terça-feira, 27 de março de 2012

O relacionamento da cabeça com o corpo

Dentro da analogia deste livro, os relatos de Von Senden ilustram como o cérebro, isolado do mundo real em sua caixa de marfim, precisa interpretar a realidade a partir de indícios parciais, informados pelo resto do corpo. Quando uma condição como a cegueira limita essas informações, o corpo é afetado por inteiro.
De imediato admito que a analogia da percepção não pode ser levada muito longe. A mente ou a cabeça deste corpo – o próprio Deus na pessoa de Cristo – não depende das percepções obtidas por meio dos membros do Seu corpo nem é limitada a elas. O Seu conhecimento abrange tudo; Ele não precisa de nossas frágeis fibras para aumentar Sua sabedoria. Entretanto, em outro sentido, graças ao espantoso fato de Deus ter limitado a Si mesmo, a analogia da mente solitária se aplica.
Já vimos que Deus autolimita Sua atuação ao contar principalmente com falhos agentes humanos. Por caminhos além da nossa compreensão, Deus também escolheu fazer com que Sua presença na terra fosse dependente de nós, as mensagens enviadas pelos membros, ou células, de Seu corpo.
De todos os maravilhosos aspectos do corpo humano, não conheço nenhum que seja tão fantástico quanto o fato de todas as centenas de trilhões de células de meu corpo terem acesso ao cérebro. Muitas células, como as usadas na visão, têm conexão direta com os neurônios; outras têm canais imediatamente colocados à disposição quando precisam informar suas necessidades ou situação. E, no corpo de Cristo, não conheço nada tão fantástico quanto o fato de cada um de nós ter contato direto com Jesus, o Cabeça. Surpreendentemente, Ele ouve nossa voz, leva em consideração nossos pedidos e, quase literalmente, usa essas informações para influenciar o sentido de suas atitudes no mundo. “A oração de um justo é poderosa e eficaz”, (Tg5:16).
Por meio de nós, que atuamos como Suas mãos, ouvidos, olhos e neurônios, Deus permanece “em contato” com este mundo e com as pessoas que vivem nele. Suas ações levam em conta o que Lhe comunicamos. Há também uma “vantagem” para Deus, por assim dizer. Em diversas e formidáveis passagens, a Bíblia expressa a impressionante verdade de que Deus tem prazer em Sua Igreja: somos Seu “tesouro pessoal”, “um aroma agradável”, “presentes com os quais Ele Se alegra”. E por mais de trinta vezes no Novo Testamento nos lembra de que somos Seu corpo, unidos a Ele de forma tão íntima, que o que acontece a nós também acontece a Ele. Por mais impressionante que possa parecer, a conclusão é óbvia: Deus quer que sejamos Seus companheiros. Ele deseja receber mensagens de Seu corpo. Ele nos criou para que pudesse receber nosso amor.
A ação humana, como a oração, afeta o Paraíso. A conversão de um único pecador faz com que haja festa nos céus.
Logicamente, orar é o canal principal. A oração em si pode ser uma atividade de tempo integral. A Bíblia nos lembra com veemência que Deus ouve nossas orações. Por mais incrível que pareça, tem-se a impressão de que Deus sente falta do contato com os diferentes membros do corpo. A falta desse contato e a ausência da fé humana limitam o corpo espiritual, da mesma forma que a falta que de um sentido, como a visão, limita todo o corpo físico.
A intimidade ou canal aberto que agora temos com Deus remonta à conciliação ganha por Cristo para nós. Na encarnação, Ele assumiu o papel de célula, adentrando Sua própria criação. E ao longo de todo o Seu tempo na terra, Jesus sentiu a necessidade de Se retirar para entrar em comunhão com o Pai. Deus falando com Deus – o mistério da Trindade. Por Seu exemplo, o Filho de Deus nos mostrou como é imprescindível enviar um fluxo contínuo de mensagens para o Pai.

O corpo de Cristo tem uma clara vantagem sobre o corpo físico, pois naquele a Cabeça está totalmente acessível e receptiva a mais leve mensagem externa. A Cabeça do corpo de Cristo nunca precisa ser despertada ou instruída. Nenhuma carência de sabedoria ou de poder limita a ação de Deus no mundo. Em vez disso, a única limitação é a participação das células que são membros em relação à Cabeça. Todos os cristãos precisam apenas aprender a entregar a Deus cada emoção, cada atitude e cada experiência de suas vidas.
Davi é um exemplo de humano imperfeito, assassino e adúltero. No entanto, achou favor em Deus, a ponto de ser chamado “homem segundo o coração de Deus”. Ao ler os seus poemas posso perceber que mereceu essa denominação. Seus poemas contêm não apenas raiva e desespero, mas também alegria e louvor; desamparo e tristeza, mas também força e confiança; dor e vingança, mas também humildade e amor. Temperamentos claramente contraditórios se digladiam. Suas emoções são tumultuadas. Davi não escondia nada de Deus, fosse bom, fosse ruim. Creio que era isso o que Deus amava. A “célula” chamada Davi levava Deus a sério. Ele relatava diariamente, e às vezes a cada minuto, cada situação de sua vida e esperava que Deus lhe respondesse.

Yancey e dr Paul Brand, “À imagem e semelhança de Deus”,

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