Os Salmos são a
escola para as pessoas aprenderem a orar. Basicamente, a oração é nossa
resposta ao Deus que fala conosco. A Palavra de Deus sempre tem a primazia. Ele
sempre fala primeiro. Nós respondemos. Vivemos num mundo ao qual Deus fala.
Devemos aprender a responder, de verdade – não apenas dizer “Sim, Senhor’,
“Não, Senhor” – com todo nosso ser. Somos muito pouco desenvolvidos nesse mundo
ao qual Deus fala. Aprendemos bem como falar com nossos pais, passar nos exames
em nossas escolas e conferir o troco na loja, mas e falar com Deus? Vamos nos
contentar com tentativas e erros? Vamos nos satisfazer com o que ouvimos nas
ruas? Israel e a Igreja colocam os Salmos em nossas mãos e dizem: “Aqui, esse é
o nosso texto. Pratique essas orações e aprenderá toda a vastidão e
profundidade de nossa vida em resposta a Deus.
Durante mil e
oitocentos anos, quase toda a igreja usou esse texto. Somente nos últimos
duzentos anos é que ele foi descartado para dar lugar aos livros devocionais da
moda, estimulantes psicológicos, e caminhadas numa praia à luz da lua.
Os Salmos, é
claro, não são “devocionais”, “psicológicos”, ou “românticos”. Não valem nada
para nós nessas áreas. Sua utilidade está num elemento askesis, uma forma para nossa situação amorfa.
Não falta em
nós impulso para orar e fazer pedidos. Constantemente, desejos e exigências nos
lembram de orar. Então, por que existem tantas vidas sem oração? Simplesmente
porque “o poço é fundo, e você não tem nada para pegar a água”. Precisamos de
um vaso. Precisamos de algo para colocar a água. Desejos e exigências são uma
peneira. Precisamos de um vaso adequado para fazer descer desejos e exigências
até o fundo do Poço de Jacó da Presença e da Palavra de Deus, e trazê-los de
volta à superfície. Os Salmos são esse vaso. Eles não são a oração em si, mas o
vaso mais adequado para a oração que já foi criado. Recusar-se a usar esse vaso
de salmos, depois de compreender sua função, é errar de propósito. Não é
possível fazer um vaso de outro formato e material que o substitua. Certamente
já houve várias tentativas. Mas por que nos contentarmos com isso, quando temos
esse vaso maravilhosamente criado e amplamente dimensionado que ganhamos e
temos à mão?
Eugene Peterson. A vocação espiritual do pastor.
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