sábado, 28 de janeiro de 2012

O poder do amor e o amor ao poder

Durante toda a história cristã, o amor e o poder coexistem em conflito. Por esta razão, preocupo-me com o crescimento do poder no movimento evangélico. Houve tempo em que ou nos ignoravam ou zombavam de nós. Hoje, os evangélicos são mencionados frequentemente nas notícias e são bajulados por todos os políticos sensatos. Vários movimentos políticos surgiram com características claramente evangélicas. Considero esta tendência ao mesmo tempo encorajadora e alarmente. E por que alarmante? Apesar dos méritos de determinada questão – quer se discuta a legalização do aborto ou a preservação ambiental -, os movimentos políticos trazem o risco de colocar sobre si a capa do poder que asfixia o amor. Um movimento, por sua natureza, estabelece barreiras, faz distinções, julga. O amor, pelo contrário: derruba barreiras, supera distinções e concede a Graça.
...
As palavras de Paulo continuam a me perseguir:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria”.
De alguma forma, precisamos encarar o poder com humildade, temor e amor ardente por aqueles que estarão sob nossa autoridade...
Jesus não disse que todos saberiam que somos Seus discípulos se aprovássemos leis justas, dominássemos a moralidade, restaurássemos a decência familiar e governássemos com integridade. O que Ele disse é que saberiam que somos discípulos d’Ele se nos amássemos uns aos outros...
Acredito que Deus Se contém por um motivo: Ele sabe da limitação inerente a qualquer forma de poder. A força pode fazer tudo, exceto o mais importante: não pode suscitar o amor. Em um campo de concentração, como tantos testemunharam de formas tocantes, os guardas têm amplos poderes e autoridade para forçar qualquer atitude dos presos. Podem fazer com que a pessoa renuncie a seu Deus, amaldiçoe sua família, trabalhe de graça, coma excrementos humanos, mate e enterre o amigo mais chegado ou até mesmo o próprio filho. Tudo isso está no controle dos guardas. Só uma coisa escapa: o amor. Eles não podem forçar a pessoa a amá-los.
O amor não funciona de acordo com as regras do poder, e jamais poderá ser forçado. Neste fato podemos perceber o fio da razão por trás do uso (ou não) que Deus faz do poder. A Ele só interessa uma coisa de nossa parte: nosso amor. Foi para isto que nos criou. E não há demonstração de onipotência, por mais grandiosa que seja, que consiga fazer nascer o amor. O único modo foi se esvaziar completamente e se unir a nós, morrendo em nosso lugar. A partir daquele momento, passou a existir o amor.
Qualquer criança que freqüente uma Escola Bíblica sabe recitar a teologia mais profunda: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu único Filho”. E quando chegamos ao âmago de tudo, percebemos que isto é o evangelho cristão, uma demonstração não de poder, mas de amor.
Philip Yancey. Perguntas que precisam de respostas. Ed. Textus.

Nenhum comentário: