Do modo
semelhante, a comunidade cristã recebeu de Deus uma peça inacabada. O 1º ato, a
criação, ensina-nos que fomos todos criados, igualmente, para carregar a imagem
de Deus, que somos responsáveis pelo cuidado com os outros e com o cosmo. O 2º
ato, a queda, capacita-nos a entender a imperfeição e a destruição do mundo. O 3º
e o 5º atos apresentam-nos, respectivamente, a história de Israel e a dos
primeiros cristãos, mostrando exemplos tanto da desobediência quanto da
confiança e demonstrando as consequência de sermos rebeldes e as de sermos
fiéis. O 4º ato apresenta o relato da vida, sofrimento, morte, ressurreição e
ascensão de Jesus, como ponto culminante de todas as promessas feitas por Deus a
Israel no 3º ato e como fundamento para todo o trabalho do Espírito Santo
através dos santos no 5º ato. Esses cinco atos estão completos, mas há o 6º e
só temos um pedaço do final do drama (o 7º ato) no livro de apocalipse. Tudo que
sabemos do grande desfecho da história do mundo, quando Cristo voltará para
destruir o mal e a morte para sempre é apenas um esboço destinado a
encorajar-nos para enfrentar as lutas e os sofrimentos do presente.
E como
aplicamos as Escrituras? Aprofundamo-nos nos cinco primeiros atos e na parte do
último para termos, dedicando-nos a todos os textos que nos foram transmitidos
como a grandiosa história bíblica de Deus e de Seu povo. Somos moldados para
ter o caráter do povo de Deus, para imitar as virtudes e os feitos do próprio
Deus pelos mandamentos, discursos, narrativas, poesias, admoestações, promessas
e músicas de toda a Revelação. No mundo inteiro os cristãos estão improvisando
uma parte da história bíblica, de forma diversa em cada lugar, em face das
diferenças de audiência e de circunstâncias. E temos uma grande vantagem sobre
os atores shakespearianos, pois enquanto improvisamos o 6º ato e tentamos
fazê-lo de acordo com o resto da história, podemos, a cada passo, fazer uma
avaliação com o autor, porquanto Ele continua vivo!!
Eugene
Peterson. O pastor desnecessário. Ed Textus