Quando minha
identidade muda de dentro para fora, meus olhos se levantam para ver os que
precisam do amor e da misericórdia de Deus. Paulo reforça seu conselho aos
romanos de se transformarem “pela renovação da sua mente” com a primeira menção
completa à analogia do corpo de Cristo; depois apresenta uma série de ordens
abruptas, como: “compartilhem o que vocês têm com os santos em suas
necessidades” e “façam todo o possível para viver em paz com todos”. Em outras
cartas, pede aos leitores que alimentem os famintos, que demonstrem
hospitalidade aos ministros que viajam, que busquem com amor os incrédulos que
os cercam. Mentes renovadas expressam-se em relacionamentos com outros corpos.
“O caminho para a santidade”, disse Dag Hammarrskjöld, “passa necessariamente
pelo mundo da ação”.
Constantemente,
recordo-me de um homem que se aproximou de mim depois de uma palestra e disse,
bruscamente?
- Não foi você
que escreveu um livro intitulado Deus
sabe que sofremos? – quando respondi afirmativamente, ele continuou: - Bem,
não tenho tempo de ler o livro. Não daria para você resumir do que ele trata em
uma ou duas frases? (Os escritores adoram pedidos como esse, depois de passarem
meses escrevendo um livro.)
Pensei um
pouco e respondi:
- Bem, acho
que terei de responder com outra declaração: “A igreja sabe que sofremos”. Veja
– expliquei -, a igreja é a presença de Deus na terra, seu Corpo. Se a igreja
fizer sua tarefa, se aparecer na cena das tragédias, visitar os enfermos,
dirigir clínicas para aidéticos, aconselhar vítimas de estupro, alimentar os
famintos, agasalhar os sem-teto, acho que o mundo não fará a primeira
declaração com perplexidade. Ele saberá onde Deus está quando sofremos no corpo
que é o Seu povo, ministrando a um mundo decaído. Na verdade, a conscientização
da presença de Deus geralmente acontece em conseqüência da presença de outras
pessoas.
Durante muitos
anos, acompanhei um amigo que passou por um período muito difícil. Ele lutou
contra a depressão profunda e, nesta batalha, acabou se divorciando e perdendo
o emprego. Passou um período internado em uma clínica de recuperação e
sobreviveu a pelo menos três tentativas de suicídio. Encontrava-me com ele,
orava e passávamos longas horas ao telefone. Na maior parte do tempo, sentia-me
desamparado e inútil. As respostas que eu dava faziam pouca diferença e, depois
de algum tempo, cheguei à conclusão de que ele precisava de meu amor, e não de
meus conselhos. Simplesmente coloquei-me à sua disposição tanto quanto
possível.
Finalmente,
meu amigo encontrou a cura que o trouxe de volta à sanidade. Ele me disse:
“Você era Deus para mim. Não conseguia contato com Deus Pai, pois Ele parecia
distante e retraído. Mas continuei crendo em Deus por sua causa”. Queria
desenganá-lo, refutá-lo, pois sei quem sou e sei que estou distante de Deus. À
medida que o ouvia, porém, percebi o profundo significado da expressão “corpo
de Cristo” que Paulo usou. Seja qual for o motivo, Deus escolheu a mim e a
outros como “vasos de barro”, pelos quais derramou Sua presença. Não fazemos
essa viagem sozinhos, e sim unidos uns aos outros.
Philiph Yancey, o Deus (in)visível.
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