Agora, o bem mais apropriado à criatura é a entrega ao Seu Criador – entregar-se intelectual e emocionalmente, aquele relacionamento que se dá pelo simples fato de ser criatura. Sempre que age assim, o homem fica feliz. Para não considerarmos um sofrimento desnecessário, esse tipo de bondade começa em um nível muito acima das criaturas, pois Deus mesmo, como Filho, entrega-se de volta a Deus, como pai de toda a eternidade, por obediência filial, o ser que o Pai, pelo amor paternal, gera eternamente no Filho.
Foi este o padrão para o qual o homem foi feito, aquele que deve imitar – que o homem paradisíaco imitou realmente. E sempre que a vontade conferida pelo Criador é assim tão perfeitamente ofertada de volta, em obediência prazerosa e agradável à criatura, aí, sem dúvida, está o Céu, e daí emana o Espírito Santo.
No mundo que conhecemos hoje, o problema está em como recuperar essa auto-entrega. Não somos simplesmente criaturas imperfeitas, carentes de ser aperfeiçoadas: somos, como Newton disse, rebeldes que precisam mesmo é entregar as suas armas.
Portanto, a primeira resposta à questão por que a nossa cura precisa ser tão dolorosa é o fato de que a entrega da vontade que nós passamos tanto tempo reivindicando como sendo a nossa própria já é, em si mesma, não importa onde e como seja realizada, um sofrimento mortificante.
A entrega da vontade própria, inflada e inchada por anos de usurpação, representa uma espécie de morte.
C.S. Lewis. O problema do sofrimento