da nossa cruz são todos os benefícios que vêm da cruz de Jesus para nós, e o benefício que vêm da cruz de Jesus por nós, e o benefício de vivermos, todo dia, em obediência ao mesmo princípio, de tal modo que vamos nos tornando um eu constituído em Deus. Se a nossa referência de cruz é a cruz de Jesus, exceto pelo fato de que a dEle salva todos os homens e todas as coisas e já estava pré-ordenada desde antes dos tempos eternos, a nossa é um chamado especial para ser. No entanto, assim como era a dEle, assim é a nossa. Começa tudo com aceitar o fato de que morremos para o mundo e o mundo morreu para nós. Isso é tomar a cruz, é o que Paulo diz, escrevendo aos gálatas.
Qual é o mundo para nós? É o oceano Atlântico? É o Pacífico? É a natureza linda e maravilhosa? É o encontro bom com o ser humano? É o beijo sadio, o abraço gostoso, o encontro verdadeiro, o amor que seja amor? Não! O mundo que Paulo diz que morreu para nós em Cristo é o mundo do si mesmo, que é o diabo, como eu descrevi acima. Então, para que se inicie esse processo de deixar que o si mesmo vá morrendo, matar o si mesmo, negar o si mesmo, precisamos ter um eu. Porque quem quer ser Meu discípulo – diz Ele – tem de querer. E, querendo, tem de negar-se a si mesmo, o que implica uma vontade pessoal dupla: a que diz eu quero, e a outra que faz, negando o si mesmo. Portanto, não existe nenhum eu implicado nisso aí. Existe algo que não sendo eu, parece que quer ser eu e faz tudo para ser eu, sem ser. É isso que temos de ter dupla vontade de fazer morrer em nós, tomando a cruz. Que não é diferente da de Jesus.
Tomar a cruz significa, entre outras coisas, discernir que o mundo é o mundo. O que é ilusão e o que é engano. Discernir que o meu self é produzido pelo amontoamento desses volumes de ilusão. Discernir tudo o que já discernimos, quando encontramos a estupidez, quando encontramos o ódio gratuito, quando encontramos a antipatia que não se explica, quando encontramos a disposição canina de fazer mal; quando encontramos a alienação organizada para produzir algo malévolo, como liquidar alguém; quando encontramos a associação da estupidez produzindo um volume enorme de loucura à nossa volta - que foi o que Jesus viu ali. Quem toma a cruz começa a olhar essas coisas e dizer: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazerem”.
O meu discipulado começa quando eu entendo o que não é, podendo, a partir daí, discernir o que é; me posicionar, dizendo: Eles não sabem o que fazem. Não sendo assim, não é discipulado. Mas é discipulado se digo: Pela Tua Graça eu sei o que é, eu vi; então, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Quem recebeu esse Perdão, perdoa: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Discípulo que não perdoa não é discípulo, nunca será. Isso não é brincadeira. Não tem conversa, não dá para prosseguir se a cruz, se o tomar da cruz não começar com: Eu sei que estou perdoado. Isso é o que Jesus fez por mim.
O discípulo começa, portanto, também dizendo que Jesus não deseja o inferno para ninguém. Porque quem diz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” está intercedendo pela salvação de todos os alienados, de todos os perdidos. Pai, perdoa esses, qualquer um, porque, se eles soubessem, não estariam fazendo isso; como Paulo veio a dizer depois: “...jamais teriam crucificado o Senhor da Glória”.
Tomar a cruz significa também perdoar o engano do mundo. Porque enquanto não perdoamos o engano do mundo, não ficamos livres do engano do seu engano como sedutor da nossa alma. O si mesmo, o self, vai sendo vencido, anulado e negado quando perdoamos o engano do mundo e o nosso próprio engano; quando não tentamos mais justificar o nosso engano, nem o tempo que perdemos, nem as nossas loucuras e nem melhorar um pouquinho o inferno desse sistema que jaz no maligno. Ao contrário, o discípulo perdoa o mundo. E quando ele perdoa o mundo, ele vai se libertando das pulsões que o mundo e a carne deixaram fomentando, formando a construção artificial desse eu que não é o eu, que é o si mesmo. Portanto, quando alguém diz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, e sinceramente faz isso, essa pessoa está, de fato, desenraizando o poder que esse mundo de ilusão, de engano, esse sistema de trocas loucas já teve sobre ela! A pessoa está tão livre, que perdoa, perdoa, perdoa. Está perdoado!
Para o si mesmo ir se tornando nada, o discípulo tem de perdoar o mundo, perdoar também a si mesmo e não ao seu “si mesmo”, e não fazer do si mesmo o seu testemunho, mas fazer do eu em Cristo a sua afirmação de vida.
Quem diz: “Pai, perdoa-lhes, porque não saem o que fazem”. Esse está livre. Centurião não tem mais poder sobre ele. Ninguém vai ter. A lança do centurião pode até doer; (mas, em Jesus, não doeu porque Ele já tinha morrido). A chicotada dói, tudo dói, mas o centurião não tem poder de nos tornar seu escravo, porque ele está perdoado, não sabe o que faz, coitado. Eu é que estou livre. Chicoteado e livre; desprezado e livre; seja como for, livre.
O discípulo não tenta convencer Deus com a mentira. Ele afirma a verdade. “Meu coração está profundamente triste até a morte. Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”? Ele não tem medo de falar com Deus. No tomar da cruz, ele experimenta o significado da impressão do desamparo. Ninguém vai fugir disso.
O discípulo tem de saber que ele, tomando a cruz, vai passar por caminhos solitários, de desamparo; vales de sombra da morte; perplexidades. Vai encontrar o absurdo, ver tanta loucura, se sentir tão impotente, em alguns momentos, que seu coração vai dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste”? Eli, Eli, Lemá sabactani!
Um discípulo não se faz sem a jornada do desamparo, que é quando ele aprende a amar a Deus por nada, a servir a Deus por nada. Ele não estará dizendo: Não há Deus, porque estou desamparado. Ele está é falando com Deus: “Deus meu, Deus meu por que me desamparaste”?! Mas é uma conversa entre gente que se vê, que se enxerga, que se sabe! É somente uma perplexidade do pequeno ante o volume das coisas! Esse dia, essa vereda nunca deixa de existir no caminho de um discípulo. E faz parte do tomar a cruz e de continuar seguindo.
Caio Fábio. “O Caminho do Discípulo” parte 1. Semear Publicações


Coluna Denise Gaspar
Eu quero!

Muito se ouve por aí sobre o “carregar a sua cruz”, mas perceba que isso não se refere a um fardo, a um problema, ou a algumas dificuldades. Essas são coisas inerentes à vida. Sobre o “negar-se a si mesmo”, alguém ouve alguma coisa?
Só pode carregar a sua cruz quem aceitar o convite de Jesus. Ele faz um convite: “Se alguém quer vir após Mim...”. É uma convocação feita a todos indistintamente. Você tem a escolha, aceitar ou não o convite. Mas uma vez aceito, há condições para segui-Lo: “negar-se a si mesmo” e “tomar a sua cruz”. É tão maravilhoso que essas condições são imperativas, no entanto é Ele quem as realiza em nós pela ação do Espírito Santo.
“Negar-se a si mesmo” é algo tão fantástico e nos livra de tantos pesos e fardos, que lamento não ter percebido isso antes. Primeiro aprendi na carne, em minha própria vida, nos desesperos e angústias da jornada. Depois, ouvi essas mensagens que estão sendo partilhadas pela revista. Ah, se eu tivesse ouvido antes...
Livrar-me de mim mesma é um processo, não é do dia para a noite, mas começa na decisão: Eu quero seguir-Te, Senhor! Aí, mesmo sem que eu tenha ouvido a mensagem, sem mesmo que eu perceba, Ele começa o processo de me livrar de mim mesma.
Que delícia! Agora, a caminhada vai ficando mais leve. Sem ansiedades, sem angústias, sem tristezas e culturas ancestrais. Nada mais nessa vida tem a mesma dimensão, tudo vai ficando diminuto. O que cresce a cada minuto é a consciência do Amor e da Graça de Deus. Isso suaviza a estrada, remove os percalços, tira as dúvidas. Agora posso aprender a amar com Ele que é o Amor. Agora, é um dia de cada vez, um por um, passo a passo no Caminho, que é Jesus, sem fardos, sem algemas, sem grilhões.
Diga, você também: Eu quero!












R e v i s t a  P I T A D A  D E  S A L

Uma pitada do Evangelho da Graça em sua vida!!!



Ano V - Nº 33 Set/Out 2012. Proibida a venda; distribuição gratuita.

Ora, como recebeste Cristo Jesus,
o  Senhor, 
assim andai nEle,
nEle radicados e edificados
e confirmados na fé,
tal como fostes instruídos,
crescendo em
ações de graças.
Cl 2: 6  e 7.

Editorial
Olá, amigo,
 
Pitada de Sal convida você, mais uma vez, a pensar em nossa caminhada em Cristo. Convida a meditar no que significa estar em Cristo. Em como se traduz na prática nossa confiança n’Ele.
       Muitos pensam que o fato de dizerem que ‘aceitaram a  Cristo’ é o fim da caminhada. Preste atenção quando algumas pessoas dão seu testemunho de vida. Contam tudo o que fizeram de errado, contam tudo o que lhes aconteceu de ruim e falam do inimigo de nossas almas como se fosse alguém muuuito poderoso... contam tudo com detalhes e no fim dizem: “aí, eu aceitei a Cristo”, e  todos batem palmas. Parece o enredo de uma novela, mil e um problemas e no último capítulo tudo fica bem e ... ‘fim’.
    Estão enganados. Esse momento é só o começo da jornada.
Na verdade, o que aconteceu antes pouco importa. O que interessa mesmo é o que irá acontecer a partir deste momento. Como você se renderá a Cristo, como crescerá em comunhão com Ele, as novidades de vida que vão se apresentando a cada dia. Importa contar como vai se manifestando o Amor, a Graça, o  Perdão e a Reconciliação que são derramados em seu coração todas as manhãs quando a Misericórdia de Deus Se renova sobre a sua vida.
     Esse é o testemunho de nossa vida: as maravilhas de Deus operando em nós e através de nós.  
      Estar em Cristo é transformação de vida. São novas perspectivas e desejos. É a Alegria que ninguém pode roubar, a Paz que excede todo entendimento, a Revelação de Deus em nossos corações.
      Essa é a história que tem que ser contada e registrada: a Presença e a Obra de Deus em nós.
Pense nisto,
Boa leitura,
                                                                              Denise Gaspar
Palavra de Deus

Diz Jesus:
“Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. o que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de Eu dizer: importa-vos nascer de novo. O vento sora onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito”. Jo 3:3 e 5 a 8.

Coluna Denise Gaspar

 Salmo 13


1 - Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto?

2 – Até quando estarei relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo?

3 – Atenta para mim, responde-me, Senhor, Deus meu! Ilumina-me os olhos, para que eu não durma o sono da morte;

4 – para que não diga o meu inimigo: Prevaleci contra ele; e não se regozijem os meus adversários, vindo eu a vacilar.

5 – No tocante a mim, confio na Tua Graça; regozije-se o meu coração na Tua Salvação.

6 – Cantarei ao Senhor, porquanto me te feito muito bem.


A Bíblia diz que este salmo foi escrito por Davi. E alguém o intitulou ‘oração da fé’. Não sei em que circunstância histórica Davi escreveu este salmo, por isso a leitura que faço dele é segundo minha caminhada com Jesus. Segundo o cumprimento das promessas da Nova Aliança. Do que já está posto e consumado. Assim, eu não o chamaria de ‘oração da fé’, para mim é mais uma descrição da caminhada da fé.

Ele começa indagando sobre a presença de Deus. ‘Até quando Te ocultarás, esconderás o rosto de mim’.

Jesus disse que estará conosco até a consumação dos séculos. Portanto, a Presença de Jesus em minha vida, nossas vidas, não é uma questão. Não há dúvidas. Ele está comigo todos os dias de minha vida posto que me rendi a Seu Senhorio.

Só há uma possibilidade de separação entre eu e Deus, uma única barreira pode ser levantada: o pecado. E aí, neste caso, também a pergunta é infundada. Porque se eu estou separada de Deus por algo que não quero abandonar, o choramingo não encontra resposta. Deus é Misericordioso e Longânimo e tem prazer em perdoar. Assim essa barreira é desfeita conforme o meu quebrantamento. Se com sinceridade me arrependo e clamo para que me perdoe e me cubra com Seu Sangue.

Então, essa oração só encontra espaço na caminhada enquanto não conheço Suas Promessas e Sua Palavra. Depois disso, é uma questão de tomada de decisão. Consertar-me ou não. Render-me ou não.


O segundo versículo relata a luta da alma com a tristeza e o medo das circunstâncias e do porvir.

Essa luta encontra espaço em mim, apenas, enquanto não conheço o Caráter de Deus, enquanto não como do Pão e bebo do Sangue. Ou seja, no Caminho temos que comer e beber de Jesus, temos que experimentá-Lo, ter parte com Ele. À medida que eu O conheço e reconheço em meus caminhos a tristeza e o medo são banidos, porque sei em Quem tenho crido.

Isso só acontece no processo da rendição. Quando entrego a Ele algo que está me pedindo como um sentimento acalentado e cultivado por anos a fio com todo esmero e dedicação...  ressentimento, uma mágoa, por exemplo.

Eu não quero entregar, tenho aquele sentimento me corroendo e torturando a anos, eu o cultivo mantendo as lembranças vivas como se tivesse acontecendo agora, eu o nutro imaginando vinganças e na expectativa de ver o alvo de meus ressentimentos, frustrado e arrependido, me dando razão. Sim, porque eu tenho razão de estar magoada, afinal eu sou ‘maravilhosa’ e aquela pessoa é horrível e agiu terrivelmente me traindo.

Aí, Jesus pede para que entregue esses ressentimentos horrorosos que só fazem mal a mim mesma, porque o outro seguiu sua vida e ‘trinta anos’ depois nem se quer lembra de mim. Só eu estive presa a ele por tanto tempo.

Mas, Jesus pode estar pedindo algo ‘bom’, um sonho, um projeto de uma vida inteira. Algo com o que sonhei por toda minha vida, algo para o que me preparei durante anos, algo que esperei sem desanimar por anos a fio.

Não importa exatamente a coisa em si. Importa que Jesus sabe o que é o melhor para nós e se Ele está pedindo que entreguemos é porque, antes de qualquer outra coisa, o ato de entrega por si mesmo será bom para nós.

A primeira entrega, dói. A gente não quer, há uma luta. Mas depois que a gente entrega cadeias se rompem, somos invadidos pela Alegria e fortalecidos. Nós O experimentamos. Comemos e bebemos d’Ele. Agora, Ele habita em nós. Sabemos que Seu Caráter é realmente Bom, não por ouvir falar, mas porque temos parte com Ele. Daí, cada nova entrega é motivo de alegria. A alma não luta mais com a tristeza e o medo porque foi tomada pela certeza de que a Sua Vontade é Boa, Perfeita e Agradável.

Então, o tempo dessa luta na alma é determinada pelo tempo que eu vou levar para tomar a decisão de conhecê-Lo, confiar n’Ele e entregar tudo. É o tempo até a rendição.


Os versículos seguintes: “Atenta para mim, responde-me, Senhor, Deus meu! Ilumina-me os olhos, para que eu não durma o sono da morte; para que não diga o meu inimigo: Prevaleci contra ele; e não se regozijem os meus adversários, vindo eu a vacilar”. 

Essa luta é antes de tudo com minha própria alma e meus desejos e entendimentos, muito mais do que com o inimigo de minha Salvação. “Eu” sou o maior inimigo de mim mesma. Esse “eu” é o que foi construído pelas aparências, pelos interesses, pelos  sentimentos; são as construções que vamos fazendo para fora de nós mesmos sufocando o que de fato somos. Se der lugar a esse meu “eu”, o diabo não tem muito o que fazer além de alimentar minha vaidade.

Aqui quero fazer um pequeno parentesis. Quando estamos em Deus, conhecendo-O, reconhecendo-O, rendendo-me a Ele e obdecendo-O, aí, por paradoxal que pareça, eu sou eu mesma. Sou quem deus me criou para ser. Pois, nesse momento estou livre de todas as formas de opressão que me ofuscam, apagam, distroem, me fazem ser, querer e desejar o que não sou eu de fato. Em Cristo somos livres para ser nós mesmos. Somos livres para ser e, então, poderemos amar ao próximo como a nós mesmos.


A passagem diz que ele não vê a Deus e que não quer ‘dormir o sono da morte’. Esse sono é a ausência de Deus. Viver sem a Presença de Deus, distante d’Ele por causa de minha rebeldia e recusa em Lhe dar razão e em reconhecê-Lo Senhor, é terrível... é o sono da morte.


De repente, o salmista mudou o rumo da prosa. Mudou o rumo da vida.

Há uma hora em que temos de romper com o “eu” prepotente e soberano que vivia dentro de nós. Parar de choramingar e tomar a decisão da entrega.

“No tocante a mim, confio na Tua Graça; regozije-se o meu coração na Tua Salvação. Cantarei ao Senhor, porquanto me te feito muito bem”.

No tocante a mim, não quero saber de mais nada: sentimentos, valores, entendimentos, vontades, ansiedades, circunstâncias... daqui em diante largo todas essas coisas, deixo-as para trás, onde tiveram muito espaço, e olho firmemente para Ti, Senhor.

“A Tua Graça me basta”! Sei Quem És Tu, o Autor da Vida, o Deus da minha Salvação. Sei o que tens para mim, Vida Eterna, Vida em Abundância de Paz, de Alegria, de Vitória.

“Meu coração se regozija na Tua Salvação”. Nosso alvo é a Nova Jerusalém. Nossos tesouros estão no céu. E o céu não é ‘lá’ longe. O céu é aqui no meu coração para onde Jesus e o Pai vieram e fizeram morada. Nessa terra tristezas ou alegrias, tudo é passageiro. Na Presença de Deus a Alegria é Eterna...  e já começou.

“Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem”. Muito bem... todas as situações são Deus trabalhando em mim para o meu próprio bem. Esse entendimento parece patético a quem não O conhece. Como posso dizer que coisas ‘ruins’ são para o meu bem? Mas quando conhecemos Seu Caráter sabemos que até as que nos parecem ruins se estão sob o Seu Comando Absoluto então redundam em bênçãos para mim. Leia a Bíblia, veja se não é assim.


Quanto a mim, descanso em Tua Graça cantando e adorando ao Senhor que só me faz muito bem!!!

 Coluna Caio Fábio

O homem pneumático

E o que é um homem pneumático? É aquele indivíduo que tomou a decisão, em Deus, de que não mais será joguete das suas emoções e que terá uma profunda desconfiança acerca de suas próprias emoções. Vai colocar, diariamente, seus processos mentais diante da Luz da Verdade revelada no Evangelho. E se esses processos mentais forem condizentes com a Verdade do Evangelho, ele os acolhe; mas se estiverem em rota de colisão com o Evangelho, ele desiste deles. O homem espiritual é aquele que discerne, que não se deixa levar por impressões imediatas; ao contrário, ele vê coisas espirituais com coisas espirituais, ele vê se o todo faz sentido com o espírito do Evangelho, com o que Jesus ensinou, que é amor, é alegria, é paz, é verdade, é justiça, é graça, é reconciliação, é perdão de Deus para conosco e de nós para com todos os homens.

O homem espiritual é aquele que não vê possibilidade de que qualquer coisa que não seja vida de Deus nele, não seja fé no coração, e que o que não seja ‘entranhamento’ do amor nosso em Deus e de Deus em nós, tenha sentido. Ele não deixa iludir por impressões e nem por aparências, e desiste de tudo o que signifique manifestação de ascendência sobre os outros pela via das posições e das visibilidades. Ou seja, ele não diz: Ah, o meu grande sonho é ser levita na casa do Senhor! Não, ele não diz isso. A única diferença entre você e o levita na casa do Senhor é que ele está na frente, no palco, e você não. Para o homem carnal o ambiente é do lado de fora. Não é o coração.

O chamado do Espírito de Deus é para que nos tornemos gente do espírito, gente que não se abala, que sabe celebrar o nascimento quanto sabe celebrar a morte; gente que aprende a viver porque já aprendeu a morrer há muito tempo; que já não teme mais nada porque não teme a morte, não teme amar, não teme crer, não teme se entregar e confiar. E, então, vai se instalando em nós um software de uma consciência no espírito cada vez mais aguda, e vamos nos ‘desabestalhando’, deixando de ser ‘lesinhos’, começando a ter consciência, a juntar as coisas, a pensar. Mas não pensar como quem esgota os recursos da mente, mas como o indivíduo que aprende a pensar no espírito.

Pensar no espírito não é pensar com o cérebro; é não ter teto para as limitações impostas pela lógica. Pensar no espírito é quando esbarramos na lógica e ainda assim temos as promessas de Deus asseguradas como afirmação de algo que podemos não entender por inteiro, mas nos está dito que é – porque a Palavra de Deus assim garante-, e não ficamos estancados por nosso próprio limite. Ao contrário, pensar no espírito, andar no entendimento da fé, nos põe para além de nós, pois é somente quando, em fé, vamos para além de nós é que saímos desse estado que em nós está contingenciado: ou de homem natural ou de homem carnal. Porque o chamado para ser um homem espiritual é uma anomalia em relação à natureza das coisas à nossa volta.


O chamado é para ir além. É para chegar naquele momento da vida em que, ainda que todas as coisas conspirem de modo contrário, o coração diz como em Habacuque 3: 17 e 18:

Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha Salvação.

Por isso o caminho do homem espiritual é o caminho estreito. Não cabe tudo nele. não cabe o ódio pelo ódio, nem de natureza nenhuma. O ódio nunca se justifica na mente do homem espiritual. Não cabe a inveja, não cabem os ciúmes, as intrigas, as iras, as monstrificações interiores batizadas pela religião. Cabe somente o que for realidade com a qual eu e você possamos nos apresentar diante do Deus da Vida, do Deus que É Luz e Verdade. Por isso, o caminho é estreito, porque vai depurando o ser, jogando fora e extirpando o lixo da mente, das emoções confusas, colocando o homem em um caminho cada vez mais simplificado de confiança e de certeza de que ele está crescendo não porque esteja evoluindo,mas está crescendo porque Deus, de fato, está se revelando a ele.

O Evangelho chega dizendo: Ou eu me torno vida em você, ou a simples exposição a mim gerará morte em você. Para uns é cheiro de vida para a vida. Para outros é aroma de morte para a morte. Mas é o mesmo Evangelho. Se acolhido, gera o homem espiritual. Se tolerado, produz o homem carnal. Se rejeitado, produz o homem natural. Simples assim.

Caio Fábio. O Caminho do Discípulo.


Coluna Paulo de Tarso


“Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alt, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.

Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morreste, e a vossa vidaestá oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é  a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.

...uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem  que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem dAquele que o criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos”. Cl 3:1 a 4 e 9 a 11.





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