Quem abre demais as pernas não pode andar direito, assim
como aquele que deseja abraçar o mundo com as pernas.
Quem se interpõe na luz não pode luzir, pois só projeta
sombra.
Quem reivindica valor a si mesmo não é valorizado por
ninguém.
Quem se julga importante acaba por não merecer importância.
Quem se louva a si mesmo não é grande, mas muito, muito
pequeno.
Tais atitudes são detestáveis no Reino de Deus. Jesus disse
que são abominação aos poderes celestes.
Quem tem consciência da sua dignidade — que é ser veículo do
amor de Deus—, se abstém de tais atitudes e atos, pois sabe que eles não
combinam com os céus.
O caminho para diminuir alguém, começa por primeiro
engrandecê-lo. Por isto, os que querem abater alguém, primeiro bajulam-no e
fortalecem-no.
Os maus sabem que para fazer cair alguém, deve-se primeiro
exaltá-lo.
Os de bom coração, todavia, sabem que para receber algo
deve-se primeiro dá-lo.
Tudo o que é bom nesta vida deve antes ser amadurecido pelo
tempo e pelo amor.
O homem fraco-flexível é mais forte que o forte e rígido e
que arrogantemente anda conforme sua própria força.
Também fique sabendo o seguinte:
Quem vive nas profundezas do seu ser nem pensa em
“virtuosidade”, pois dele brotam espontaneamente as íntimas forças da vida.
Quem vive na superfície do existir não pode fazer brotar as
forças profundas de dentro de seu ser.
Quem vive nos abismos angustiados da sua alma acaba por
ignorar a bondade no seu agir.
Quem vive na superfície da sua alma age egoisticamente,
visando fins externos.
O amor impele ao agir, mas não quer nada para si.
O direito impele ao agir e, se não consegue o que quer,
recorre à violência.
Por esta razão reconheça que quem não tem visão do Deus age
por virtuosidade pessoal. Mas quem conhece a Deus não tem virtuosidade própria,
por isso age pelo amor e pela misericórdia.
Quem nem disto é capaz obedece a ritos e tradições!
Mas a dependência de ritualismos é o menor grau da
consciência. É mesmo o início da decadência.
Quem julga poder substituir pela inteligência a cultura do
coração, se torna idiota, duro e insensato.
Sendo assim, fica sabendo que o homem de Deus age por uma
lei interna, e não por mandamentos externos.
Beba as águas da fonte, e não dos canais secundários.
Sim, essa pessoa vai sempre à origem das coisas, e não se
satisfaz com as águas trazidas por canais artificiais.
Não há um versículo bíblico no que está dito, mas alguém
pode negar que esse seja o espírito do Evangelho?
Quem pratica esse espírito em seu agir, ver e interpretar,
esse encontra paz, e cada vez mergulha mais profundamente no conhecimento de
Deus.
O Evangelho só realiza o seu benefício quando ele deixa de
ser doutrina, e se torna espírito e vida.
O justo vive por esta fé!
Caio Fábio – 2004