João escreve a
história de Jesus de maneira bastante diferente de seus companheiros canônicos
Mateus, Marcos e Lucas, que seguem outro plano. A abordagem de João apresenta a
mesma história, mas a mudança de tom e de ponto de vista nos envolve de maneira
distinta. O romancista John Updike observa que, se considerarmos Mateus, Marcos
e Lucas progressivamente sedimentares, João é metafórico – todas as camadas
intensamente combinadas em algo muito diferente.
A narrativa de
João é constituída principalmente das conversas de Jesus. No relato reescrito
que João apresenta da criação de Gênesis, a característica mais conspícua é que
Jesus fala. Ele é, afinal das contas,
o Verbo. Mas, ao contrário das frases curtas de Gênesis, as palavras de Jesus
fluem em diálogos e discursos. A oração inicial de João: “No princípio era o
Verbo” é detalhada nas conversas de Jesus com pessoas de todo o tipo vivendo em
quaisquer circunstâncias, conversas curtas e longas, incisivas e complexas, mas
todas conversas.
Essas
conversas se desenvolvem e se acumulam: conversas entre Jesus e Sua mãe, Jesus
e Seus discípulos, Jesus e Nicodemos, Jesus e a samaritana, Jesus e o
paralítico, Jesus e o cego, Jesus e os judeus, Jesus e Marta, Jesus e Maria,
Jesus e Caifás, Jesus e Pilatos e, sem nenhuma mudança de tom ou dicção, entre
Jesus e Deus, entre o Filho e o Pai. Em várias ocasiões, as conversas se
transformam em discursos, mas o tom dialogal é sempre preservado. Não se trata
de declamações para um “mundo” generalizado, mas de conversas pessoais. O
Senhor da linguagem usa a linguagem não para dominar, mas para formar
relacionamentos de Graça e Amor, criar comunidades e amadurecê-las em oração.
Eugene H. Perterson
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