sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O pecado do desespero

Se a fé, para ser viva, depende da esperança, então o pecado da descrença evidentemente é sustentado pela desesperança. Geralmente, diz-se que o pecado tem origem no fato de o ser humano querer ser como Deus. Mas isso é apenas um aspecto do pecado. O outro aspecto dessa soberba é a falta de esperança, a resignação, a indolência e a tristeza. Dela provêm o abatimento e a frustração que contaminam tudo o que é vivo com os germes de um doce apodrecimento. No Apocalipse de João, (21:8), citam-se entre os pecadores, cujo futuro é a morte eterna “os desalentados” antes dos descrentes, dos idólatras, dos homicidas e de outros. Na Carta aos Hebreus, a apostasia da esperança viva, manifestada como desobediência à promessa em meio à opressão e como separação do povo de Deus em peregrinação, é o pecado que ameaça os cristãos em seu caminho. Nesse caso, a tentação não consiste tanto em querer ser, à maneira dos titãs, como Deus, mas na fraqueza, no desânimo, no cansaço de não querer ser o que Deus pensa que podemos ser.

Deus elevou o ser humano e concedeu-lhe perspectivas de liberdade e amplidão, mas o ser humano fica pra trás e se recusa a acolher a perspectiva. Deus promete uma nova criação de todas as coisas em justiça e paz, mas o ser humano faz e age como se tudo permanecesse como sempre foi. Deus o faz digno de Suas promessas, mas o ser humano não confia naquilo que lhe é proposto. Este é o pecado que mais profundamente ameaça o crente. Não o mal que ele faz, mas o bem que deixa de fazer; não são as suas más ações que o acusam, mas as suas omissões. Elas o acusam de falta de esperança; pois os assim chamados pedados de omissão se fundamentam todos na desesperança e na pouca fé.


A desesperança pode tomar duas formas: ela pode ser presunção, mas pode transformar-se também em desespero. Ambas são formas do pecado contra a esperança. A presunção é uma antecipação inoportuna, arbitrária, do cumprimento daquilo que se espera de Deus; o desespero é a antecipação inoportuna, arbitrária, do não cumprimento do que se espera de Deus. Ambas as formas destroem o caráter do peregrino.


Jürgen Moltmann, “Teologia da Esperança, ed. Loyola.

2 comentários:

Miguel Junior disse...

Sendo frágeis como somos, mas firmes nas Promessas que não falham, que mal poderá nos derrotar?... Se já fomos Salvos para a Eternidade, que sentimentos além de tristeza, desânimo e desnorteamento passageiros, poderemos sofrer?... Nossa Fé é a Esperança d'Ele e n'Ele... de que, por suas Misericórdias, Graça e Amor, firmados na Aliança em Seu Sangue, alcançaremos o que nos foi prometido!...Graças a Cristo Jesus!...eternamente...!
Miguel junior

Anônimo disse...

Denise, gostaria muito de conversar com você, trocando uma idéia sobre Kierkegaard! Como eu poderia fazê-lo?
Não achei seu email nem facebook na internet. O meu nome é Felipe, meu email é felipespack@yahoo.com.br, meu face é Felipe Spack. Obrigado, abraço