sábado, 25 de agosto de 2012

Vasos de barro para Sua manifestação

        Roberta Bondi fala de um monge do séc.VI que supervisionava uma comunidade tumultuada. “Nossos irmãos irascíveis estão buscando o verdadeiro amor por Deus”, queixavam-se alguns monges. “vocês estão errados”, Dorotheos os informou. “Pensem no mundo como um grande círculo com Deus no centro e a vida humana na circunferência. Imaginem agora que haja linhas retas que partam de fora do círculo, onde se encontram todas as vidas humanas, e cheguem a Deus, no centro. Percebem que não há como chegar a Deus sem se aproximar das outras pessoas, nem há como se aproximar das outras pessoas sem se aproximar de Deus?”

Quando minha identidade muda de dentro para fora, meus olhos se levantam para ver os que precisam do amor e da misericórdia de Deus. Paulo reforça seu conselho aos romanos de se transformarem “pela renovação da sua mente” com a primeira menção completa à analogia do corpo de Cristo; depois apresenta uma série de ordens abruptas, como: “compartilhem o que vocês têm com os santos em suas necessidades” e “façam todo o possível para viver em paz com todos”. Em outras cartas, pede aos leitores que alimentem os famintos, que demonstrem hospitalidade aos ministros que viajam, que busquem com amor os incrédulos que os cercam. Mentes renovadas expressam-se em relacionamentos com outros corpos. “O caminho para a santidade”, disse Dag Hammarrskjöld, “passa necessariamente pelo mundo da ação”.

Constantemente, recordo-me de um homem que se aproximou de mim depois de uma palestra e disse, bruscamente?

- Não foi você que escreveu um livro intitulado Deus sabe que sofremos? – quando respondi afirmativamente, ele continuou: - Bem, não tenho tempo de ler o livro. Não daria para você resumir do que ele trata em uma ou duas frases? (Os escritores adoram pedidos como esse, depois de passarem meses escrevendo um livro.)

Pensei um pouco e respondi:

- Bem, acho que terei de responder com outra declaração: “A igreja sabe que sofremos”. Veja – expliquei -, a igreja é a presença de Deus na terra, seu Corpo. Se a igreja fizer sua tarefa, se aparecer na cena das tragédias, visitar os enfermos, dirigir clínicas para aidéticos, aconselhar vítimas de estupro, alimentar os famintos, agasalhar os sem-teto, acho que o mundo não fará a primeira declaração com perplexidade. Ele saberá onde Deus está quando sofremos no corpo que é o Seu povo, ministrando a um mundo decaído. Na verdade, a conscientização da presença de Deus geralmente acontece em conseqüência da presença de outras pessoas.

Durante muitos anos, acompanhei um amigo que passou por um período muito difícil. Ele lutou contra a depressão profunda e, nesta batalha, acabou se divorciando e perdendo o emprego. Passou um período internado em uma clínica de recuperação e sobreviveu a pelo menos três tentativas de suicídio. Encontrava-me com ele, orava e passávamos longas horas ao telefone. Na maior parte do tempo, sentia-me desamparado e inútil. As respostas que eu dava faziam pouca diferença e, depois de algum tempo, cheguei à conclusão de que ele precisava de meu amor, e não de meus conselhos. Simplesmente coloquei-me à sua disposição tanto quanto possível.

Finalmente, meu amigo encontrou a cura que o trouxe de volta à sanidade. Ele me disse: “Você era Deus para mim. Não conseguia contato com Deus Pai, pois Ele parecia distante e retraído. Mas continuei crendo em Deus por sua causa”. Queria desenganá-lo, refutá-lo, pois sei quem sou e sei que estou distante de Deus. À medida que o ouvia, porém, percebi o profundo significado da expressão “corpo de Cristo” que Paulo usou. Seja qual for o motivo, Deus escolheu a mim e a outros como “vasos de barro”, pelos quais derramou Sua presença. Não fazemos essa viagem sozinhos, e sim unidos uns aos outros.

Philiph Yancey, o Deus (in)visível.

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