segunda-feira, 6 de abril de 2009

Cooperando com Deus


Seguir a Deus significa dar duro. Seu Amor e bênçãos podem ser fáceis de receber, mas quando a obediência que lhe é devida exige algo contrário a nossa natureza humana, o conflito se estabelece e haverá de testar nosso comprometimento. O Senhor quer Sua Santidade enraizada em nós e pode usar esses testes de vontade para nos tornar semelhantes a Ele.


Corrie tem Boom relata um teste decisivo para sua disposição de deixar o Senhor Amar alguém por seu intermédio a quem tinha todos os motivos do mundo para odiar. Aconteceu ao falar sobre o perdão de Deus para uma igreja lotada em Munique, Alemanha, em 1947. Corrie e a irmã, Betsie, pouco anos antes, haviam sido prisioneiras no campo de concentração de Ravensbrück por ocultarem judeus em sua casa durante a ocupação nazista da Holanda. Corrie vira a irmã padecer de morte lenta e dolorosa no campo.


Agora, enquanto observava as pessoas formarem fila para deixar a igreja, todas muito sérias depois da mensagem desafiadora, Corrie se viu provada até o limite. Divisou no meio da multidão um homem usando chapéu e sobretudo bastante comuns. Ainda assim, num instante lembrou-se do mesmo rosto emoldurado por um quepe com o símbolo da caveira e dos ossos cruzados e por um uniforme azul – a vestimenta dos guardas nazistas. De repente, foi como se voltasse ao enorme salão de Ravensbrück, onde ela, a irmã e os demais prisioneiros foram obrigados a desfilarem nus diante daquele mesmo par de olhos. Embora o homem não demonstrasse tê-la reconhecido, ela não tinha dúvidas quanto a sua identidade.


Ele se aproximou para cumprimentá-la pela mensagem e expressou seu alívio por saber que os pecados que cometera, nas palavras dela, estavam agora no fundo do mar. Em vez de tomar a mão que ele lhe estendia, Corrie remexeu nervosa na bolsa. Era a primeira vez que deparava com um de seus algozes. O homem prosseguiu, explicando que trabalhara em Ravensbrück, o campo que ela mencionara no sermão. E revelou que se tornara crente em Jesus Cristo depois da guerra. Aceitara o perdão de Deus mas se perguntava se poderia ter também o dela, Corrie. E de novo lhe estendeu a mão.


Ela ficou petrificada. Lembranças da morte agonizante de Betsie atravessaram-lhe a mente. Um simples aperto de mão apagaria o que acontecera? Todavia, precisava fazê-lo. Junto às imagens de Betsie vieram-lhe as Palavras de Jesus: “Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdarem uns aos outros, o pai celestial não lhes perdoará as ofensas”, (Mt6.14,15). Corrie sabia que o perdão não era apenas uma exigência do Senhor, mas o único meio de reconstrução da vida após uma tragédia. Quem abrigava amargura contra os nazistas havia se tornado prisioneiro do próprio ódio e estava sendo consumido por ele. Sabia também que o perdão é assunto mais da vontade do que do coração. Podemos não sentir vontade de perdoar, mas podemos tomar a decisão de fazê-lo mesmo assim e confiar que Deus proverá os sentimentos com o tempo.


Afinal, estendeu a mão e orou pedindo ajuda. Quando ele a tomou, Corrie experimentou um estranho calor percorrendo o braço até enchê-la. Piscando muito para conter as lágrimas, proferiu palavras sinceras de perdão enquanto o amor de Deus tomava conta dela com maior intensidade do que nunca. Esse amor não só completou o que lhe faltava como também a saciou de modo mais gracioso do que ela poderia imaginar.


Brenda Quinn. Adaptado de “A Bíblia, minha companheira”, ed. Vida.

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