domingo, 18 de agosto de 2013

Pra que cultuar heróis????

          Apesar de tudo, continuamos a sentir uma insaciável sede de integridade, uma fome constante de justiça. Quando não suportamos mais e ficamos demasiadamente incomodados com esses indivíduos artificiais e rasos que nos são diariamente impingidos como celebridades, alguns de nós voltam a atenção para as Escrituras a fim de satisfazer a necessidade de encontrar alguém que valha a pena observar. O que significa, afinal, ser um homem ou uma mulher real? Que forma a humanidade autêntica e madura assume em uma vida normal?

Quando, porém, nos voltamos para as Escrituras em busca de auxílio nesse assunto, é bem provável que fiquemos surpresos. Um dos primeiros fatos que nos assusta é a constatação de que, para nossa decepção, os homens e as mulheres bíblicos não foram os heróis que imaginamos. Não encontramos entre eles modelos impecáveis de virtude. Isso sempre assombra os inexperientes na Palavra de Deus. Abraão mentiu, Jacó enganou, Moisés assassinou e murmurou, Davi cometeu adultério e Pedro blasfemou.

Prosseguimos na leitura do texto bíblico e começamos a perceber sua verdadeira intenção: trata-se de uma estratégia consistente para demonstrar que as maiores e mais significativas figuras da fé foram moldadas no mesmo barro que nós. Descobrimos que as Escrituras poupam detalhes sobre as pessoas, porém, são pródigas nas informações que dão a respeito de Deus. A Bíblia recusa-se a alimentar nossa ânsia de cultuar heróis. Ela não se curva diante de nosso desejo adolescente de fazer parte de algum tipo de fã-clube. Creio que a razão disso é bastante clara. Por meio de fotografias, pequenas recordações, autógrafos e viagens de turismo, estabelecemos certa associação com alguém cuja vida – conforme imaginamos – é mais empolgante e interessante que a nossa. Assim, acrescentamos um pouco de diversão à nossa monótona existência ao seguir as pegadas de uma pessoa notável.

 A Palavra de Deus, no entanto, não participa desse jogo. Algo muito diferente acontece na vida de fé: nela cada um descobre todos os componentes de uma aventura original e única. Pelas Escrituras somos alertados acerca dos riscos de seguir as pegadas dos outros e chamados a uma incomparável associação com Cristo. A Bíblia deixa bem claro que cada história de fé é completamente original. O gênio criativo de Deus é inesgotável. Ele jamais, cansado de manter os rigores da criatividade, lançará mão do recurso de produzir cópias em massa. Cada vida é uma tela em branco sobre a qual Deus pinta todas as linhas e matizes de cores, sombras e luzes, diferentes texturas e proporções, todas nunca antes usadas por Ele.

Vemos na Santa Palavra que o que é possível: qualquer um pode viver uma vida singular, livre dos esteriotipados padrões estabelecidos por uma sociedade emaranhada no pecado. Uma vida assim funde espontaneidade e propósito, tingindo a paisagem desértica com o verde jovial de fé, participando do que Deus começa a fazer em cada vida, descobrindo o que Ele está realizando em cada evento. Os homens e as mulheres que encontramos nos relatos bíblicos são notáveis pela vida intensamente focada em Deus, pela forma como cada detalhe se submete ao que Deus lhes diz, e ao que Deus lhes faz. São as pessoas, em quem a consciência de participar do que Deus diz e faz é plena, as que mais se revelam humanas e cheias de vida. Essas pessoas são a prova de que nenhum de nós está obrigado a resignar-se diante desse viver medíocre, nem sequer por uma hora ou mais um dia.

Eugene H. Peterson. Ânimo. Ed. Mundo Cristão.

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