domingo, 25 de março de 2012

O homem do céu

O ataque foi tão duro que minha única reação foi me encolher e fixar o pensamento em Jesus, tentando não pensar na dor. Por fim, perdi a consciência.
O incidente foi tão violento que só não morri por milagre. Mais tarde, as palavras do salmista me vieram à mente: “Não fosse o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, e nos teriam engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós; as águas nos teriam submergido, e sobre a nossa alma teria passado a torrente; águas impetuosas teriam pássaros sobre a nossa alma. Bendito o Senhor, que não nos deu por presa aos dentes deles. Salvou-se a nossa alma, como um pássaro do laço dos passarinheiros; quebrou-se o laço, e nós nos vimos livres. O nosso socorro está em o nome do Senhor, criador do céu e da terra”, (Sl 124:2-8).
Acordei numa cela no quartel general de Departamento de Segurança Pública da cidade de Zhengzhou. O Irmão Xu e outros líderes estavam comigo. Eu me encontrava coberto de lama das botas dos oficiais, minhas orelhas estavam inchadas por causa da surra, e eu não conseguia ouvir muito bem.
Ficamos sabendo que a ordem para nos prender viera do governo central de Pequim, que havia descoberto que planejávamos nos unir. As igrejas domésticas isoladamente já representavam um espinho na carne para o estado comunista ateu. Sendo assim, a perspectiva do que poderia acontecer se nos uníssemos gerou terror nos escalões mais altos do governo. A ordem de Pequim determinava que as autoridades da Província de Henan deveriam tratar nosso caso com extrema seriedade. Os governantes desconheciam que o Reino de Deus não é deste mundo e temiam que os debates sobre a unidade resultassem em um partido político de oposição que poderia ameaçar a estabilidade do país.
As autoridades filmaram e fotografaram nossa detenção. A notícia vazou da China para o resto do mundo.
Sofremos torturas horrendas. Fomos algemados e amarrados juntos, com cordas, e depois surrados com varas e cassetetes. Não ficaríamos surpresos se nos levassem e nos executassem sem nenhum aviso.
Em minha audiência no tribunal o juiz declarou:
- Yun, estou farto de você. Vem fazendo oposição ao governo e virando a sociedade de cabeça pra baixo há anos. Fugiu da prisão muitas vezes. Sua última façanha foi pular de uma janela e quebrar as pernas. Responda, Yun, se você tiver oportunidade, vai tentar fugir de novo?
Pensei um pouco e respondi com a verdade:
- É uma boa pergunta, senhor juiz. Não vou mentir. Se eu tiver oportunidade, vou tentar fugir. Fui chamado para pregar as boas novas por toda a China, e tenho de fazer tudo o que for possível para obedecer ao chamado que Deus colocou em minha vida.
Minha resposta enfureceu a todos: juiz, guardas e oficiais do tribunal. O juiz falou com rispidez:
- Que ousadia falar isso, seu delinqüente! Vou quebrar suas pernas definitivamente, e você nunca mais vai conseguir fugir!
Fui levado a uma sala de interrogarório, onde vários guardas me forçaram a sentar no chão, com as pernas separadas. Implorei que não batessem em minhas pernas fraturadas, mas um homem de aparência sinistra endureceu o coração e pegou o cassetete. Para garantir que eu nunca conseguiria fugir, golpeou minhas pernas repetidas vezes, entre os joelhos e os tornozelos. Dilacerou-as até que eu não suportei mais a dor. Desabei ali no chão, gritando como um animal ferido. A dor excruciante percorria todo o meu corpo e também a mente. Tudo que eu podia fazer era tentar focalizar o pensamento no Senhor Jesus e em Seu sofrimento na cruz.
Tive certeza de que iria morrer, mas Deus me sustentou porque ainda não havia concluído a obra em mim. Minhas pernas ficaram completamente pretas do joelho pra baixo, e perdi a sensibilidade nelas. Meu corpo todo doía e havia hematomas da cabeça aos pés.

Yun foi libertado por uma ação direta do Senhor, no tempo perfeito de Deus, depois de cumprir apenas 7meses e 7dias da sentença de 7anos. Agora estávamos no aeroporto, aguardando sua chegada. Será que viria doente, cansado e abatido, depois de uma provação terrível?
De repente, Yun apareceu no portão de desembarque, muito diferente do que prevíamos. O rosto brilhava, e o sorriso ia de uma orelha a outra.
“Louvado seja Deus! Aleluia!” foram suas primeiras palavras. “Glória a Deus!”
Nós nos demos as mãos e curvamos a cabeça em oração de gratidão. Enquanto isso os demais passageiros passavam por nós apressadamente, rumo aos balcões do aeroporto, olhando-nos espantados.
O Irmão Yun é conhecido em toda a China como o “Homem do Céu”, por causa de um incidente ocorrido em 1984, quando se recusou a revelar às autoridades sua verdadeira identidade para não colocar em perigo outros cristãos. Diante das ameaças e da violência do Departamento de Segurança Pública, em vez de dizer seu nome e endereço, ele gritava:
“Sou um homem do céu! Meu lar é o céu!”
Os crentes, que ainda estavam reunidos em uma casa próxima, ouviram os gritos e perceberam que era um aviso. Fugiram e, por isso, escaparam da prisão.
Em sinal de respeito a coragem e ao amor de Yun pelo corpo de Cristo, os crentes da igreja doméstica da China o chama até hoje de “Homem do Céu”.
Yun é o primeiro a reconhecer que há muita coisa nele que não tem nada de celestial! Como todos nós, enfrenta tentações e fraquezas, mas ele sabe que, sem a Graça de Jesus, não tem nenhum valor. Uma vez, ele disse a Deling, sua esposa:
“Não somos absolutamente nada. Não temos nada de que nos orgulhar. Não possuímos habilidades nem coisa alguma a oferecer a Deus. O fato de Ele decidir nos usar decorre unicamente de Sua Graça. Não é mérito nosso. Não poderíamos nem pensar em nos queixar se Ele resolvesse levantar outras pessoas para cumprir Seus propósitos, sem nunca mais nos usar”.
Oswald Chambers escreveu: “Se você der a Deus o direito de controlar sua vida, Ele fará de você um experimento santo. E os experimentos d’Ele sempre dão certo”. Com toda certeza isso se aplica ao Irmão Yun. Desde que se encontrou com Jesus Cristo, ele vem se empenhando em servi-Lo de todo o coração. Conhecer suas experiências e aprendizado pode servir de encorajamento para cristãos – de qualquer parte do mundo – que estejam empenhados em seguir o Senhor Jesus.
O testemunho do irmão Yun reflete a fidelidade e a bondade de Deus. Mostra que o Senhor pegou um garoto faminto de uma vila pobre da Província de Henan, na China, e o usou para abalar o mundo. E em vez de se fixar nos muitos milagres ou nos sofrimentos que presenciou e experimentou, Yun prefere contemplar o caráter e a beleza de Jesus Cristo. Deseja que todo o mundo conheça Jesus como ele conhece, não como uma figura histórica e distante, mas como o Deus Todo-Poderoso, capaz de todas as coisas, sempre presente, cheio de amor.
Alguém disse: “Não são os grandes homens que transforma o mundo, mas sim os fracos, nas mãos de um Grande Deus”.
Quem conhece o Irmão Yun sabe que ele é um servo humilde de Deus, que não deseja que nada em sua vida traga glória para si mesmo nem para qualquer outro homem.
O Irmão Yun deseja que sua história conduza toda atenção e toda glória para o Único Homem do Céu – o Senhor Jesus Cristo.



Irmão Yun

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