quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Pastor: líder e terapeuta

Tenho observado nestes últimos anos duas grandes mudanças culturais que atingiram em cheio o coração da vocação e do ministério pastoral. Estas mudanças são de natureza semântica e trazem desdobramentos, nem sempre percebidos, que afetam grandemente os pastores e, por conseqüência a igreja. São duas palavras que foram recentemente incorporadas na descrição da vocação pastoral: líder e terapeuta.
Fala-se cada vez menos em formação pastoral e mais em formação de líderes. Curiosamente, “líder” não é uma palavra que aparece na Bíblia para descrever aquele que serve a Deus em Sua igreja. Também na aparece na longa história de vinte séculos de vocação pastoral... trata-se de uma expressão relativamente nova...
A expressão “pastor” ou “sacerdote” é teológica e biblicamente mais bem definida. Embora suas imagens sejam emprestadas da vida rural ou dos ritos pagãos, ajustam-se ao propósito bíblico do chamado divino. A expressão “líder”, porém, tem sua definição claramente determinada pelo mercado e pelo contexto secular...
Os líderes estão mais ocupados e preocupados com estruturas eclesiásticas, crescimento estatístico, ferramentas tecnológicas, funcionalidade. São realidades que não podemos negar, mas que não se constituem na vocação. Como pai e marido, tenho responsabilidades, contas para pagar, consertos domésticos para fazer, poupança para comprar uma casa própria, mas não é isto que define minha vocação de pai, um lar, uma família. O que define um lar é a comunhão e a amizade, o crescimento e o amadurecimento pessoal, espiritual. Moral e afetivo, a hospitalidade, o perdão, a Graça de Deus. É isto que o apóstolo Paulo quer dizer quando afirma em sua carta aos Gálatas: “...meus filhos, por quem, de novo sofro as dores do parto, até ser Cristo formado em vós”. Para ele, o que mais importava não era a funcionalidade de seu ministério, o sucesso de sua carreira, a eficiência de seu apostolado, mas Cristo, a imagem de Cristo sendo refletida na vida de seus filhos e filhas na fé.
Nossas igrejas hoje refletem mais as estruturas eficientes do mercado e menos a glória da imagem de Deus em Cristo. No entanto, as ovelhas de Jesus clamam cada vez mais por pastores, pastores com tempo e compaixão para ouvir o clamor de suas almas cansadas, aflitas, confusas em busca de orientação, maturidade, transformação.
A outra mudança na vocação pastoral é a introdução da figura do terapeuta, que ganhou popularidade na segunda metade do séc. XX, depois que Freud a introduziu no final do séc. XIX... O que precisa ficar claro é que pastor e psicólogo são realidades completamente diferentes.
Quando alguém vai até o pastor, não está procurando um psicólogo, mas um pastor. É grande a frustração quando, em vez de conduzir a ovelhas de Cristo no caminho da comunhão e reconciliação, o pastor envereda por conversas, perguntas e preocupações que nenhuma relação têm com a oração, com Deus e com a vida outorgada por ele.

Ricardo Barbosa de Souza

Nenhum comentário: